quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A CRISE DE CRIATIVIDADE


Vivemos a era do individualismo fomentado por um capitalismo que nos faz cultuar futilidades e objetos fabricados sob o princípio da obsolescência programada de modo a que fiquemos eternamente escravizados aos seus produtores. Ao contrário, o culto à intelectualidade não é incentivado, fato que traz reflexos nas artes, principalmente na música, nos filmes e todas as outras expressões artísticas.

Limitando-me apenas ao campo da música, eu cresci ouvindo Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Villa-Lobos, Raul Seixas, Beatles, Rolling Stones, Led Zepellin, João Gilberto, Elis Regina, Milton Nascimento e tantos outros músicos geniais. E hoje, o que temos? Quase nada.

Como elegemos o capital como nosso grande deus, onde o lucro é o mais importante de tudo, ninguém arrisca a inovar em qualquer campo de atividade, já que existe o risco de falhar e falhas significam prejuízo. Pensar tão somente em desenvolvimento social ou cultural nem pensar.

As grandes corporações que hoje detêm praticamente a totalidade do capital mundial, através de publicidades tão sofisticadas quanto eficientes, manipulam as populações de modo a despertar nelas falsos anseios de liberdade e democracia. Ah, mas isto é bom dirão alguns. Sim, isso seria verdade se a liberdade e democracia a que elas se referem fossem aquelas correspondentes aos conceitos de nossos antigos compêndios de teoria do estado.

Na real, o que elas querem é a liberdade apenas para consumir bens materiais, deixando de lado os bens imateriais que seriam tão necessários para que transformações benéficas ocorressem através de críticas bem fundamentadas.

Tais sofismas são tão bem elaborados que hoje em dia confundimos cidadania e felicidade com possibilidade de consumir cada vez mais. Tanto que no momento em que uma nação perde a capacidade de consumir e ter acesso ao crédito, a consequência natural é a crise. E diante da crise, os estados com o objetivo de salvaguardar o sistema financeiro acabam escamoteando direitos de seus cidadãos.

Benefícios sociais são suprimidos com o claro objetivo de que o sistema siga seu funcionamento deletério. Isso significa que os detentores do capital continuarão indefinidamente ditando as regras das sociedades e as políticas econômicas. Com seus poderios econômicos, acabam financiando candidaturas de políticos que depois de eleitos, ficam adstritos aos desígnios de seus patrocinadores, fechando o ciclo vicioso do império do capital.

Na real, acabamos nos tornando um exército de consumidores padronizados e, por não termos aprendido a pensar, ficamos totalmente sem capacidade de lutarmos contra esta ditadura do consumo. E é consabido que onde existe a padronização, a criatividade é guilhotinada sumariamente. E ai daquele que ousar viver de forma alternativa e criativa. Será um nada, um pária, condenado a ser diuturnamente espezinhado por todos os demais.


Jorge André Irion Jobim

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