Desistir? Jamais! A história
de superação da juíza Antonia Marina Faleiros é inspiradora! Com 12 anos, ela
trabalhava em um canavial no interior de Minas Gerais. Filha de um trabalhador
rural e uma dona de casa, Antonia foi correr atrás de uma vida melhor em Belo
Horizonte quando fez 21 anos.
Na cidade grande, a moça da
roça, que teve 4 irmãos, foi empregada doméstica e chegou a dormir oito meses
em um ponto de ônibus, porque não tinha onde passar a noite. Enfrentou o frio e
o perigo da capital mineira.
“Nos primeiros dias tive que
ficar na casa de parentes, fingindo que estava de passeio. Fiquei um período,
mas chegou um momento que ficou insustentável, não dava para ficar de favor.
Tive que me arrumar. Arrumei um emprego de empregada doméstica, mas a patroa
não gostava que a funcionária dormisse na casa dela, porque ela achava que
tirava a liberdade dos donos da casa. Para não ser obrigada a retornar para o
interior, para a roça, e ter que abrir mão do meu sonho de fazer um curso
superior e trilhar um caminho diferente daqueles que moravam na minha terra, eu
mentia para minha mãe que dormia na casa da patroa e fingia para a patroa que
dormia na casa de parentes. Mas na verdade eu não dormia na casa de ninguém
porque eu não tinha onde morar. Eu passava a noite sentada fingindo que estava
esperando ônibus. Como era um ponto muito movimentado, dava para enganar”.
Apostilas do lixo
Para conseguir aprovação em
seu primeiro concurso, de oficial de justiça do Tribunal de Justiça de Minas,
ela catava, no lixo, folhas borradas de um mimeógrafo onde eram feitas
apostilas de um cursinho preparatório.
“Eu vi a secretária
descartando algumas folhas, que ela passava no mimeógrafo e jogava fora. Peguei
e percebi que dava para ler, apesar das folhas borradas. Aquele dia eu catei
algumas e a partir daí, eu passei a ir rotineiramente na sede do cursinho.
Hoje, relembrando essa história, eu desconfio que aquela secretária, cujo nome
não sei e nunca mais a vi, percebeu que eu estava pegando aquelas folhas porque
as folhas borradas passaram a ficar em uma lixeira seca, sem copinhos de café.
E aí eu fui catando aquelas folhas e estudando, o que foi suficiente para eu
fazer uma pontuação boa na tal noção de direito. Com isso, eu consegui, junto
com as boas notas em matemática e português, o terceiro lugar no concurso”,
lembra.
Ajudar
Hoje, aos 52 anos, casada, a
juíza procura fazer a diferença por onde passa. Ela ajuda projetos sociais com
crianças em Lauro de Freitas, Bahia, onde exerce o cargo de juíza da 1ª Vara
Criminal da cidade. Dra Antônia também desenvolveu um projeto voltado para o
resgate da cidadania dos carvoeiros e de seus familiares da cidade de Mucuri,
na Bahia, ganhando prêmio no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“A minha história de
superação serve para eu ter a certeza de que, com a minha profissão, eu tenho
que dar espaço para quem não tem espaço”, pontua.
Dedicação
“Sempre gostei de estudar.
Fui alfabetizada pela minha mãe com 4, 5 anos e sempre fui adepta da leitura.
Ela sempre dizia uma frase que eu repito para os meus sobrinhos: quem tem a cama
feita pode se contentar com o razoável. Quem não tem a cama feita, deve ser
muito bom no que faz”, conta.
Orgulho da família
“Tive a oportunidade de
ouvir muitas vezes o orgulho dos meu pais de ver a filha formando. Sempre
ajudava muito meus pais e irmãos. Meu pai chegou a verbalizar a alegria,
principalmente porque havia aquele temor de que a menina fosse para a capital e
se envolvesse com coisas erradas, voltando inclusive com um filho sem pai. E
minha família era muito tradicional e simples do interior. Meu irmão Edésio,
mais velho depois de mim, já falecido em um trágico acidente no Espírito Santo,
sempre dizia que a minha história era um marco. Eu fui uma das poucas da minha
geração que fez a faculdade naquele tempo. Eu rompi uma barreira”.
Abençoada
“A mulher Antônia Marina
Faleiros é uma mulher abençoada, de uma família abençoada, e que teve sorte de
encontrar pessoas de bem pelo caminho. Considerando a história de vida,tudo que
eu passei, eu dei um salto que eu gosto de sempre reprisar para firmar que isso
é possível: a filha de um trabalhador braçal semi-analfabeto e de uma dona de
casa simples, que passou por todas essas histórias, que conheceu o creme dental
com 11 anos, que teve que trabalhar cedo, pode estudar e chegar aonde quer.
Todos nós podemos”.
Lição
“Conto brevemente a reação
da minha mãe quando contei para ela que tinha passado em terceiro lugar no
concurso de oficial de justiça. Ela me indagou: ‘a prova estava tão difícil
assim?”. Ainda rebati e disse: ‘Mãe, pense bem, quantas pessoas ficaram para trás?’.
E ela me disse assim: ‘você já viu corredor olhar para trás? Corredor olha para
frente’. Então eu digo sempre isso: temos que olhar para frente e não para as
dificuldades que passamos. É pensar no quem tem que ser alcançado, é ter
disciplina e meta”.
“Gosto de contar essa
história para reafirmar: a filha de uma dona de casa simples e de um
trabalhador rural pode sim alcançar o que quer. Todos nós podemos”, se orgulha
ela.
Com informações do
GazetaOnline e AmoDireito
http://www.geledes.org.br/empregada-domestica-vira-juiza-estudou-com-livros-do-lixo/#ixzz3t6PhHcV8
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