Em
entrevista a jornalistas estrangeiros, ex-presidente destacou que Dilma pode
reverter a votação no Senado. Ele criticou, também, política externa de Serra
Na
última quinta (19), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu entrevista
para jornalistas estrangeiros na sede do Instituto Lula para falar do momento
conturbado e anti-democrático que o Brasil está vivendo. As entrevistas foram
dadas para a Russian Today, Telesur e TVE (Espanha).
Lula
criticou o fato de o presidente golpista Michel Temer estar tomando medidas
como se já fosse presidente de fato. De acordo com líder petista, a atitude é
uma falta de respeito com o Senado, que ainda não decidiu em definitivo sobre o
afastamento ou não de Dilma. “O novo governo está dando um golpe agora nos
senadores. Os senadores aprovaram apenas a admissibilidade e Temer é um
presidente interino. Então, ele tem que governar de forma interina durante esse
período. Mas ele já tomou posse de verdade”.
Sobre
o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff, Lula foi enfático. “Nós
vivemos um momento muito delicado. A nossa democracia foi ferida, eu diria,
quase que mortalmente. É muito tempo de democracia [desde 1985] e já sofremos
um golpe”.
Para
ele, não havia motivos legais para o afastamento da presidenta. “O que
aconteceu no Brasil foi uma violência contra os direitos elementares da
democracia no mundo. Uma maioria conservadora resolveu sacar uma presidenta do
seu mandato porque não gosta da dela. Não há nenhum crime, nenhuma acusação,
provada ou legal contra a presidenta Dilma. Não admitiremos que em pleno século
21 um governo ilegítimo governe o Brasil”.
Segundo
Lula, a presidenta eleita precisa reverter apenas seis votos no Senado para
voltar a ocupar o cargo para o qual foi eleita democraticamente.
“Dilma
depende de mudar a cabeça de seis senadores. Não é uma missão impossível. Quem
convenceu 54 milhões de brasileiros a votar nela, não vai ter dificuldade, se
houver dedicação, de convencer seis senadores”
“Dilma
depende de mudar a cabeça de seis senadores. Não é uma missão impossível. Quem
convenceu 54 milhões de brasileiros a votar nela, não vai ter dificuldade, se
houver dedicação, de convencer seis senadores”
O
ex-presidente diz que, para barrar o golpe, são necessárias mobilizações
populares e comunicação com os senadores. “A presidenta precisa conversar com
os senadores para provar o equívoco histórico que está sendo cometido”.
Erros
de Serra
O
repórter perguntou a Lula se a posse de José Serra (PSDB-SP) como ministro de
Relações Exteriores enfraquecerá a relação do Brasil com a Comunidade de
Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a União de Nações
Sul-Americanas (Unasul), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e os Brics (acordo
comercial entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O ex-presidente
fez críticas à visão elitista que Serra representa.
“A
elite brasileira sempre foi muito submissa aos Estados Unidos. Sempre achou que
quanto mais submissa fosse aos Estados Unidos e à União Europeia, mais iriam
fazer as coisas para o Brasil. É um ledo engano. Uma coisa que aprendi na vida:
ninguém respeita quem não se respeita”.
Para
ele, o papel diplomático do Brasil é o de respeitar todas as nações,
independente do seu tamanho ou poder econômico. Até porque, disse Lula,
política internacional não é apenas comércio, mas segurança, meio ambiente e
diversos outros temas.
“Um
país pequeno como Cabo Verde ou da América Central têm que ser tratados com o
mesmo respeito que se trata os Estados Unidos. O Brasil está voltando, como
disse Chico Buarque, a falar fino com os Estados Unidos e grosso com a Bolívia.
Nós falamos igual com todo mundo”.
Brasil
e Argentina, disse Lula, chegaram a ter R$ 49 bilhões de fluxo comercial. Com a
Venezuela – “que a elite brasileira tem um preconceito enorme” – tem um fluxo
comercial igual ou maior do que com a Itália, explicou o ex-presidente.
“Eles
vão virar as costas outra vez, como sempre fizeram, para a América do Sul, não
enxergar a África e os Brics. Me parece que eles não têm tamanho da importância
do Brics. É metade da população mundial”.
Candidato?
Lula
diz que, a princípio, não pretende se candidatar às eleições presidenciais de
2018. “A única possibilidade de eu voltar é evitar a destruição das políticas
de inclusão social que nós fizemos neste País”.
Ele
lembrou que, em 2010, durante a campanha eleitoral que elegeu Dilma pela
primeira vez, não havia um político que tivesse coragem de falar mal do governo
Lula. “É resultado da política de inclusão social mais importante já feita na
história deste País”.
O
ex-presidente afirmou que seu sonho – que em parte já foi realizado – é o de
construir “uma sociedade em que todos possam tomar café da manhã, almoçar e
jantar, que todos tenham sua casa, seu carro, sua televisão, sua geladeira, seu
computador”. Além disso, diz que pretende que todos possam ir ao cinema, ao
teatro, ao restaurante.
“É
o mínimo que podemos oferecer ao povo”, destacou.
Ele,
porém, garantiu que esse projeto corre perigo, e afirmou: “Devemos nos preparar
para muita luta mais”.
http://www.pt.org.br/lula-critica-temer-ele-deveria-governar-de-forma-interina/
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