Reunidos
no trigésimo-quatro congresso da LASA (a sigla em inglês para Associação de
Pesquisadores e Estudiosos da América Latina e Caribe), intelectuais condenaram
o processo de impeachment que afastou Dilma Rousseff da presidência da República.
O sociológo Adalberto Cardoso, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira e a
historiadora Helcimara de Souza Telles afirmaram que a ruptura política no
Brasil pode ser estendida para outros países da região.
“A
indignação dos intelectuais nos EUA e na América Latina com o que aconteceu no
Brasil é enorme. As consequências são gravíssimas, foi uma violência contra a
democracia e também contra os avanços sociais no país", afirmou
Bresser-Pereira, ressaltando que, com o objetivo de combater a crise fiscal na
Brasil, o que se pretende é o "desmantelamento do Estado de Bem-Estar
social brasileiro, criado a duras penas".
Antes
da realização do congresso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cancelou
sua participação no evento devido aos protestos de intelectuais, que afirmaram
que FHC e o PSDB "não hesitaram em colocar em perigo a paz interna nem
mecanismos básicos como a Constituição".
Jornal
GGN
Leia mais
abaixo, no relato de Eduardo Graça publicado pela Carta Capital.
Da Carta
Capital
Congresso
da LASA expõe indignação de intelectuais com impeachment
Manifestações
contrárias ao ex-presidente FHC e ao interino Michel Temer marcaram edição que
discutiu possível ruptura política na América Latina
por
Eduardo Graça, De Nova York
Golpe
jurídico-parlamentar. Luta de classes às avessas. Déficit humanitário em
relação ao mundo real.
Os
cerca de 200 pesquisadores reunidos em Manhattan no trigésimo-quatro congresso
da LASA (a sigla em inglês para a Associação de Pesquisadores e Estudiosos da
América Latina e Caribe, a mais importante organização do gênero), que termina
nesta terça-feira 31, condenaram o processo deimpeachment da presidenta Dilma
Rousseff e, aplaudiram, preocupados, o sociológico Adalberto Cardoso, diretor
do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (IESP-UERJ), o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Perira, da FGV, e a
historiadora e cientista política Helcimara de Souza Telles (UFMG) afirmarem
que a ruptura política e social no Brasil pode se estender para outros países
da região.
Os
três foram as atrações do painel mais disputado do evento na segunda-feira,
intitulado Diálogo em Torno da Crise Brasileira, que contou com mediação do
historiador Alexandre Fortes, da UFRRJ e entrou no programa do evento na semana
passada, depois de a executiva-geral da LASA ter aprovado moção condenando o
processo de impeachment da presidenta Dilma.
A
moção será votada por todos os membros do congresso, formado por pesquisadores
oriundos dos quatro cantos do planeta, especializados em estudos relacionados à
América Latina e ao Caribe, e será aprovado se contar com pelos menos 2/3 dos
votos.
“A
indignação dos intelectuais nos EUA e na América Latina com o que aconteceu no
Brasil é enorme. As consequências são gravíssimas, foi uma violência contra a
democracia e também contra os avanços sociais no país. A partir da ideia de se
combater a crise fiscal no Brasil com austeridade, o que se quer é o
desmantelamento do Estado de Bem-Estar social brasileiro, criado a duras penas.
É uma mentira dizer que as garantias sociais estabelecidas pela Constituição de
1988 não cabem em nosso PIB”, disse Bresser-Pereira.
O
evento terminou com gritos de “Fora, Temer!” e com manifestações contrárias ao
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma das atrações anunciadas pelo
congresso, que marca meio século da LASA.
Depois
que um grupo significativo de acadêmicos demonstrou não concordar com a
presença de FHC em um dos painéis, justamente por seu apoio ao afastamento da
presidenta eleita, o ‘príncipe da sociologia brasileira’ decidiu não comparecer
ao encontro.
“Foi
uma covardia explícita. E mais do que isso, uma arrogância que expressa bem o
que a elite brasileira pensa: não há o que se debater com esta gentalha que
quer tratar a questão da democracia brasileira em um fórum mundial e de alto
nível como a LASA. Trata-se de um senhor que já abandonou a reflexão
intelectual ampla e crítica há muito tempo”, disse a professora da UFRJ Maria
Luiza Franco Busse.
Bresser-Pereira
fez um paralelo entre o cenário político no Brasil e os EUA dos anos Reagan na
virada dos anos 80. “Os EUA continuam crescendo, embora pouco, economicamente,
mas houve uma retração social e política gerada na aplicação no receituário
neoliberal radical nos anos 80. Agora iremos nós, a esta altura, no Brasil,
fazer o mesmo?”
A
professora Maria Luiza Franco Busse enfatizou a importância de se disseminar a
informação no exterior “de que o que está acontecendo no Brasil é um golpe de
Estado”. E seguiu: “Especialmente aqui, com pesquisadores do mundo todo que
estão formando outros futuros pesquisadores e cidadãos, é fundamental que a
academia não esteja afastada do mundo real. O que está acontecendo em toda a
América Latina são, como afirma o professor Bresser-Pereira, golpes
jurídico-parlamentares, mas sobretudo midiáticos. É o suporte de uma política
mais do que conservadora, e sim reacionária e retrógrada, no sentido de cooptar
o Estado para servir unicamente ao 1% mais rico. Ali, não se admite sequer a
possibilidade de inclusão social”.
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