sábado, 21 de maio de 2016

BALANÇO DO GOLPE. Por Chico D'Angelo


Ricardo Barros produziu a epígrafe deste governo golpista: "Não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a Constituição determina".

A compreensão do recente atentado contra a democracia em nosso país não pode se restringir a uma crise no campo da política, com implicações conceituais afastadas do cotidiano da população. Uma vez golpeado o estado de direito, a vida do cidadão comum se torna vulnerável a todo tipo de atentado. Nada mais se sustenta apenas porque a lei assim o determina. Se a Constituição brasileira pode ser agredida por um sofisma, políticas sociais e direitos adquiridos só serão mantidos na medida em que não comprometam os objetivos dos assaltantes do poder. Ou se a sociedade organizada tiver consciência da gravidade dos fatos e capacidade de luta para resistir.

A prometida "equipe de notáveis" se transformou no elenco de famigerados representantes da oligarquia nacional, garantindo proteção a vários elementos citados na Lava Jato (curioso ninguém ter mencionado nesses casos a tal obstrução à justiça). Após a organização do bando, deu-se início a rapina. Em total descaso com a identidade do nosso povo, o Ministério da Cultura foi rebaixado a obscuro guichê da pasta da Educação. O diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, gestora federal de canais públicos de TV e rádio, teve seu mandato sumariamente cassado, em total desrespeito à legislação. Mudanças anunciadas no processo de escolha do procurador-geral da República restringirão a independência do Ministério Público. A reforma da Previdência Social atingirá trabalhadores que já se encontram no mercado.

O fato de parte de essas medidas terem sido "desmentidas" dá ideia do nível de confusão em que o bando se encontra, mas de modo algum pode tranquilizar a população. Atenua-se o discurso, mas as intenções seguem as piores. Basicamente, trata-se de cortar – um verbo presente em praticamente todas as declarações oficiais. Cortar o gasto público, cortar direitos, cortar programas sociais, enfim fazer cortes radicais no orçamento. Curiosamente, não há qualquer menção à efetiva cobrança dos grandes sonegadores, a aumentar a taxação de riquezas, a examinar o lucro dos bancos etc.

Na área da saúde, o ministro Ricardo Barros anunciou uma reengenharia do SUS, o que significa reduzir a oferta de serviços, a começar pelo SAMU e a Farmácia Popular. Sua entrevista provavelmente produziu a epígrafe deste governo ilegítimo: "Não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a Constituição determina". Tal como outras autoridades, Sua Excelência já desmentiu as próprias declarações, mas o que esperar de um deputado federal que assume a Saúde sem ter nenhuma experiência na área, sem nunca ter feito uma defesa do SUS ou do Mais Médicos, programas que beneficiam milhões de brasileiros?

Nunca é demais repetir que o SUS é um dos maiores patrimônios da cidadania brasileira e a mais ampla política pública de toda a nossa história. É essa gigantesca obra social, que funciona com nível de financiamento comparável à realidade africana, que os usurpadores se propõem a destruir. Mas faça-se justiça: alguém esperava outra coisa?

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/233280/Balan%C3%A7o-do-golpe.htm


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