
Ricardo
Barros produziu a epígrafe deste governo golpista: "Não vamos conseguir
sustentar o nível de direitos que a Constituição determina".
A
compreensão do recente atentado contra a democracia em nosso país não pode se
restringir a uma crise no campo da política, com implicações conceituais
afastadas do cotidiano da população. Uma vez golpeado o estado de direito, a
vida do cidadão comum se torna vulnerável a todo tipo de atentado. Nada mais se
sustenta apenas porque a lei assim o determina. Se a Constituição brasileira
pode ser agredida por um sofisma, políticas sociais e direitos adquiridos só
serão mantidos na medida em que não comprometam os objetivos dos assaltantes do
poder. Ou se a sociedade organizada tiver consciência da gravidade dos fatos e
capacidade de luta para resistir.
A
prometida "equipe de notáveis" se transformou no elenco de
famigerados representantes da oligarquia nacional, garantindo proteção a vários
elementos citados na Lava Jato (curioso ninguém ter mencionado nesses casos a
tal obstrução à justiça). Após a organização do bando, deu-se início a rapina.
Em total descaso com a identidade do nosso povo, o Ministério da Cultura foi
rebaixado a obscuro guichê da pasta da Educação. O diretor-presidente da
Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, gestora federal de canais públicos de TV
e rádio, teve seu mandato sumariamente cassado, em total desrespeito à
legislação. Mudanças anunciadas no processo de escolha do procurador-geral da
República restringirão a independência do Ministério Público. A reforma da
Previdência Social atingirá trabalhadores que já se encontram no mercado.
O
fato de parte de essas medidas terem sido "desmentidas" dá ideia do
nível de confusão em que o bando se encontra, mas de modo algum pode
tranquilizar a população. Atenua-se o discurso, mas as intenções seguem as
piores. Basicamente, trata-se de cortar – um verbo presente em praticamente
todas as declarações oficiais. Cortar o gasto público, cortar direitos, cortar
programas sociais, enfim fazer cortes radicais no orçamento. Curiosamente, não
há qualquer menção à efetiva cobrança dos grandes sonegadores, a aumentar a
taxação de riquezas, a examinar o lucro dos bancos etc.
Na
área da saúde, o ministro Ricardo Barros anunciou uma reengenharia do SUS, o
que significa reduzir a oferta de serviços, a começar pelo SAMU e a Farmácia
Popular. Sua entrevista provavelmente produziu a epígrafe deste governo
ilegítimo: "Não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a
Constituição determina". Tal como outras autoridades, Sua Excelência já
desmentiu as próprias declarações, mas o que esperar de um deputado federal que
assume a Saúde sem ter nenhuma experiência na área, sem nunca ter feito uma
defesa do SUS ou do Mais Médicos, programas que beneficiam milhões de brasileiros?
Nunca
é demais repetir que o SUS é um dos maiores patrimônios da cidadania brasileira
e a mais ampla política pública de toda a nossa história. É essa gigantesca
obra social, que funciona com nível de financiamento comparável à realidade
africana, que os usurpadores se propõem a destruir. Mas faça-se justiça: alguém
esperava outra coisa?
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/233280/Balan%C3%A7o-do-golpe.htm
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