TRADUÇÃO GERCYANE OLIVEIRA
O
filósofo e psiquiatra anticolonial, Frantz Fanon, nasceu neste dia em 1925. Ele
forjou sua visão sobre o Sul Global na luta de libertação argelina, onde se
convenceu de que a independência nacional seria vazia sem a revolução social.
O
60º aniversário da morte de Frantz Fanon em 5 de dezembro do ano passado levou
uma série de reconsiderações a respeito de seu legado. Vários focados naquilo
que Fanon chamava seu “testamento”: uma avaliação pioneira sobre as revoluções
africanas em Os Condenados da Terra foi feita semanas antes de sua morte por leucemia
com a idade de 36 anos.
Ainda
que muitos saúdem Os Condenados da Terra no momento da sua publicação como uma
“Bíblia da Revolução do Terceiro Mundo”, o livro somente faz referências de
passagem aos desenvolvimentos na Ásia, Oriente Médio e América Latina, e não
tenta apresentar uma análise exaustiva dos inúmeros movimentos africanos de
libertação ativos na época. Seu ponto focal é uma mediação detalhada da
Revolução Argelina, em que ele participou diretamente desde a sua chegada em
Argel em 1953.
O fulcro argelino
Fanon
tinha boas razões para ver a Revolução Argelina como fulcro e vanguarda das
revoluções africanas mais amplas. Enquanto os imperialismos francês e britânico
estavam dispostos a conceder a independência política para algumas de suas
colônias africanas no fim dos anos 1950, as coisas eram bem diferentes na
Argélia. O país continha uma grande porcentagem de colonos europeus com laços
estreitos com a França, e praticamente todas as grandes tendências políticas
francesas se opunham à sua independência – incluindo os partidos socialistas e
comunistas. Paris mobilizou dezenas de milhares de tropas em uma tentativa de
suprimir a revolução. Esta guerra contra-insurgente sangrenta matou perto de um
milhão de pessoas.
Fanon
percebeu que se a Revolução Argelina fosse derrotada ou não conseguisse
promover um “novo humanismo” em resposta à desumanização produzida pelo
colonialismo europeu, os Estados africanos recém-independentes estariam
sujeitos ao poder mais sutil, mas não menos insidioso do neocolonialismo. Os
Condenados da Terra é, em parte, uma celebração à explosão de criatividade e
auto-organização oriunda das massas argelinas no decorrer de sua longa década
de luta armada.
Como escreveu Fanon na
segunda página do livro:
A
descolonização nunca passa despercebida, pois diz respeito ao ser e modifica
fundamentalmente o ser, transforma os espectadores esmagados pela falta do
essencial em atores privilegiados, amarrados de maneira quase grandiosa pelo
correr da História.
Ao
mesmo tempo, ele emitiu uma advertência de que os Estados recém-independentes
regrediriam ao autoritarismo, chauvinismo étnico e tribalismo caso não
conseguissem avançar para uma revolução social que pudesse arrancar a forma
“reificada” das relações humanas que definiram o capitalismo racializado. Como
profeticamente Fanon afirmou: “Caso o nacionalismo não for explicado,
enriquecido e aprofundado, se ele não se transformar muito rapidamente em uma
consciência social e política, em humanismo, então teremos um beco sem saída”.
Fanon como militante
Fanon
não se mudou originalmente para a Argélia para virar parte de uma revolução,
mas sim para assumir um cargo de psiquiatra na Bilda-Joinville, fora de Argel.
Nascido na ilha caribenha francesa de Martinica, ele sabia pouco sobre a
sociedade norte-africana à época e não falava árabe nem cabila.
Entretanto,
ele era um rápido aprendiz, e após a Frente de Libertação Nacional (FLN) ter
lançado a Revolução em 1 de novembro de 1954, ele se engajou ativamente como um
apoiador e o porta-voz posterior da organização. Não é exagero afirmar que, a
partir de então, até o fim de sua vida, Fanon se dedicou por completo à causa
da independência argelina, servindo em 1959 como embaixador itinerante da FLN
nos Estados da África subsaariana, que ele repetidamente percorreu em um
esforço para solidificar o apoio à revolução.
