segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A MALDIÇÃO DO ATALHO. Por Fernando Brito

Mais desculpável nos muito jovens do que nos velhos – pois a escassa idade reúne desejo e  ímpeto enquanto a aventura na maturidade em geral só é regida pela ambição – a tentação do atalho carrega em si uma maldição.

Temer, ao que parece, caiu nela.

Os vapores da ambição e da vaidade já não deixam que perceba que é um instrumento, não o protagonista.

O negado – e por isso, no caso dele, confirmado – desejo de ser candidato à reeleição, em 2018, o transforma em vidraça para seus próprios cúmplices.

Ou será que é possível crer que os tucanos aposentaram suas ambições de retornar às glórias palacianas e hão de contentar-se em ser representados por José Serra em sua condição de macaco na loja de louças diplomáticas?

Acha que que a ingenuidade – real ou fingida – vai persistir eternamente aceitando a estratégia de fazer vazar o mal em quantidades maiores para que ele surja como o mitigador do desastre, sem que isso abra fissuras na base política que o sustenta e que os parlamentares – que ao contrário dele, precisam de voto – vão sacudir bandeirinhas saudando a imposição de mais anos de trabalho aos eleitores?

Temer pegou um atalho – o do golpe, o da perfídia, o da traição – para o poder que ele jamais atingiu senão como caudatário.

Acha que é o mais esperto na turma de espertos que o colocou lá.

Foi fabricado pela mídia e por uma simplificação que faz da corrupção – nojenta, asquerosa – o mal dos males, fonte da pobreza, do atraso, da carência. É produto deles, porque segue a mesma lógica de tudo no Brasil: a apropriação por poucos daquilo que é de todos.

Quem dirá que uma ordem social iníqua e uma ordem econômica – interna e externa – não é a corrupção egoísta das relações humanas?

O presidente interino deixou – quase uma imposição de sua natureza abjeta – de compreender que a pouca legitimidade sem voto que poderia ter seria da assunção de sua transitoriedade. Quer que o que lhe veio pelo crime político se transforme em virtude.

É a encarnação do que negava Ulysses Guimarães: é velho e é velhaco.

E velhacos dependem de que os outros sejam tolos, e tolos por todo o tempo.

http://www.tijolaco.com.br/blog/maldicao-do-atalho/


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