O
fenômeno do El Niño trouxe mais chuvas que o habitual ao sul da América Latina,
mas por si só não explica as enchentes que deixaram mais de 160.000
desabrigados no Paraguai, Argentina, Brasil e Uruguai. A mudança climática
torna mais extremo o fenômeno que causou o transbordamento nos rios Paraguai,
Paraná e Uruguai, entre outros, mas há mais razões por trás.
A
reportagem é de Alejandro Rebossio, publicada por El País, 29-12-2015.
Diversos
especialistas atribuem a gravidade das inundações ao desmatamento ocorrido nos
últimos anos no Paraguai, sul do Brasil e norte da Argentina para o cultivo de
soja transgênica. O ouro verde geneticamente modificado oferecia alta
rentabilidade durante os anos de bonança das matérias-primas, entre 2002 e
2014, além de suportar as elevadas temperaturas da região, antes coberta de
matas nativas. “O aumento das precipitações e a significativa perda de
cobertura florestal na Argentina, Brasil e Paraguai, que figuram entre os 10
países com maior desmatamento no mundo, não permitiu a absorção natural da
água”, alertou o Greenpeace em um documento.
O
coordenador da campanha de florestas dessa organização ambientalista na
Argentina, Hernán Giardini, explica: “Além de concentrar uma biodiversidade
considerável, as matas e selvas desempenham um papel fundamental na regulação
climática, na preservação das nascentes e cursos d’água e na conservação dos
solos. São nossa esponja natural e nosso guarda-chuva protetor. Quando perdemos
matas nos tornamos mais vulneráveis às chuvas intensas e corremos sérios riscos
de inundações”. Só restam 7% da superfície original de matas da Mata Paranaense
ou Missionária, atravessada pelos rios o Uruguai, Paraná e Iguazú, segundo o Greenpeace.
“No Paraguai e no Brasil foi praticamente destruída, a maior parte remanescente
se encontra na Argentina”, acrescenta a organização ambientalista.
Efeitos
do El Niño
“O
El Niño é um fenômeno cíclico, faz parte da natureza, mas seus efeitos podem
ser agravados pelo desmatamento”, opina Benjamín Grassi, professor de
meteorologia da Universidade Nacional de Assunção. “O desmatamento retira a
proteção do solo. O tipo de precipitação que temos é torrencial, e muita água
em pouco tempo afeta muito um solo nu, porque permite que a água escorra
facilmente e danifique estradas, cultivos”, acrescenta Grassi.
Na
Argentina, as inundações atingem a região limítrofe com o Paraguai, Brasil e
Uruguai, mas também a província central de Córdoba, onde se reiteram as
recriminações à soja. “A problemática não está necessariamente vinculada à
precipitação pluvial, mas à ascensão dos lençóis freáticos”, afirma o ministro
de Água e Ambiente de Córdoba, Fabián López. “Como consequência de diversas
políticas agropecuárias, os cultivos de inverno deixaram de ser desenvolvidos,
semeou-se menos milho, trigo e alfafa, e mais soja. Isso gerou um desequilíbrio
hídrico, nos últimos anos o lençol freático subiu significativamente e está a
poucos centímetros do solo”, descreveu o ministro López. Nesses países que
produzem metade da soja de todo o mundo, a oleaginosa não trouxe só bonança.
Jorge
André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550589-desmatamento-para-plantio-de-soja-contribui-para-inundacoes-na-america-do-sul
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