Contudo,
Fanon tinha razões para se preocupar com a direção da FLN antes de escrever Os
Condenados da Terra. Ainda que tenha projetado uma face pública unificada, a
FLN, tal qual todos os movimentos de libertação, continha variadas tendências
políticas. Alguns eram de muito agrado para Fanon, como o comandante da FLN,
Slimane Dehilés, conhecido também como coronel Sadek. Ele estabeleceu laços
próximos com Deshilés, que foi visto como parte do braço marxista da FLN já em
1955.
Ainda
mais importante foi Ramdane Abane. Abane era um socialista secular que se
tornou o principal organizador da FLN em Argel em 1955 e o arquiteto da famosa
Batalha de Argel em 1956-1957. Fanon se aliou a Abane, e em vários aspectos,
enxergava-o como seu mentor político.
Na
época de sua emergência pública no fim de 1954, a FLN emitiu uma declaração de
objetivos, mas essa “Proclamação Roneoed” era vaga a respeito da ideologia,
estrutura e metas finais do movimento. Divisões internas sobre a forma e
direção da FLN seguiam fervilhando. Isso a levou a realizar uma conferência
clandestina em Soummam em agosto de 1956 na tentativa de resolver essas
diferenças.
Fanon
não compareceu à conferência, mas ele apoiou fortemente as posições adotadas
por iniciativa de Abane. Essas posições incluíam um estresse sobre a
precedência da liderança política da FLN sobre seus comandantes militares e
sobre a prioridade de suas “forças do interior” sobre aqueles fora da Argélia.
A conferência também resolveu que a FLN deveria tomar suas decisões sobre uma
base coletiva, democrática, e enfatizou a necessidade de obtenção de apoio à
sua causa na França e prometeu direitos iguais às minorias judaicas e europeias
da Argélia após a independência.
Divisões na FLN
Todavia,
as tensões continuaram a aumentar entre os elementos radicais, socialistas
seculares da FLN e as forças mais conservadoras, algumas das quais almejavam um
Estado árabe-islâmico. Segundo Ferhat Abbas, que liderou o governo provisório
do FLN no exílio de 1958 a 1961, a Abane disse aos comandantes militares o
seguinte: “Vocês criaram um poder baseado no poderio militar, mas política é
outro assunto e não pode ser conduzida por analfabetos e ignorantes”.
Em
outra ocasião, ele contou: “Eles incorporam o exato oposto da liberdade e da
democracia que queremos para uma Argélia independente… Potentados absolutos não
podem governar sem contestação”. Fanon apoiou a posição de Abane, mas muitos
outros na FLN não.
Ahmed
Ben Bella, que se tornou mais tarde o primeiro líder da Argélia independente de
1962 a 1965, foi adversário de Abane e se opunha à Conferência de Soummam. No
verão de 1957, ele havia forçado Abane sair da liderança da FLN, com apoio de
Abdelhafid Boussouf e Lakhdar Bentobbal. Fanon não gostava muito das duas
últimas figuras. Ele disse a um amigo que eles não podiam “imaginar qualquer
coisa além da independência” e estavam “constantemente competindo pelo poder”:
Pergunte
a eles o que esta futura Argélia vai parecer, e eles não têm a menor ideia. A
ideia de um Estado secular ou de socialismo, a ideia do homem para este
assunto, essas são coisas totalmente alienígenas para eles… Eles querem ter
poder nesta nova Argélia, mas para que finalidade? Eles próprios não sabem.
Acham que qualquer coisa que não seja uma verdade simples é perigosa para a
revolução.
A
despeito dessas diferenças, Fanon permaneceu completamente leal ao FLN e nunca
expressou publicamente tais críticas, mesmo quando Abane “desapareceu”
misteriosamente – após chegar ao poder em 1962, a FLN admitiu que alguns de
seus co-líderes o mataram.
No
fim de sua vida, a morte de Abane assombrou Fanon. Entretanto, ele entendia
que, caso divulgasse abertamente as divergências dentro da FLN, o imperialismo
francês usaria isso para dividir o movimento. Fanon aceitou a disciplina que a
adesão a uma organização revolucionária envolvida em luta armada contra um
inimigo poderoso parecia implicar.
