Observando
o avanço desenfreado das pautas da direita em todo o planeta, com a também
crescente fascistização da vida, via as epidêmicas redes sociais, me assalta
uma certeza: o comunismo, mais do que uma necessidade política, é uma
necessidade biológica. E, diante da realidade, essa forma de organizar a vida
aparece-me como a única alternativa possível para os seres humanos. Alguém pode
dizer que sou uma louca, quando tudo parece apontar para um retorno inexorável
dos tempos mais sombrios, mas, posso mostrar que não.
Imaginem-se
na baixa idade média, quando a violência contra os pobres recrudesceu, uma vez
que os senhores feudais viram que as mudanças causadas pelo nascimento dos
burgos eram profundas. Naquelas horas noas, de angústia e violência, quem arriscaria
dizer que estava em processo de consolidação uma nova forma de viver que daria
fim ao feudalismo? Os loucos? Não! Os que faziam boas análises da realidade.
O
mundo atual, capitalista, imperialista e monopólico tem como base uma equação
simples: para que um viva, outro tem de morrer. Isso significa que é, por
natureza, destruidor e violento. Se no mundo antigo, a escravidão era garantida
pela força de uns poucos e no mundo feudal a servidão se mantinha pelo terror
dos senhores da terra, no capitalismo os escravos modernos – assalariados – são
mantidos também pela força da repressão policial e burocrática. E é comum, a
história nos mostra, quando um sistema está ruindo, a repressão a violência
contra os de baixo aumentar consideravelmente. É a tentativa desesperada da
classe dominante para manter o poder.
E
o que vemos hoje no mundo? Uma violência exacerbada contra tudo aquilo que
possa representar uma ameaça ao sistema capitalista de reprodução da vida.
Qualquer gritinho de protesto já é considerado terrorismo e a força do braço
armado do poder cai sobre as gentes com precisão. É um tempo de extermínio. Até
no Brasil, onde o tal do “terrorismo” raramente deu as caras, os deputados
aprovaram no dia 24 de fevereiro uma lei anti-terrorismo. E com base no quê?
Numa suposta possibilidade de aparecer algum “deles” nas Olimpíadas. Piada?
Não! Medo.
A
classe dominante mundial está com medo. E isso é bom. Se, por um lado, esse
medo recrudesce a violência oficial, por outro, mostra que há um pequeno buraco
na represa, como no antigo conto holandês. E o sistema tenta conter a
avalanche, matando, desaparecendo, trucidando, fazendo guerra.
Diante
desse quadro, só nos resta o comunismo. E uma das coisas que mais me
impressiona é ver alguém chamando outro alguém de comunista como se fosse uma
coisa ruim. Ou ainda, falar do comunismo como se fosse o pior que pudesse
acontecer na terra. Como isso poder ser possível? Quem em sã consciência pode
achar que o comunismo é ruim? Pois para responder essa questão, proponho o debate
de alguns elementos que compõem o comunismo, para que, sem preconceito,
possamos definir o que de bem e bom pode ter num regime como esse.
A
ideia de um mundo justo, no qual todos possam ter vida digna não é coisa do
alemão Karl Marx, tão demonizado. Ela aparece bem antes dele em escritos de
tantos filósofos, inclusive no mundo oriental. Mas, claro, é Marx quem aponta o
comunismo como um sistema de organização da vida que só pode acontecer depois
que sejam desvendados e superados os terrores do mundo capitalista, que ele tão
bem visualizou. A partir do estudo sobre como se expressam e se concretizam no
mundo real as relações de produção do sistema capitalista, Marx concluiu que
não podia ser possível ao humano viver nessas condições. Ele não descobre a
luta de classe, ele a põe em foco.
Assim,
segundo ele, uma vez que os trabalhadores desvelassem o véu da alienação que os
mantêm presos a um sistema que oprime e mata, a única possibilidade seria a
construção de uma forma autônoma e livre de viver, na qual sequer o estado
seria necessário. Isso é o comunismo.
