A extinção de animais é um
processo enfrentado pelas florestas tropicais que pode estar passando
despercebido sobre suas consequências. Grandes aves e mamíferos estão ameaçadas
pela caça e o tráfico ilegal e a perda desses grandes animais pode provocar
impactos imprevisíveis no clima do Planeta.
A reportagem foi publicada
por Unesp, 23-12-2015.
Um estudo recente publicado
na revista Science Advances desenvolvido por pesquisadores da Unesp de Rio
Claro, em colaboração com cientistas da USP, Universidade Federal de Lavras e
Viçosa, Espanha, Inglaterra e Finlândia, mostrou que a perda dos grandes
animais dispersores de sementes afeta negativamente a habilidade das florestas
tropicais para armazenar carbono e, portanto, o seu potencial para combater as
alterações climáticas.
“Os grandes dispersores de
sementes, como os muriquis, a anta, os tucanos, entre outros animais de grande
porte, são os únicos capazes de dispersar eficazmente as plantas que têm
sementes grandes. Normalmente, as árvores que têm grandes sementes são grandes
árvores com madeira densa que armazenam mais carbono”, explica Mauro Galetti,
professor do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista. “As
canelas, jatobás e maçarandubas são dispersadas apenas por grandes animais,
todos sabemos que essas árvores também são as com madeira mais nobre (de lei) e
que estoca mais carbono”, complementa Galetti.
“Quando perdemos os grandes
frugívoros enfrentamos a perda das funções de dispersão e recrutamento das
árvores com sementes grandes, e, portanto, a composição das florestas vai
mudando. Quando as árvores com madeira nobre morrem e não tem mais o dispersor
de semente, ela é reposta por uma árvore de madeira “mole”. O resultado é uma
nova floresta dominada por árvores menores com madeiras mais leves que
armazenam menos carbono”, acrescenta Carolina Bello, estudante de doutorado da
Unesp.
Pedro Jordano, pesquisador
da Estação Biológica de Doñana da Espanha (CSIC) explica que este é o resultado
da perda de interações cruciais que mantém a teia da vida nas florestas
tropicais. “Não é apenas a perda de animais carismáticos, nós enfrentamos a perda
de interações ecológicas que mantém o bom funcionamento dos principais serviços
ecossistêmicos, tais como o armazenamento de carbono.”
Carlos Peres, professor da
Ecologia da Conservação Tropical da Universidade de East Anglia (Reino Unido),
disse que “Até agora, a degradação das florestas tropicais tem sido entendida
pelos programas REED + em termos relacionados com a estrutura das florestas e
as perturbações humanas, como a exploração madeireira e a presença de
incêndios. No entanto, florestas aparentemente intactas, mas defaunadas devem
ser consideradas como florestas degradadas porque a erosão de carbono, descrito
neste artigo, já está em marcha.”
Portanto, o recente estudo
avisa aos programas internacionais de redução de emissões de carbono que procuram
combater as alterações climáticas através do armazenamento de carbono em
florestas tropicais, da importância de considerar os animais e sua função como
uma parte fundamental. “A eficiência deste tipo de programas vai melhorar se os
processos ecológicos que mantêm a serviço do ecossistema de armazenamento de
carbono ao longo do tempo são garantidos”, diz Carolina Bello.
No estudo também
participaram Marco A. Pizo (Unesp), Otso Ovaskainen (University of Helsinki),
Renato Lima (USP), Luiz Fernando S. Magnago (Universidade Federal de Lavras) e
Mariana Rocha Ferreira (Universidade Federal de Viçosa).
Referência do artigo
Bello, M. Galetti, M. A.
Pizo, L. F. S. Magnago, M. F. Rocha, R. A. F. Lima, C. A. Peres, O. Ovaskainen,
P. Jordano, Defaunation affects carbon storage in tropical forests. Sci. Adv.
1, e1501105 (2015).
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550526-extincao-de-grandes-animais-tem-impacto-negativo-sobre-clima
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