Visão de Fanon para a
independência
Alice
Cherki, que trabalhou de perto com Fanon por muitos anos, relatou uma de suas
principais ansiedades nos últimos anos de sua vida:
Fanon
se preocupava com a forma da nova sociedade que emergiria da pós-independência
na Argélia; as perspectivas eram obscenas – uma nova burguesia pronta para
assumir de onde os outros tinham parado, ou uma luta de poder entre diferentes
clãs, ou um movimento religioso que conseguiria determinar a natureza do
Estado.
Essas
preocupações aterraram diretamente seus argumentos em Os Condenados da Terra. A
luta de libertação nacional argelina era um movimento multiclassista abarcando
camponeses, trabalhadores urbanos, o “lumpenproletariado” e a burguesia
nacional. Apesar do importante papel exercido pelos membros desta última classe
na luta pela independência, Fanon entendia que teriam um papel retrógrado ao
chegarem ao poder.
O
famoso capítulo chamado “As armadilhas da consciência nacional” retratou a
burguesia nacional no contexto africano como uma classe parasitária que não
tinha poder econômico ou ideias e que era politicamente insegura. Ao chegar ao
poder, prosseguiria com seu interesse próprio estreito às custas das massas:
No
nosso pensamento, portanto, a vocação histórica de uma burguesia nacional
autêntica em um país subdesenvolvido é repudiar seu status como burguesa e
instrumento do capital e virar inteiramente subserviente ao capital revolucionária
representado pelo povo.
Fanon
escreveu que isso levantou “a questão teórica, que foi colocada nos últimos 50
anos, ao abordar a história dos países subdesenvolvidos, isto é, se a fase
burguesa pode ser ignorada efetivamente”.
Os
“últimos 50 anos” aqui se referiam ao período pós-Revolução Russa de 1905,
quando os marxistas debateram intensamente se era necessário ter uma fase do
desenvolvimento capitalista sob a liderança da burguesia liberal depois da
derrubada do czarismo. A Rússia era um país subdesenvolvido à época, e muitos
marxistas tinham que ela não estava pronta para uma transição imediata ao
socialismo. A liderança soviética e o Internacional Comunista depois estenderam
os preceitos teóricos trabalhados no contexto russo para outros países
subdesenvolvidos, como a China.
Fanon
trouxe tal debate histórico para apoiar as revoluções africanas de seu tempo,
argumentando que “uma fase burguesa está fora de questão”. Como ele imaginou
isso ocorrendo? Primeiramente, Fanon abordou o assunto muitos anos antes em um
artigo para El Moudjahid, jornal da FLN, publicado no exílio em Tunis, para o
qual ele contribuía regularmente. Em “A Revolução Democrática”, escreveu ele:
“Na Argélia, a guerra de libertação nacional é indistinguível de uma revolução
democrática”. Essa revolução democrática conta com duas partes componentes:
Por
um lado, baseia-se nos valores essenciais do humanismo moderno em relação ao
indivíduo tomado como pessoa: liberdade do indivíduo, igualdade de direitos e
deveres dos cidadãos, liberdade de consciência, de organização e etc.. Tudo
aquilo que permite ao indivíduo florescer, avançar e exercer livremente seu
juízo pessoal e sua iniciativa.
É
difícil imaginar uma defesa mais forte do pluralismo democrático. Fanon foi
adiante, todavia, discutindo que “por outro lado, a ideia de democracia, que
funciona contra toda a opressão e tirania, é definida como uma concepção de
poder. Nesse caso, significa que a fonte de todo o poder e soberania emana do
povo”. Ele claramente acreditava que a independência nacional deveria assumir a
forma de uma república democrática que estaria sob o controle das massas, em
vez da burguesia. Somente esse quadro político poderia permitir que a revolução
se desenvolvesse a ponto de dar adeus à desumanidade da sociedade capitalista.
Descentralizando a política
Fanon
estava plenamente consciente de que a transição da consciência “nacional” para
a “social”, da dominação colonial a um futuro socialista, não seria atingida da
noite para o dia. Para avançar rumo a esse objetivo, a independência nacional
deveria se basear em uma democracia completa fundamentada completamente nas
massas – a grande maioria dela, no caso argelino, era formada por camponeses
(pela estimativa de Fanon, 82% da população). Se isso não acontecesse,
argumentava ele, a realização da independência nacional provaria ser “uma
concha vazia”.
