Por
Catiana de Medeiros
Da
Página do MST
Na
última sexta-feira (07), aconteceu o seminário “A Realidade e as Consequências
do uso dos Agrotóxicos no Brasil e no Rio Grande do Sul”.
O
evento foi realizado pelos mandatos do deputado estadual Edegar Pretto e
deputado federal Dionilso Marcon, ambos do PT, na Assembleia Legislativa do RS,
e contou com a presença da ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, além de
agricultores, ambientalistas e representantes de entidades da sociedade civil.
Ao todo, mais de 800 pessoas acompanharam painéis e debates que mostraram que
os brasileiros e gaúchos se destacam quando o assunto é consumo de venenos: são
mais de 7 litros anuais por habitante.
Segundo
o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil é o país que mais consome veneno
no mundo, chegando a 7,3 litros ao ano por pessoa. Já no Rio Grande do Sul, o
consumo chega a 8,3 litros anuais por habitante, sendo o Noroeste gaúcho a
região mais afetada devido às grandes plantações de soja em latifúndios. Lá, de
acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, a média anual de consumo de veneno
chega a 16 litros por pessoa.
“Poucas
pessoas sabem que o nosso país é o maior consumidor de veneno do mundo, e
poucos gaúchos sabem que o uso dos agrotóxicos no RS está acima da média
nacional. Temos o compromisso de transmitir essas informações à população, pois
ela tem o direito de saber que está levando doenças para casa através de
alimentos envenenados”, explicou Pretto.
Conforme
a médica Virgínia Dapper, da Secretaria Estadual da Saúde, 70% dos alimentos
que vão à mesa da população estão contaminados. Além do alto índice de uso e
consumo de venenos, o Rio Grande do Sul também é considerado o estado que menos
notifica casos de intoxicações aos órgãos de saúde, e, de acordo com pesquisa
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), grande parte das bacias hidrográficas
contém resíduos de agrotóxicos.
O
deputado federal Dionilso Marcon ressaltou a necessidade do envolvimento
coletivo da sociedade e de instituições de ensino no processo de
conscientização sobre os malefícios do uso de agrotóxicos, além de incentivos
governamentais para impulsionar a produção de alimentos sadios.
“A
população tem que saber o que está consumindo e ser mais exigente nas suas
escolhas. E para que ocorra essa conscientização precisamos do envolvimento
social e, principalmente, dos setores da educação para que nossos alunos
tenham, desde o primeiro ano até a faculdade, esse debate sobre os agrotóxicos
embutido no seu dia a dia. O Governo Federal também precisa investir mais em
pesquisas, assistência técnica e oferecer recursos para auxiliar o agricultor
no período de transição da produção convencional para a orgânica”, disse
Marcon.
A
ministra Izabella Teixeira reafirmou a necessidade de ampliar a discussão em
torno da agricultura agroecológica e rever produtos com alto grau de toxidade,
que devem ter o uso banido no Brasil. Segundo ela, os Ministérios do Meio
Ambiente e Agricultura, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
compõem um grupo de trabalho que avalia os agrotóxicos usados no país e
sinaliza, se necessário, novos banimentos. Além disso, até o final do ano será
publicado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) o perfil dos princípios ativos dos produtos usados na
produção de alimentos.
“Precisamos
de conhecimento e transparência para enfrentar essa questão. Por isso será
disponibilizado um sistema de avaliação técnica para que a sociedade possa
saber de fato o que está consumindo”, declarou Izabella.
Incentivos
federais
Representando
a Via Campesina, Emerson Giacomelli cobrou ações do Governo Federal, a fim de
impulsionar a produção e o consumo de alimentos saudáveis. Entre os pontos
destacados está a assistência técnica para experiências agroecológicas; a
massificação de linhas de créditos para efetivar a transição da agricultura
convencional para a orgânica; incentivos à pesquisas em agroecologia;
fortalecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para viabilizar a
comercialização; e maior fiscalização em relação ao uso dos agrotóxicos.
“As
causas e consequências do uso de venenos já são bastante conhecidas e muitos de
nós já estamos sofrendo com resultados dessa aplicação, que tem provocado a
morte de muitos companheiros. O debate é importante, mas nós precisamos de
atitudes diárias. É isso que nos dará condições de criar um campo com
experiências agroecológicas e massificar a produção de matéria prima”,
argumentou Giacomelli.
Para
a dirigente estadual do MST, Salete Carollo, o seminário reforçou a urgência da
união social e da construção de políticas públicas para tornar possível uma
alimentação saudável, livre de agrotóxicos.
“Conseguiremos
avançar em nossos objetivos a partir da união da sociedade rural e urbana, e do
estabelecimento de novos parâmetros de mercado para que o agricultor possa
produzir sem veneno e o trabalhador da cidade adquirir alimentos saudáveis. E
para isso é fundamental o desenvolvimento de políticas públicas”, apontou
Salete.
Um
dos palestrantes do evento, Leonardo Melgarejo, presidente da Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), salientou que existem vários mitos
difundidos a cerca da utilização de agrotóxicos que precisam ser desmentidos,
como alegações que os compostos químicos respeitam limites seguros, que os
habitantes das cidades não são afetados, etc.
Melgarejo
salientou que o glifosato, um dos ingredientes ativos de agrotóxicos mais
usados no Brasil e principal componente do Roundup, produto fabricado pela
Monsanto, é extremamente tóxico e está sendo utilizado em 18 milhões de
hectares de plantação de soja do País, o que gera um grande risco à saúde das
pessoas. “Estes herbicidas provocam a multiplicação de bactérias que não morrem
com antibióticos”, disse.
Melgarejo
afirmou que não existe limite seguro para a utilização de agrotóxicos. “Uma
molécula de agrotóxico pode provocar uma alteração no organismo que venha a
provocar o câncer. Sentir o cheiro de veneno significa estar envenenado”,
disse.
Frente
Parlamentar
Na
ocasião, também ocorreu o lançamento da Frente Parlamentar Gaúcha em Defesa da
Alimentação Saudável, um novo instrumento que se soma à busca de alternativas
para os problemas enfrentados no RS devido ao uso abusivo de agrotóxicos.
“A
Frente nos ajudará a encontrar soluções para as angústias e os problemas que
temos no estado e que são muito graves. Nossos mandatos devem ser instrumentos
de mobilização, conscientização e divulgação do que está sendo colocado na mesa
do consumidor”, explicou o deputado Edegar Pretto, coordenador da Frente.
Segundo
o parlamentar, nos próximos dias acontece a primeira reunião da Frente, quando
será organizado um Grupo de Trabalho com representantes de várias entidades e
órgãos públicos, para pensar ações que garantam aos gaúchos uma alimentação
livre de agrotóxicos.
Almoço
orgânico
Ao
fim das atividades na Assembleia Legislativa, a ministra Izabella Teixeira,
acompanhada de uma comitiva, se deslocou até o Assentamento Capela, em Nova
Santa Rita, onde participou de almoço com produtos orgânicos e conheceu as
estruturas da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan).
http://www.mst.org.br/2015/08/10/al-rs-debate-agrotoxicos-nao-e-justo-propagar-o-cancer-em-nome-do-lucro-de-meia-duzia.html
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