A foto que ilustra este
artigo é da ‘cela’ de Sérgio Machado.
O ex-presidente da
Transpetro foi condenado a 3 anos, mas por suas delações – nas quais entregou
todo mundo e mais alguém – não irá cumprir um dia sequer atrás das grades. A
pena será cumprida em sua mansão na Praia do Futuro, no Ceará, e ele terá que
se contentar com piscina, quadra esportiva, churrasco, cerveja e demais
sacrifícios. Dos 3 anos da pena sentenciada, terá que cumprir 2 anos e 3 meses
naquela masmorra e depois poderá sair de casa pois a progressão prevê o
semiaberto nos nove meses finais.
Sérgio Machado é aquela
figura que faz afirmações como “dei R$ 32 milhões para um, R$ 18 milhões pra
outro”, com uma naturalidade digna de quem discorre sobre trocados. Confessou
ter desviado R$ 100 milhões e concordou com uma multa de R$ 75 milhões. Se tem
isso para pagar de multa, quanto não teria acumulado?
Também nesta segunda-feira
(20) a doleira Nelma Kodama, amante de Alberto Youssef, deixou a cadeia após
firmar acordo de delação. Poderá curtir seu lar muito antes dos 18 anos aos
quais tinha sido condenada por evasão de divisas, corrupção, lavagem de
dinheiro. Ficou detida por 2 anos e 3 meses. Nelma foi pega com 200 mil dólares
na calcinha, mas cumpriu pouco mais de 12% do tempo atrás das grades.
Da mesma forma sua
assistente, Iara Galdino, foi premiada por suas delações e já está em casa há
duas semanas. “Prisão domiciliar”.
Em idêntica e humilhante
situação está Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras. De castigo em sua mansão
em Angra dos Reis.
Já Paulo Roberto Costa,
ex-diretor da Petrobras, está sofrendo num condomínio de luxo na região serrana
do Rio.
Diga, leitor, o crime
compensa ou não? Você se dedica a falcatruas e roubalheiras, constrói um
império e, se for pego, irá cumprir pena no castelo que ergueu com o dinheiro
alheio. Basta fechar um acordo de deduragem. Se fizer tudo direitinho ainda
pode sair com a imagem de patriota.
As delações, sim, as
delações. São elas que têm proporcionado toda essa mamata. Um instrumento
jurídico válido e útil mas que ganhou tantas deformações por interesses
políticos com seus vazamentos obedecendo a cronologia ideal que se tornaram uma
chave de cadeia às avessas. Como será que a história irá se referir a este
período em que criminosos deitam e rolam e depois basta caguetarem os outros e
pronto?
Mas que fique claro, para
valer a pena tem que ser coisa grande. Esse negócio de roubar 1 quilo de arroz
no supermercado para dar de comer aos filhos dá uma cana braba, sem perdão. Por
participar de protestos contra esse descalabro, em 2013 Rafael Braga foi preso
e condenado a 4 anos e oito meses. O morador de rua portava uma garrafa de
Pinho Sol e passou mais tempo na cadeia que Nelma Kodama, a mulher da calcinha
de 200 mil euros.
A desigualdade é praticada
em diversas esferas, judiciário incluso, quando há uma concentração tão
gritante de poder e dinheiro nas mãos de poucos. Segundo uma lista da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, órgão ligado à AGU, as 135 pessoas
físicas e empresas que mais devem impostos no país somam, juntas, uma dívida de
R$ 272,1 bilhões. A sonegação de míseros 135 vigaristas serviria para cobrir o déficit
fiscal deste ano que é de R$ 100 bilhões e ainda daria R$ 172 bi de troco.
Um Estado que fecha os olhos
para isso e ainda afaga grandes tubarões não fomenta justiça social nem de
distribuição de renda. Como uma empresa como a Oi chega a uma dívida de R$ 65,4
bi e continua a funcionar? Ninguém percebeu que um abismo estava sendo cavado?
O leitor que deixar de pagar por 3 meses a conta da luz ou da água ou do
telefone sabe o que acontece, não sabe?
No Brasil, o crime grande
compensa. O pequeno irá pagar caro. Esse é recado passado pelo Estado que
degrada serviços públicos para agraciar empresários. E para quem alertar que o
milionário Marcelo Odebrecht permanece preso, é preciso lembrar que ele ainda
não abriu o bico. Gostou da cela ou está vendendo bem caro a delação?
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-prisao-de-sergio-machado-mostra-que-uma-delacao-pode-ser-muito-bem-premiada-por-donato/
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