Então,
como Os Condenados da Terra imagina uma transição democrática na qual “a fonte
de todo poder e soberania emana do povo”? O que era central para isso seria a
descentralização. Em oposição aos modelos centralizados de desenvolvimento
adotados por praticamente todos os movimentos socialistas e nacionalistas da
época, Fanon argumentou que, a fim de garantir que “o demiurgo fosse o povo, e
a magia esteja em suas mãos sozinhas”, a nação precisaria “se descentralizar o
máximo possível”.
Ele
acrescentou que “centralizar tudo na capital deveria ser evitado”. Os
funcionários do governo não devem residir em um local, mas ser obrigado a se
movimentar pelo país, de modo a permanecerem em contato com as massas rurais e
urbanas. Isso não significa que se opôs a nacionalizar os meios de produção:
Só
que é evidente que tal nacionalização não deve assumir o aspecto do controle
rígido do Estado… Nacionalizar o setor terciário significa organizar
democraticamente as cooperativas de compra e vende. Significa descentralizar
essas cooperativas, envolvendo as massas na gestão dos assuntos públicos.
Acima
de tudo, Fanon argumentou contra a ideia de um partido única servindo como
“vanguarda” da revolução. Ele proclamou firmemente sua oposição a Estados que
tem um partido como “a forma moderna da ditadura burguesa – despojados de
máscara, maquiagem e escrúpulos, cínicos em todos os aspectos”. Ele não,
obviamente, se se opunha ao partido como tal, mas insistiu que o partido, tal
qual a nação, deveria ser “descentralizada ao máximo”.
Tendo
viajado amplamente em seu papel como embaixador da FLN, Fanon estava plenamente
ciente de que os Estados de partidos centralizados governavam muitas das nações
africanas recém-independentes à época, incluindo aquelas com uma imagem mais
radical, tal como a Guiné de Kwame Nkrumah, e a Guiné de Sékou Touré. Ele
certamente tinha ciência também de que tal modelo político era precisamente o
que a FLN, que se declarou o “único representante legítimo” do povo argelino,
aspirava construir.
Fanon
não desconsiderou a importância de um movimento de libertação nacional
unificado durante a luta pela independência; ao contrário, ele defendia
consistentemente isso. Contudo, uma forma política necessária em uma
determinada fase da luta poderia virar uma forca no pescoço depois da
independência ter sido alcançada.
Bashir
Abu-Manneh argumentou recentemente que “Os Condenados da Terra é onde Fanon
desenvolveria sua visão alternativa de mundo político, em que a política é
primária”. Porém, o livro insistia que a luta nacional teria a primazia
enquanto prevalecesse o colonialismo. Ele criticou duramente aqueles que
sugeriram que a humanidade “havia passado do estágio das demandas
nacionalistas… Acreditamos, ao contrário, que o erro, pesado com consequências
seria perder a fase nacional”.
Na
visão de Fanon, a mudança da consciência nacional para a social não deixaria a
primeira para trás, mas a aprofundaria: “Consciência nacional, que não é o
nacionalismo, é a única coisa que pode nos dar uma dimensão internacional”. A
transcendência do racismo que definia o mundo colonizado não poderia ser
alcançado, abstraindo a consciência nacional ou o orgulho racial, mas
prosseguindo para além deles. Não existia caminho cego para a libertação.
Fanon
não foi menos consciente, todavia, de que as elites políticas usariam
indevidamente a identidade racial ou nacional para desviar as massas de
desafiar seu poder e privilégios. Os Condenados da Terra era um duro aviso
contra esse desvio.
Democracia e libertação
Mesmo
com toda a celebração do trabalho de Fanon, muitos escritores negligenciam a
profundidade de seu compromisso com a democracia completa. Já que lançou sua
crítica à burguesia nacional em geral e não dá nome a seus culpados individuais
ou organizacionais na Argélia ou em outros Estados africanos, pode ser fácil
ver que essa crítica se aplica só aqueles comprometidos com o neocolonialismo
como Léopold Senghor Senegal ou Félix Houphouët-Boigny na Costa do Marfim.
Entretanto,
Fanon discordou também das tendências radicais e esquerdistas dentro das
revoluções africanas: “A burguesia nacional, no nível institucional, pula a
fase parlamentar e escolhe uma ditadura de tipo nacional-socialista”. No
decorrer desse processo, aqueles que se opuseram foram “espancados e
encarcerados em silêncio e levados depois à clandestinidade”.
