Não existe almoço grátis.
O Nobel de economia, Milton
Friedman, utilizou essa expressão para mostrar que são os impostos cobrados da
população que financiam os gastos e investimentos públicos de um governo.
A política brasileira que
possui a impressionante habilidade de inverter e subverter toda e qualquer
lógica dos mais sólidos fundamentos econômicos, jurídicos e sociais nos mostra
que por aqui esse termo tem uma aplicação bem mais abrangente e bem menos
republicano, digamos assim.
Vejamos. Do ponto de vista
jurídico, não há qualquer argumento plausível que explique o fato do STF ainda
não haver, no mínimo, afastado Eduardo Cunha de suas funções enquanto
presidente da Câmara dos Deputados.
O estoque de manobras,
abusos, afrontas, desrespeitos e intimidações que EC vem promovendo a cada novo
dia parece não ter limites. Mesmo assim, a Suprema Corte do país continua na mais
inquietante inépcia diante todo um Parlamento afundado em denúncias enquanto
conduz mais um golpe na democracia brasileira.
Mas lembremos que não existe
almoço grátis. A condescendência do STF com a farra grotesca em torno do
impeachment tem o seu preço. Entre os gritos de “sim” justificados por “Deus”,
pela “esposa” e pelos “filhos”, formou-se também a maioria necessária na Câmara
para aprovar o reajuste salarial do judiciário.
Trata-se de uma das famosas
pautas-bomba lançadas pelo nosso bom e velho Cunha para desestabilizar ainda
mais as contas públicas. A medida prevê um aumento de 53% a 78% nos vencimentos
dos servidores do judiciário e magistrados. Ministros do STF incluídos,
naturalmente.
Quanto à responsabilidade
fiscal tão defendida oportunamente pelos arautos da ética e da moralidade,
nesse caso não vem ao caso. Segundo as previsões do Ministério do Planejamento,
o acordo dos cavalheiros, se de fato aprovada, custará aos cofres públicos R$
5,3 bilhões ainda em 2016 e chegará a R$ 36,2 bilhões até 2019.
Pois é! Poderes
independentes e soberanos auxiliados por instituições isentas, técnicas e
imparciais são para nações que não admitem que uma quadrilha de ladrões
hipócritas subjuguem a Carta Magna e a vontade expressa das urnas. Parece não
ser o caso do Brasil.
O pior, porque sempre pode
ser pior, é que a conta para a deposição de uma presidente democrática e
legitimamente eleita não está sendo cobrada apenas pelo poder judiciário. A
digníssima bancada BBB -boi, bala e bíblia – também já apresentam as suas
faturas.
Por terem votado em peso a
favor do impeachment, a romaria em encontro à Temer já começou. O pastor Silas
Malafaia e afins estiveram com o vice-presidente no palácio do Jaburu para orar
e abençoar o “eleito” por 1% dos votos. Não sem cobrar o seu dízimo como de
costume.
Exigiram a aprovação do
Estatuto da Família, o fim do Estatuto do desarmamento com o livre comércio,
posse e utilização de armas e como não poderia deixar de faltar, mudanças nas
regras de demarcações de terras indígenas. Retrocessos e nada mais.
Já a cúpula do PSDB e DEM
também não deixou barato. Para um apoio irrestrito ao governo Temer, exigem que
a pauta neoliberal que fez o país se ajoelhar três vezes ao FMI seja seguida à
risca. Até o ex-presidente Collor já entregou um “Plano de Reconstrução” ao
principal beneficiário do golpe. É realmente um filme de horror.
O preço que todos nós
teremos que pagar se Michel Temer assumir realmente a presidência da república
será assombroso. Soma-se aos retrocessos econômicos e sociais, o desmantelamento
das operações de combate à corrupção. Afinal de contas, estamos falando do
PMDB.
Retirar Dilma do lugar que a
democracia lhe reservou sob o estupro da Constituição Federal custará um valor
que ninguém deveria estar disposto a pagar. Porque, definitivamente, não existe
almoço grátis.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-preco-da-condescendencia-do-stf-com-a-farra-grotesca-em-torno-do-impeachment-por-carlos-fernandes/
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