Serra
transforma Itamaraty em bunker golpista
Jeferson
Miola, em sua página página no Facebook
A
maioria dos funcionários do Itamaraty, em todos os escalões da carreira – do
cargo de Terceiro-secretário ao de Embaixador de 1ª Classe – é educada segundo
a tradição que entende que o Ministério das Relações Exteriores é um órgão de
Estado, não de governo.
De
acordo com essa tradição, o Itamaraty seria uma instituição imune às injunções
políticas do governo de turno, porque seria um órgão permanente e regular de
representação e de defesa dos interesses do Estado brasileiro no exterior.
Essa
distopia institucional ajuda entender a lógica do ex-chanceler da Presidente
Dilma, que fez a transmissão de cargo ao chanceler usurpador José Serra. Mauro
Vieira foi o único ex-ministro do governo legítimo, em toda Esplanada dos
Ministérios, que transmitiu o cargo ao sucessor ilegítimo nomeado pelo
presidente usurpador Michel Temer.
O
cargo de Ministro não pertencia ao embaixador, e sim à Presidente eleita por
54.501.318 votos para dirigir o Brasil no plano doméstico e no intercâmbio
mundial. Por isso, o ex-chanceler não poderia dispor do cargo [que não lhe
pertencia] como dispôs, sobretudo no contexto de ruptura constitucional com a
farsa do impeachment.
É
notório que o Itamaraty desempenha função essencial de Estado na relação com
Estados estrangeiros e na execução da política externa. Essa essencialidade,
todavia, não é superior e, menos ainda, mais relevante que a essencialidade de
outras atribuições permanentes de Estado como a Justiça, Fazenda, Planejamento,
Saúde, Educação, Cultura, Igualdade Social e outros ministérios que respondem
por responsabilidades essenciais de Estado e de governo.
Instalado
no comando do Itamaraty, o chanceler usurpador José Serra passou a dirigir a
instituição com punho de aço. A obediência instantânea da diplomacia às medidas
truculentas de desmonte da política externa confronta a ilusão de independência
e autonomia do Itamaraty em relação aos governos instalados – sejam eles
legítimos ou ilegítimos.
Logo
nos primeiros dias, Serra distribuiu circular a todos os postos diplomáticos do
Brasil no exterior com instruções para a defesa do golpe, e foi prontamente
atendido pela diplomacia.
O
representante do Brasil em Washington, outro ex-chanceler do governo legítimo
da Presidente Dilma [embaixador Luiz Alberto Figueiredo], foi mais realista que
o rei, e remeteu uma carta patética aos congressistas dos EUA para defender o
golpe – acabou ridicularizado e desacreditado.
Desde
o primeiro instante no cargo, Serra abriu uma guerra ideológica sem trégua
contra a Venezuela. Ele opera os interesses dos EUA para a região: sabota o
MERCOSUL e a integração regional e isola a potência petroleira do Caribe.
O
governo golpista do Brasil patifa as regras do Mercosul e viola o direito internacional para impedir
a Venezuela assumir a presidência pro tempore do bloco. Tal como fazem no
Brasil, agem politicamente para aplicar um golpe também no MERCOSUL.
Alegam
que a Venezuela, efetivada como membro pleno do MERCOSUL em 2012, ainda não
incorporou ao seu ordenamento jurídico interno centenas de normas comunitárias.
Mas esta também é a realidade dos demais países, que tampouco incorporaram
todas as normas comunitárias, apesar de integrarem o MERCOSUL desde sua fundação,
há 25 anos.
Na
falta de fundamento jurídico no ataque à Venezuela, Serra partiu então para a
tentativa de comprar o apoio do Uruguai à iniciativa golpista no bloco,
proposta que foi denunciada e rechaçada pelo governo da Frente Ampla – outro
vexame sem precedentes na diplomacia brasileira.
Os
antecedentes históricos desfavorecem os ingênuos que acreditam que o Itamaraty
é uma instituição só de Estado, e não de governo. Durante a ditadura
civil-militar instalada com o golpe de 1964, o Itamaraty foi uma correia de
transmissão do regime. A conexão da diplomacia com a Operação Condor é, de
longe, a evidência macabra de que a diplomacia de terror no Cone Sul obedeceu a
políticas de governos, e não a valores e princípios de Estado.
Na
bonita obra O punho e a renda, o embaixador Edgard Telles Ribeiro navega entre
a historiografia e a ficção para ilustrar, na figura do personagem-diplomata
Max, como funcionou a engrenagem da diplomacia de terror que conectava os
trogloditas de Brasília, Santiago do Chile, Montevidéu, Assunção e Buenos
Aires. Tudo sob a coordenação e supervisão norte-americana.
Serra
transforma o Itamaraty num bunker golpista. Se o corpo diplomático não se
insurgir contra essa realidade, pouco estará fazendo para evitar que a história
registre que o Itamaraty se associou ao golpe de Estado de 2016.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/jeferson-miola-serra-transforma-itamaraty-em-bunker-golpista-o-corpo-diplomatico-vai-servir-de-correia-de-transmissao-como-no-golpe-de-1964.html
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