A
cena de Eduardo Cunha, solitário e cabisbaixo, na mesa de um hotel em Brasília
durante entrevista coletiva na semana passada revela o quadro de isolamento do
ex-todo-poderoso presidente da Câmara Federal. Na ocasião, ele até tentou
esbanjar valentia, garantido que não renunciará ao seu mandato e nem
participará da "delação premiada" da Lava-Jato. Mas seus comparsas no
"golpe dos corruptos", que deflagrou o impeachment da presidenta
Dilma, não estão tão seguros destas bravatas. Crescem os boatos de que o
correntista suíço, temendo a sua cassação e prisão - e, principalmente, às
represálias à sua esposa, Cláudia Cruz, ex-apresentadora da TV Globo -, ligará
em breve o ventilador no esgoto!
"Abandonado"
e "deprimido"
A
coluna Painel da Folha desta segunda-feira (27) confirma o receio do covil
golpista com a possível "delação premiada" do achacador. Segundo
Natuza Nery, o peemedebista teria enviado "mais de um recado para que
Michel Temer pense duas vezes antes de abandoná-lo". Já uma notinha
postada na revista Época confirma que a valentia exibida na entrevista coletiva
é pura encenação. "O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, está
deprimido como nunca antes. Sente-se abandonado, sem saída e tem dificuldades
até para contratar um advogado, pois todos defendem outros clientes e têm
conflitos de interesse. Todas as opções políticas à frente de Cunha envolvem alguma
saída criminal".
Sua
depressão piorou ainda mais nesta quarta-feira (22), quando o Supremo Tribunal
Federal decidiu, por unanimidade, tornar o lobista réu por garfar R$ 5 milhões
de propina em contas não declaradas na Suíça. Esta é a segunda vez que Eduardo
Cunha é derrotado no STF. Agora ele deve responder pelos crimes de corrupção
ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas - e não somente por ter mentido
sobre as suas contas no exterior. A sentença acelera o processo da sua cassação
- o mais longo da história da Câmara Federal - e ainda pode agilizar os
trâmites para o pedido de sua prisão.
Para
complicar ainda mais sua situação, o STF também negou recurso da defesa e
manteve a decisão de remeter ao juiz Sergio Moro os processos contra a sua
mulher, Cláudia Cruz, e sua filha, Danielle Cunha. Até agora, porém, o
"justiceiro" nem ouviu a jornalista, alegando não encontrá-la por
duas vezes. Haja incompetência! Caso o juiz cumpra a sua função - deixando de
lado sua obsessão doentia contra o PT, que é alvo até da ação cinematográfica
de policiais fortemente armados -, Cláudia Cruz finalmente poderá ser convocada
para depor sobre as contas ilegais da família na Suíça. Isto é o que mais
apavora o presidente afastado da Câmara Federal.
"Cunha
autorizou gastos em lojas de luxo"
Na
única vez em que foi ouvida pela Operação Lava-Jato, a jornalista não vacilou
em responsabilizar o seu marido pelas mutretas. "Cláudia Cruz afirmou em
depoimento que a abertura de conta secreta no exterior foi sugerida pelo deputado
e que o próprio autorizou os gastos em lojas de luxo. Ela disse acreditar que
os recursos eram provenientes de atividades de Eduardo Cunha no mercado
financeiro e empresarial e que nunca fez perguntas sobre a origem do
dinheiro", relatou a Folha, que acrescentou:
"O
depoimento de Cláudia Cruz foi dado no dia 28 de abril, sob o acompanhamento de
seu advogado. A filha do peemedebista, Danielle Dytz da Cunha, também prestou
depoimento no mesmo dia. Numa linha de defesa para tentar voltar a ser
investigada no STF, as duas tentaram reforçar que Cunha era quem comandava a
vida financeiras delas... Publicitária e prestando consultorias na área de
internet, Danielle afirmou aos investigadores que tem renda mensal entre R$ 5
mil e R$ 10 mil, sendo ainda financeiramente dependente de Cunha. Ela também
apontou que todos os gastos eram autorizados por seu pai e que não tinha
conhecimento da conta no exterior".