Nessa
forma de organizar a vida não haverá uma classe dominando a outra. Todos serão
livres e administrarão a produção das coisas para o bem-viver. Cada um
trabalhará conforme sua condição e receberá conforme sua necessidade. Não
haverá divisão entre trabalho braçal e intelectual e todo o trabalho será
considerado digno. Se a pessoa for trabalhar como lixeiro e tiver oito filhos
para sustentar, ele receberá o suficiente para isso. Ninguém precisará mendigar,
migrar, fugir, se prostituir, se destruir. O estado não será necessário, porque
ele existe apenas como expressão de dominação de uma classe sobre a outra. Se
não houver classes, para que estado? “Poderíamos empregar em vez de estado, a
palavra comunidade”, diz Engels.
Aí
se pode dizer: isso é uma bobagem. Tem que ter organização, tem que ter
direção, tem que ter ordem. Mas, quem diz que não haverá? Haverá tudo isso, mas
sem que alguém oprima o outro. Se cada um receber conforme a necessidade não será
necessária a hierarquia entre os trabalhadores. O que hoje está numa posição de
organizador da produção e do trabalho, amanhã pode não estar. E se está, vai
receber o que precisa para viver. Nem mais, nem menos. O cargo que ocupa não
lhe dará poderes sobre o outro. Não haverá patrão, uma vez que os bens
produzidos serão coletivos, assim como a terra. E se tudo for assim, tão bom,
haverá festa e haverá beleza, essas coisas doces, necessárias ao espírito. Essa
é a ideia do comunismo evocada por Marx, que, é óbvio, irá se construindo e
aprimorando pela ação das gentes.
Alguém
dirá: isso é um sonho. O ser humano não consegue ter maturidade suficiente para
viver assim, livre, sem patrão. Ora, no tempo da escravidão, dizia-se que os
escravos morreriam sem o dono. No tempo da servidão, dizia-se que os servos não
existiriam sem os senhores feudais. E, se foram os donos de gente, e, se foram
os senhores feudais. Que passou com a humanidade? Avançou. Por que raios,
então, a humanidade não iria dar esse salto de qualidade? Todas as
retrospectivas histórias mostram que sim.
Agora,
é fato que o comunismo não se fará em um passe de mágica, muito menos por
decreto. Marx, Engels e Lenin escreveram muito sobre isso. Será necessário um
tempo de transição, que é o socialismo. Esse tempo de transição preparará o
caminho para o comunismo, a hora em que tudo será comum, comu-nitário. No
socialismo ainda existem as classes, mas aí quem domina é a classe
trabalhadora. E também será necessária a força, a burocracia, o estado.
Por
isso não faz sentido a gritaria dos capitalistas contra propostas como as de
Cuba, por exemplo. É um governo forte, um estado forte, no qual quem domina são
os trabalhadores. Na luta de classes cubana, pela revolução, venceram os
trabalhadores. Eles comandam agora, e não a burguesia. Ah, mas eles são
truculentos, violentos, tem presos políticos. Sim, são violentos, como eram
violentas as forças que submetiam os trabalhadores antes. Quem não se lembra da
ditadura de Batista? Ah, mas então é o dente por dente? Não. É porque ainda não
é o comunismo, não há ainda a maturidade necessária para esse modo de
organizar. Precisa ter Estado, precisa ter a organização hierárquica. E se o
estado é o instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, essa dominação
é a dos trabalhadores sobre a burguesia. Até que todos estejam prontos para o
salto, a nova ordem, o novo mundo, o mundo necessário. O socialismo é um
período em que vão se depurar os projetos.
Assim
que o comunismo, volto a dizer, é uma necessidade biológica. Porque nós, os
humanos, temos esse desejo pelo que é bom, pela festa, pela beleza. Esse é o
nosso propósito. Não é possível que a gente aceite, como raça, viver como
estamos vivendo agora: oprimidos, violentados, massacrados, consumindo o
planeta. Como os escravos e os servos nós também avançaremos para um tempo
melhor. É infalível.
Por
isso vamos caminhando, pavimentando essa estrada de maravilhas. Talvez nós
mesmos não venhamos a viver nesse mundo sonhado. Mas, não importa. Para ele
estamos indo, inexoravelmente, e ele já existe dentro de todos os que o
acreditamos possível. Como o casulo se transforma em borboleta. Assim será!
Em
Palavras Insurgentes
http://racismoambiental.net.br/?p=201953
Um comentário:
Espetacular o texto ! comungo totalmente com o exposto, até porque coincide com o Kardecismo do qual sou adepto.
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