João
Moraes, um dos coordenadores da Federação Única dos Petroleiros (FUP), avalia o
projeto aprovado ontem pelo Senado em um acordo do governo com o PSDB e o
presidente da Casa, Renan Calheiros. Moraes considera que o prejuízo será enorme,
não só para a Petrobras, mas para sociedade como um todo se porventura a Câmara
vier a ratificar a posição do Senado.
Fonte:
http://goo.gl/ZyyyD7
A
entrevista é de Renato Rovai, jornalista,
publicada no seu blog, 25-02-2016
Eis
a entrevista.
Qual
a posição da FUP em relação ao projeto que foi aprovado ontem no Senado?
O
projeto é um grande retrocesso para o Brasil porque uma questão que era tratada
como de Estado, passou a ser tratada como de governo.
A
possibilidade de que a Petrobras fosse operadora exclusiva atendia ao interesse
do país, tanto no abastecimento de energia, como no desenvolvimento nacional e
no do retorno econômico para áreas como saúde e educação.
Ao
remeter isso para a diretoria da Petrobras, que vai decidir se quer ou não a
área ofertada, isso se torna uma decisão que vai se dar a partir de interesses
do mercado. Podem dizer, mas o presidente em exercício tem poderes de decidir
diferente do que a diretoria da Petrobras, mas isso passará a ser no máximo uma
decisão de governo.
Esse
projeto vai na contramão do que está acontecendo no mundo nos últimos 40 anos.
Em todos os lugares a participação do Estado vem aumentando. No início dos anos
70, 90% das reservas do mundo estava nas mãos de empresas privadas, em especial
americanas. Hoje essa relação é inversa, 90% está na mão de empresas públicas.
A
desculpa utilizada para ir na contramão disso é a Operação Lava Jato. O fato é
que a Petrobras hoje passa por crise semelhante a todas as petroleiras do
mundo. As dificuldades da Lava Jato são o menor fator da crise. Usá-la como
argumento para aprovar esse projeto não procede do ponto de vista técnico.
O
que os petroleiros pretendem fazer para combater esse projeto?
Vamos
nos articular com a sociedade para impedir que seja aprovado na Câmara dos
Deputados.
Há
chance de acontecer um rompimento explícito com o governo?
Neste
momento estamos preocupados com essa medida e não estamos discutindo governo.
Essa medida significa grande prejuízo para a nação e queremos juntar a sociedade
contra isso. Os petroleiros não apoiam ou reprovam governo. Não somos base de
governos e nem oposição a eles.
Que
impactos esse projeto trará para o Brasil, para a Petrobras e para a Educação,
já que boa parte dos lucros do Pré-Sal seriam destinados a essa área?
A
Petrobras produz o barril de petróleo do Pré-Sal a um custo de 8 dólares a
extração. As empresas estrangeiras não conseguem extrair a um custo menor de 15
dólares. Quem vai pagar essa diferença? É a população. Esse é o prejuízo
financeiro.
O
segundo, é que a programação da produção não se dará a partir dos interesses
nacionais, mas do lucro das empresas estrangeiras. Na Argentina, a Redson
espanhola explorou as reservas de lá de forma predatória. Hoje, a Argentina
importa petróleo. Isso pode vir a acontecer no Pré-Sal.
Outro
risco é o ambiental. As empresas privadas costumam ter menor preocupação com o
meio ambiente. O exemplo da Chevron, em 2011, e o da Samarco, no Rio Doce,
permitem ver o que isso significa de forma clara. O Brasil fica mais vulnerável
do ponto de vista de crises ambientais.
Para
a Educação, como as empresas estrangeiras produzem a um custo maior, vai ter
menos dinheiro para essa área. Quer um exemplo do que estou dizendo. No Iraque,
a estatal de lá produzia a 6 dólares o barril. Hoje, a Shell cobra 27 dólares
para produzir o petróleo no Iraque. Ou seja, não sobra nada para o povo do
Iraque. Foi por isso que eles mataram o Sadam e não por outro motivo.
Mais
importante do que o dinheiro para uma petroleira são as reservas. Ao aprovar
essa lei, o Senado tira essas reservas da Petrobras. Nada nos garante que quem
vier a estar à frente da Petrobras no futuro vai defender o interesse da
empresa. Em outras épocas, já quiseram privatizar a Petrobras. Ou seja, esse
projeto tem que ser derrotado por nós.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/551995-brasil-pode-ser-o-iraque-de-amanha-se-projeto-de-pre-sal-de-serra-for-aprovado-na-camara
Nenhum comentário:
Postar um comentário