O
compromisso de Fanon com a governança democrática que fundamentaria totalmente
nas massas informou praticamente todos os aspectos de Os Condenados da Terra.
Ele compreendeu, tal qual como Karl Marx, que esse socialismo era “o movimento
autoconsciente e independente da imensa maioria, no interesse da imensa
maioria”. Contudo, em contraste com a Europa, eram os camponeses no lugar do
proletariado que constituíam a “imensa maioria” na África. É por isso que Fanon
os destacou como um sujeito revolucionário.
A
noção de que uma classe trabalhadora minoritária liderada por um partido de
vanguarda “correto” poderia forjar uma nova sociedade era bem alienígena para
ele. Da mesma forma, era a ideia de que um campesinato subordinado a um
exército “revolucionário” dispensando a governança democrática poderia realizar
a mesma tarefa. Fanon apostou em uma posição que o botou em desacordo com
muitas das tendências predominantes na esquerda marxista e
nacionalista-revolucionária.
Fanon
esteve empiricamente certo quanto o papel da classe trabalhadora nos países
africanos? A evidência sugere que ele foi excessivamente apressado em
escrevê-lo, embora muitos de seus críticos tenham sido também demasiadamente
rápidos em presumir que os camponeses nunca poderiam exercer um papel político
independente. No entanto, esta não é a questão crítica para abordar no contexto
de nossos próprios tempos. Em vez disso, devemos olhar para a relevância
contemporânea de seu conceito sobre uma transição democrática.
Os
últimos 60 anos foram cheios de exemplos de tendências políticas hierárquicas e
autoritárias que ignoraram a necessidade do tipo de transição democrática para
o socialismo imaginado por Fanon. Essa abordagem levou a uma falha após a
outra. Os movimentos sociais atuais absorveram as lições dessa experiência,
adotando consistentemente formas não hierárquicas e horizontais que são
caracterizadas pelo debate público livre e aberto acerca de todas as questões
que enfrentam o movimento. Em sua prática, esses movimentos trouxeram à vida os
insights encontrados no novo humanismo de Fanon, o que torna seu pensamento
mais convincente do que nunca.
Isso
não significa que Fanon nos forneceu qualquer tipo de mapa de como superar a
sociedade burguesa. Ele ainda estava pensando em como resolver esses problemas
em seu trabalho final e deixou intocados vários tópicos. Ainda que ele
claramente tivesse a Argélia em sua mente em todas as páginas de Os Condenados
da Terra, o livro não criticava explicitamente a FLN ou suas principais figuras
e tendências. Em certo sentido, isso foi compreensível: a luta pela
independência ainda estava em andamento à época, e Fanon estava comprometido em
não fazer nada que a enfraquecesse. Entretanto, refletia também uma fraqueza de
seu período histórico.
Ainda
que uma tradição de discussão aberta tenha caracterizado o marxismo de seus
anos fundadores até o começo dos anos 1920, a ascensão do stalinismo deixou
essa tradição enterrada, suprimida e largamente esquecida. Isso influenciou a
abordagem dos revolucionários mundo afora, incluindo aqueles, como a FLN, que
não tinham conexão direta com o movimento comunista liderado pelos soviéticos.
Felizmente, enfrentamos hoje uma realidade diferente, o que torna possível
entender o conteúdo libertador do pensamento de Fanon de uma forma totalmente
nova.
Sobre os autores
PETER HUDIS
é
professor de Filosofia na Faculdade Comunitária de Oakton e autor de Frantz
Fanon: Philosopher of the Barricades. ("Frantz Fanon: Filósofo das
Barricadas") e Marx's Concept of the Alternative to Capitalism ("O
Conceito Marxiano de Alternativa ao Capitalismo"), além de ter organizado,
junto de Kevin B. Anderson, o The Rosa Luxemburg Reader ("O Leitor de Rosa
Luxemburgo"), e junto de Paul Le Blanc estar organizando a publicação da
obra completa de Rosa Luxemburgo em inglês.
https://jacobin.com.br/2022/07/como-frantz-fanon-foi-transformado-pela-revolucao-argelina/
PETER HUDIS
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