Temer e os
favores ao Grupo Libra
A
possível prisão de Cláudia Cruz e Danielle Dytz reforça a hipótese do valentão
aderir ao programa de "delação premiada" da Lava-Jato, o que apavora
seus comparsas que tomaram de assalto o Palácio do Planalto. Em um dos seus
momentos de depressão e pânico, Eduardo Cunha chegou a enviar um recado ao
Judas Michel Temer. Segundo matéria do Estadão de 12 de junho, ele garantiu
que, se cair, "levará junto outros 150 deputados federais, um senador e um
ministro próximo ao interino". Não é para menos que o presidente golpista
evita criticar o seu principal aliado na conspiração que derrubou Dilma
Rousseff. Os dois sempre mantiveram relações carnais nos bastidores do PMDB.
Um
vazamento recente evidência a carga inflamável desta antiga relação. Sem maior
alarde, a Folha publicou no início de junho: "A força-tarefa da Lava Jato
em Curitiba investiga um pagamento de R$ 591 mil realizado por empresa do grupo
Libra, doadora do PMDB, à mulher do deputado afastado Eduardo Cunha. O
pagamento foi detectado pelos investigadores nas contas da empresa C3 Produções
Artísticas e Jornalísticas, de Cláudia Cruz. A Libra opera um terminal no porto
de Santos, área de influência do PMDB e do presidente interino Michel Temer...
A empresa já foi beneficiada por Cunha no Congresso. Uma emenda apresentada
pelo deputado à medida provisória dos portos, em 2013, permitiu que a Libra
aderisse a uma arbitragem para sanar sua dívida com a União".
Descartado
pelos comparsas após a concretização do "golpe dos corruptos",
Eduardo Cunha poderia até usufruir de algumas vantagens da "delação
premiada" conferidas aos mafiosos, conforme ironizou recentemente o
jornalista Bernardo Mello Franco. Vale conferir o seu artigo:
*****
A tentação
da delação
Folha de
S.Paulo, 21/06/2016
A
praia do Futuro é uma das mais procuradas por quem gosta de relaxar ao sol de
Fortaleza. Em torno de suas areias cresceu o bairro Dunas, endereço de mansões
protegidas por muros altos e cercas eletrificadas. É numa delas que repousa
Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que abastecia políticos com
dinheiro do petrolão.
Depois
de delatar os comparsas, o peemedebista foi premiado com o regime de prisão
domiciliar. Não passou um único dia na cadeia e foi autorizado a se recolher ao
conforto do lar, onde poderá matar o tempo entre a piscina, a quadra
poliesportiva e a churrasqueira. Ele ainda terá autorização para sair de casa
em ao menos oito datas até 2018, quando se livrará da tornozeleira eletrônica.
Machado
não é o único réu do petrolão a levar uma doce vida depois de fechar acordo de
delação com a Lava Jato. Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, habita
um condomínio exclusivo em Itaipava, na região serrana do Rio. É vizinho de
altos executivos e de um ministro do Supremo, que acumulou patrimônio como
advogado de renome.
Pedro
Barusco, o ex-gerente da estatal que organizava planilhas de propina, aproveita
o mar em Angra dos Reis. No ano passado, foi fotografado à vontade numa cadeira
de praia, dando baforadas num charuto e tomando cerveja. Ele cumpre pena em
regime aberto, que dispensa a companhia da tornozeleira.
Eduardo
Cunha, o deputado, levou uma vida de milionário no período em que a Petrobras
era saqueada - na certa, uma coincidência. Hospedou-se nos hotéis mais caros do
mundo, jantou nos melhores restaurantes e colecionou carros importados, alguns
registrados em nome da empresa Jesus.com.
Agora
Cunha está ameaçado de prisão e ouve conselhos para oferecer uma delação à Lava
Jato, hipótese que assombra figurões no Congresso e no governo interino. Os
exemplos de Machado, Costa e Barusco devem ajudá-lo a decidir.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/06/descartado-cunha-ameaca-seus-comparsas.html?spref=tw
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