Sim. Ex-colegas, porque, a despeito de a Constituição me
conferir a vitaliciedade no cargo de membro do Ministério Público Federal, nada
há, hoje, que me identifique com vocês, a não ser uma ilusão passada de que a
instituição a que pertenci podia fazer uma diferença transformadora na precária
democracia brasileira. Superada a ilusão diante das péssimas práticas de seus
membros, nego-os como colegas.
Já há semanas venho sentindo náuseas ao ler suas
mensagens, trocadas pelo aplicativo Telegram e agora reveladas pelo sítio The
Intercept Brasil, num serviço de inestimável valor para nossa sociedade
deformada pela polarização que vocês provocaram. Na verdade, já sabia que esse
era o tom de suas maquinações, porque já os conheço bem, uns trogloditas que
espasmam arrogância e megalomania pela rede interna da casa. Quando aí estava,
tentei discutir com vocês, mostrar erros em que estavam incidindo no discurso
pequeno e pretensioso que pululava pelos computadores de serviço. Fui rejeitado
por isso, porque Narciso rejeita tudo que não é espelho. E me recusava a me
espelhar em vocês, fedelhos incorrigíveis.
A mim vocês não convencem com seu pobre refrão de que “não
reconhecem a autenticidade de mensagens obtidas por meio criminoso”. Por muito
menos, vocês “reconheceram” diálogo da Presidenta legitimamente eleita Dilma
Rousseff com o Ex-Presidente Lula, interceptado e divulgado de forma criminosa.
Seu guru, hoje ministro da justiça de um desqualificado, ainda teve o desplante
de dizer que era irrelevante a forma como fora obtido acesso ao diálogo, pois
relevaria mais o seu conteúdo. Tomem! Isso serve que nem uma luva nas mãos
ignóbeis de vocês. Quem faz coisa errada e não se emenda acaba por ser
atropelado pelo próprio erro.
Subiu-lhes à cabeça. Perderam toda capacidade de discernir
entre o certo e o errado, entre o público e o privado, tamanha a prepotência
que os cega. Não têm qualquer autocrítica. Nem diante do desnudamento de sua
vilania, são capazes de um gesto de satisfação, de um pedido de desculpas e do
reconhecimento do erro. Covardes, escondem-se na formalidade que negaram
àqueles que elegeram para seus inimigos.
Esquecem-se que o celular de serviço não se presta a
garantir privacidade ao agente público que o usa. Celulares de serviço são
instrumentos de trabalho, para comunicação no trabalho. Submete-se, seu uso,
aos princípios da administração, entre eles o da publicidade, que demanda
transparência nas ações dos agentes públicos. Conversas de cunho pessoal ali
não devem ter lugar e, diante do risco de intrusão, também não devem por eles
trafegar mensagens confidenciais. Se houver quebra de confidencialidade pela
invasão do celular, a culpa pelo dano ao serviço é do agente público que agiu
com pouco caso para com o interesse da administração e depositou sigilo
funcional na rede ou na nuvem virtual. Pode por isso ser responsabilizado, seja
na via da improbidade administrativa, seja na via disciplinar, seja no âmbito
penal por dolo eventual na violação do sigilo funcional. Não há, portanto, que
apontarem o dedo para os jornalistas que tornaram público o que público devesse
ser.
De qualquer sorte, tenho as mensagens como autênticas,
porque o estilo de vocês – ou a falta dele – é inconfundível. Mesmo um
ficcionista genial não conseguiria inventar tamanha empáfia. Tem que ser membro
do MPF concurseiro para chegar a tanto! Umas menininhas e uns menininhos
“remplis de soi-mêmes”, filhinhas e filhinhos de papai que nunca souberam o que
é sofrer restrições de ordem material e discriminação no dia a dia. Sempre
tiveram sua bola levantada, a levar o ego junto. Pessimamente educados por seus
pais que não lhes puxaram as orelhas, vocês são uns monstrengos incapazes de
qualquer compaixão. A única forma de solidariedade que conhecem é a de uma
horda de malfeitores entre si, um encobrindo um ao outro, condescendentes com
os ilícitos que cada um pratica em suas maquinações que ousam chamar de
“causa”. Matilhas de hienas também conhecem a solidariedade no reparto da carniça,
mas, como vocês, não têm empatia.
Digo isso com o asco que sinto de vocês hoje. Sinto-me
mal. Tenho vontade de vomitar. Ao ler as mensagens trocadas entre si em
momentos dramáticos da vida pessoal do Ex-Presidente Lula, tenho a prova do que
sempre suspeitei: de que tem um quê de psicopatas nessa turma de jovens
procuradores, uma deformação de caráter decorrente, talvez, do inebriamento
pelo sucesso. Quando passaram no concurso, acharam que levaram o bilhete da
sorte, que lhes garantia poder, prestígio e dinheiro, sem qualquer
contrapartida em responsabilidade.
Leia também: A
resistência pela ataraxia, e o que nos leva a ela, por Nilson Lage
Sim, dinheiro! Alguns de vocês venderam sua atuação
pública em palestras privadas, em troca de quarenta moedas de prata. Mas
negaram ao Ex-Presidente Lula o direito de, já sem vínculo com a administração,
fazer palestras empresariais. As palestras de vocês, a passarem o trator sobre
a presunção de inocência, são sagradas. Mas as de Lula, que dão conta de sua
visão de Estado como ator político que é, são profanas. E tudo fizeram na
sorrelfa, enganando até o corregedor e o CNMP.
Agora, a cerejinha do bolo. Chamam Lula de “safado”, fazem
troça de seu sofrimento, sugerem que a trágica morte de Dona Mariza foi queima
de arquivo… chamam o luto de “mimimi” e negam o caráter humano àquele que tão
odienta e doentiamente perseguem! Só me resta perguntar: onde vocês aprenderam
a ser nazistas? Pois tenho certeza que o desprezo de vocês pelo padecimento
alheio não é diferente daqueles que empurravam multidões para as câmaras de gás
sem qualquer remorso, escorando-se no “dever para com o povo alemão”. Ao
externarem tamanha crueldade para com o Ex-Presidente Lula, vocês também
invocarão o dever para com o Brasil?
Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu ódio.
Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e
arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga. A mão à palmatória pode
redimi-los, desde que o façam com a humildade que até hoje não souberam
cultivar e empreendam seu caminho a Canossa, para pedirem perdão a quem
ofenderam. Do contrário, a história não lhes perdoará, por mais que os órgãos
de controle, imbuídos de espírito de corpo, os queiram proteger. A hora da
verdade chegou e, nela, Lula se revela como vítima da mais sórdida ação de
perseguição política empreendida pelo judiciário contra um líder popular na
história de nosso país. Mais cedo ou mais tarde ele estará solto e inocentado,
já vocês…
Despeço-me aqui com uma dor pungente no coração. Sangro na
alma sempre que constato a monstruosidade em que se transformou o Ministério
Público Federal. E vocês são a toxina que acometeu o órgão. São tudo que não
queríamos ser quando lutamos, na Constituinte, pelo fortalecimento
institucional. Esse desvio de vocês é nosso fracasso. Temos que dormir com
isso.
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