O
pior pecado depois do pecado é a publicação do pecado.
Você
sabe quanto gosto desta grande frase de Machado. O Machado certo, o de Assis, e
não o Machado errado, o delator.
É
exatamente isso que aconteceu quando Gilmar Mendes se esgueirou até Temer no
Jaburu, na noite de sábado, para tratar sabemos bem o quê.
Citei
Machado, o certo, e acrescento George Orwell, o gigantesco jornalista inglês de
meados do século passado.
Orwell
escreveu que os jornais são propriedade de homens ricos interessados em tratar
de forma desonesta assuntos delicados.
Alguma
relação com Marinhos, Frias, Civitas? Nenhuma, naturalmente.
Orwell
defendia um conceito que ele definia como “common decency”. Numa tradução
livre, decência básica.
A
reunião furtiva de Temer e Gilmar infringe, melhor, trucida a “common decency” orwelliana.
Num
momento em que pairam sob os eminentes magistrados do STF suspeitas pesadas de
participação no golpe, é um acinte, uma bofetada, uma cusparada na sociedade
que tal encontro tenha ocorrido.
É
a demonstração de que Marcelo Rubens Paiva estava inteiramente certo quando
disse em resposta a uma bravata de Toffoli, o pupilo de Gilmar, que nossas
instituições são “uma merda”.
Sei
que minha mãe reprovaria que eu use uma palavra tão vulgar, ela que era um
exemplo de elegância ao falar, mas infelizmente não existe outra que defina tão
bem as instituições brasileiras, algo comprovado pela ida de Gilmar ao Jaburu.
Espero
sentado por um único editorial dos grandes meios que reprove a conduta de
Gilmar e Temer. E serei obrigado a me deitar à espera de que os comentaristas
da Globo, Folha etc notem o crime de lesa democracia representado pelo
encontro.
Nem
que Gilmar tivesse ido ao Jaburu para jogar tranca ou tomar chá isso teria sido
decente.
Isto
se chama golpe.
Sem
surpresa, li num site da Globo a notícia. Estava escondida no pé de uma nota. O
título destacava outra coisa.
Este
é o estado de entorpecimento moral de outra peça das instituições putrefatas
brasileiras, a imprensa plutocrata.
Gilmar
— indicado por FHC, aquele que acoelhado fugiu de uma palestra em Nova York
porque seria desmascarado pela plateia como golpista — simboliza o STF pavoroso
do qual somos todos vítimas.
Faz
muito tempo que ele, certo da proteção da mídia e da omissão de seus pares, age
como um militante político raivoso e ensandecido e não como um juiz.
Ele
escarnece todos os dias e todas as horas da sociedade, com suas palavras
desonestas e seu horroroso sorriso debochado.
Gilmar
já foi pilhado publicamente conversando com Bonner numa reunião de pauta do
Jornal Nacional. Num mundo menos imperfeito, ele teria sofrido impeachment por
aquela barbaridade.
Não
é apenas a política que exige uma reforma radical, que se inicie pelo fim do
financiamento privado das campanhas, a forma pela qual a plutocracia toma de
assalto a democracia.
Tão
importante quanto limpar a política do poder do dinheiro sujo e corrupto é
fazer uma faxina na Justiça, especificamente no STF de Gilmar.
As
futuras gerações nos chamarão de frouxos, covardes, pusilânimes se assistirmos
de de bunda no sofá — desculpe, mãe — às manobras imundas do STF que está aí.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/temer-e-gilmar-trucidaram-o-conceito-de-decencia-ao-se-encontrarem-furtivamente-no-jaburu-por-paulo-nogueira/
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