quinta-feira, 1 de abril de 2010

CASO NARDONI. A ESPETACULARIZAÇÃO DOS JULGAMENTOS


Não há como negar que foi montado um espetáculo midiático em torno do julgamento do casal Nardoni. Não se trata de dizer se eles são culpados ou inocentes. A questão que merece reflexão é sobre até que ponto os suspeitos foram prejudicados pelo circo que foi armado pela imprensa, pois, sem sombra de dúvidas, o corpo de jurados já entrou na sala do júri com um pré-julgamento sobre o caso, tudo isso induzido pelos “pseudojuristas” dos mais diversos meios de comunicação.

Indiscutivelmente, a morte de uma menina é uma tragédia que abala a sociedade, mas o que não pode acontecer é condenar alguém por conta da simples necessidade de se fabricar um culpado, apenas porque a mídia exige uma resposta imediata das autoridades. Nunca podemos olvidar o caso da Escola Base, símbolo de julgamento precipitado e indevido feito pela mídia, ao final do qual nada se comprovou contra os donos da escola infantil, acusados de abuso sexual de crianças.

Temos informações de que na França, é proibido qualquer tipo de veiculação sobre o caso antes do julgamento. Para que ele transcorra de forma isenta, os jurados são informados a respeito do processo que vão julgar, apenas no dia da plenária. Já, no Brasil, com toda a espetacularização armada ao redor de casos de repercussão, o que acaba acontecendo é que chega um ponto em que a população não tem apenas sede de justiça; passa sim, a ter uma terrível sede de vingança que somente será aplacada se os acusados forem condenados a uma pena máxima.
Veja-se que os réus, ao invés de adentrarem o tribunal sob os auspícios da presunção de inocência, já chegam estigmatizados com a quase-certeza de culpabilidade que lhes é lançada pelos agentes promotores do referido espetáculo. Para os seus defensores, virar o jogo e trazer à tona a verdade dos fatos, se torna uma tarefa hercúlea, beirando as raias do impossível.

Enfim, podemos concluir que influências negativas originadas da necessidade de atrair audiência e vender jornais, uma vez lançadas no campo do direito, são como o sal jogado à terra, tornando-a infértil para que nela possa florescer justiça em sua mais pura concepção.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS

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