Reportagem
de hoje do Estado de S. Paulo dá conta de uma tentativa de atirar ao mar o
grande arquiteto do impeachment, Eduardo Cunha.
“A
estratégia para tirar Cunha de cena vem sendo chamada nos bastidores do governo
e do Congresso de “operação mão do gato”, numa dupla referência ao gesto do
felino de bater e recolher o braço imediatamente e ao ato de agir
sorrateiramente. O medo do PMDB e do Planalto é de que Cunha, num gesto de
vingança, possa fazer acusações contra Temer e o partido. No Planalto, a avaliação
é de que Cunha se tornou um fator que só atrapalha o governo.
No
Centrão, a convicção é de que a “criatura se tornou maior do que o criador”,
conforme a definição de um líder ao falar do grupo e de Cunha. O objetivo do
bloco é manter o poder sobre o comando da Câmara e fazer o sucessor do
presidente afastado da Casa.“
Cunha
estaria, conforme os repórteres Alberto Bombig e Igor Gadelha, começando a dar
sinais de desequilíbrio – muito incomuns em seu comportamento glacial – diante
da possibilidade de que sua mulher venha a ser presa pelo juiz Sérgio Moro:
Dizem
eles que dois deputados que lhe seriam próximos o teriam aconselhado a renunciar, “pelo bem do governo do
presidente em exercício Michel Temer”.
Eles relatam que o “pedra de gelo” se descontrolou e, aos gritos, disse
que jamais tomará essa atitude porque o Moro promoveria um “cerco” a ele e a
sua família.
Óbvio
que Cunha sabe que isso não seria feito sem ao menos o beneplácito do Governo
Temer, mas ainda crê que a força que possui na Câmara é razão mais forte para
que Temer conserva com ele a cumplicidade que, afinal, levou a nulidade ao
cargo de Presidente.
Mas
também sabe que o establishment, capitaneado pela Globo, quer livrar-se de Cunha
o mais rápido possível, para que só reste ao grupo mais fisiológico da Câmara o
alinhamento a Temer e se viabilize, sem sustos, a aprovação de medidas de
restrição de direitos sociais e trabalhistas, pílula amarga para parte do tal
“Centrão”.
É
indisfarçada a pressão:
“O
comportamento esquizofrênico [de Temer] fica mais evidente na relação com o
presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Todos os seus indicados para o
governo federal foram nomeados e mantidos mesmo após seu afastamento. O governo
não teve coragem de bancar a destituição de seu substituto, um drone cunhado
pela prepotência de quem se sabe fora do alcance de retaliações. Mais do que
isso, ajudou nas manobras para evitar a cassação de Cunha.”
Cunha
é uma bomba que Temer tem de desmontar. Mas não é ele que controla o alicate
que pretende cortar o fio como se fosse assim simples acabar com o poder de
chantagem de alguém que, há mais de uma década, acumula cúmplices, como o é o
próprio presidente interino.
Por
Fernando Brito
http://www.tijolaco.com.br/blog/traicao-da-traicao-ou-como-se-livrar-de-um-cumplice/
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