A grande imprensa brasileira não consegue
mais disfarçar o desespero que veio à tona após a descoberta, pelo mundo, da
trama na qual está envolto o pedido de impeachment apresentado contra a
Presidenta Dilma, pedido esse que foi meticulosamente desenhado e construído
pelas famílias que controlam os grandes conglomerados midiáticos em conluio com
os políticos oportunistas que apenas ocupam espaço no Congresso Nacional.
Um fato interessante chama a atenção nesse
cenário de perturbação vivenciado pelos senhores feudais das comunicações.
Assim como a Presidenta Dilma, a grande mídia pode dizer que foi vítima de um
golpe. Sim, um golpe capitaneado por seus próprios aliados: os desastrados
parlamentares que votaram “sim” na sessão da Câmara do dia 17 de último.
O show de horrores protagonizado pelas
Excelências no último domingo serviu como estopim para deflagrar o sentimento
de repulsa em muitos brasileiros que assistiram perplexos aos discursos dos
deputados, que em poucas palavras conseguiram mostrar aos seus “representados”
a que vieram e a quem realmente serviram. A sensação de que havia algo muito
errado acontecendo na “Casa do Povo” foi geral.
Terminada a apresentação circense, o
resultado mais importante foi proclamado na cabeça de cada brasileiro,
independentemente do posicionamento contra ou ao favor do processo de
impeachment. E sobre isso não é preciso escrever, pois cada um já traz consigo
o trauma resultante daquelas horas e horas passadas em frente à TV acompanhando
a lastimosa votação comandada por Eduardo Cunha. O episódio, no entanto, não
atraiu apenas a atenção do brasileiro, mas também a da imprensa internacional,
que até então vinha cobrindo apenas superficialmente os últimos acontecimentos
políticos do Brasil.
Os jornalistas estrangeiros, também perplexos
como os brasileiros, passaram a fazer os questionamentos que deveriam ser
feitos todos os dias pelos veículos de comunicação locais. Como uma Presidenta
eleita com mais de 54 milhões de votos pode ter aprovado um pedido de
impeachment presidido por um dos maiores corruptos do Brasil? Como um
Vice-Presidente pode conspirar abertamente contra o Presidente e ter o apoio da
mídia local? Como um Chefe do Executivo pode ser destituído sem que nenhuma
denúncia concreta recaia sobre ele? Como a mídia de um país pode fazer uma
cobertura tão parcial sem ser questionada?
Como era de se esperar, a grande mídia
brasileira noticiou a cobertura internacional de forma extremamente tímida,
chegando ao ponto de justificar que a tese do “falso golpe”, de tanto que
repetida, teria “colado” fora do país, o que no mínimo atenta contra a
inteligência daqueles profissionais estrangeiros que atuam na cobertura
política brasileira e também dos especialistas que vêm tratando exaustivamente
sobre o assunto nas redações e nas bancadas dos telejornais gringos.
No entanto, o fato que mais preocupou a
grande imprensa foi a atenção dada ao tema, ainda que de forma reticente, por
aqueles que são favoráveis ao processo de impeachment. Com a explosão das
reportagens mundo afora, essa parcela da população também ficou exposta a
dezenas de reportagens que contrariam integralmente a narrativa distorcida que
vem sendo repetida todas as noites pelo Jornal Nacional e por outros
noticiários e periódicos controlados pela grande imprensa.
O desespero da mídia passou então a ficar
ainda mais evidenciado. E o exemplo mais recente desse desespero foi o
Editorial de “O Globo”, publicado no último dia 21 de outubro, cujo objetivo
central foi diminuir o discurso da Presidenta Dilma, sob o fundamento de que
apenas a esquerda se convenceu da ilegalidade do impeachment, ilegalidade essa
que, segundo o periódico da família Marinho, já teria sido rechaçada pelo
Supremo Tribunal Federal.
Essa ideia, embora facilmente comprada por
aqueles que se informam apenas pelas reportagens do jornal de maior audiência
do país, é tão frágil quanto a base jurídica do pedido de impeachment que agora
tramita no Senado.
O Jornal fez uso da generalização para
conferir força a um argumento sabidamente fraco, pois desde a sessão de domingo
na Câmara dos Deputados ficou comprovado que não apenas a esquerda está olhando
com indignação para a tentativa de derrubada da Presidenta da República. A
opinião pública mundial destaca agora de forma enfática toda a contradição que
envolve esse pedido de impeachment presidido por um dos homens mais corruptos
do país, apoiado por poderosos grupos econômicos e embasado em fragilíssimas
pedadas.
É certo que, ao ouvir um Ministro do STF
verbalizar que não há golpe, tem-se a sensação de que a Presidenta age de
má-fé. E é certo também que essa afirmação soa como música para os ouvidos dos
jornalistas que servem à grande imprensa. Contudo, o que não se comenta é que o
Supremo ainda não examinou o mérito do impeachment, mas apenas os aspectos
formais do pedido iniciado na Câmara dos Deputados.
Isso equivale a dizer que o STF ainda não
reconheceu (e nem poderia mesmo reconhecer nessa fase) a prática de qualquer
crime de responsabilidade por parte da Presidenta Dilma. A Suprema Corte
brasileira apenas admitiu a possibilidade de se questionar os atos atribuídos à
Presidenta no pedido de impeachment apresentado pela advogada Janaína Paschoal
e pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior.
Essa questão tem grande relevo porque, quando
a Presidenta Dilma se diz vítima de um golpe, é óbvio que ela não deseja
transmitir a ideia de que o instituto do impeachment constitui golpe por si só,
mas que a forma como ele está sendo posto, sem indicar de forma precisa um crime
de responsabilidade, está em descompasso com o disposto no artigo 85 da
Constituição Federal, o que efetivamente pode transformar o impeachment numa
ferramenta para a ruptura da ordem democrática.
A grande imprensa utiliza, portanto, as
afirmações dos Ministros do Supremo como instrumento para diminuir a fala da
Presidenta Dilma, causando a falsa impressão de que ela é irresponsável ao
tratar o impeachment como golpe, quando na verdade trata-se de um instrumento
previsto na Constituição Federal. Essa atitude, em condições normais de
temperatura e pressão, poderia até ser entendida como falta de entendimento
jurídico dos jornalistas que atuam na cobertura política nacional, mas a
história e o próprio modus operandi adotado pela grande imprensa brasileira afastam
por completo o benefício da dúvida.
Embora não veja na perspectiva atual uma
chance concreta de a população se organizar ideologicamente contra a forma de
agir da grande imprensa brasileira, a atuação da mídia estrangeira na cobertura
do processo de impeachment da Presidenta Dilma surge como uma luz a esse
propósito, afinal as denúncias sobre a manipulação de informação pelos grandes
grupos midiáticos podem agora ser comprovadas por qualquer brasileiro nas
timelines de suas próprias redes sociais. Basta querer ver.
Do Blog O Cafezinho
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/04/acuada-midia-da-sinais-de-desespero.html?spref=tw
Nenhum comentário:
Postar um comentário