Mensagens
trocadas por procuradores da força-tarefa da "lava jato" em Curitiba
mostram que eles preferiram fazer acordos com bancos do que investigá-los.
De
acordo com conversas obtidas pelo site The Intercept Brasil e publicadas pelo
El País, nesta quinta-feira (22/8), os procuradores consideravam o "risco
sistêmico" que as investigações poderiam causar.
Procuradores
sugeriram ações para pressionar bancos a negociar com a "lava jato"
As
conversas começaram em outubro de 2016. O coordenador da força-tarefa, Deltan
Dallagnon, perguntou quais eram as "violações de grandes bancos" e
pede que o procurador Carlos Fernando Lima aponte as duas "mais
fortes".
"Fazer
uma ação contra um banco pedindo pra devolver o valor envolvido na lavagem, ou,
melhor ainda, fazer um acordo monetário, é algo que repercutiria muito, mas
muito, bem", disse Deltan no grupo dos procuradores no Telegram.
Lima
sugeriu pedir ajuda para o operador de câmbio Lucas Pacce, primeiro delator da
operação. Depois, Deltan sugeriu abrir um Inquérito Civil Público (ICP) para
apurar possíveis falhas de compliance dos bancos para poder pedir informações
sobre investigações internas e, com isso, pressioná-los a negociar com a
força-tarefa.
"A
ideia é pintar tempestade na portaria e mandar ofício pedindo infos sobre
investigação interna que tenham feito etc., para incentivá-los a virem para a
mesa negociar", explicou Deltan.
A
operação chegou ao primeiro banco em maio deste ano, quando foram presos três
executivos do Bancos Paulista, sob acusação de lavagem de dinheiro e fraudes
para beneficiar a Odebrecht. Os procuradores viram na medida uma chance de
demonstrar forças.
De
acordo com a reportagem, três meses antes, o procurador Roberson Pozzobon
comemorou a autorização judicial: “chutaremos a porta de um banco menor, com
fraudes escancaradas, enquanto estamos com rodada de negociações em curso com
bancos maiores. A mensagem será passada!”
A
procuradora Laura Tessler seguiu o colega: "show!!! vai ter muita gente
que vai começar a perder o sono, rs".
Delação do Palocci
Uma
grande expectativa surgia do conteúdo da delação do ex-ministro Antonio
Palocci, preso em 2016. No entanto, os procuradores consideravam que seria
difícil comprovar os depoimentos dele, como no caso de informações
privilegiadas e leis facilitadas aos bancos em troca de doações de milhões de
reais em campanhas petistas.
"O
que nós temos a favor e que é uma arma que pode explodir é que uma operação
sobre um grande banco pode gerar o tal do risco sistêmico. Podemos quebrar o
sistema financeiro. Essa variável tem que ser considerada para o bem e para o
mal", afirmou o procurador Januário Paludo, em outubro do ano passado.
Na
conversa, ele disse que seria mais estratégico adotar "medidas
ostensivas" contra pequenas instituições "para ver o quanto o mercado
vai reagir".
Palestra na Febraban
Em
outubro de 2018, Deltan foi à Federação Brasileira de Bancos (Febraban) dar uma
palestra sobre prevenção e combate à lavagem de dinheiro. Ele recebeu R$ 18 mil
líquidos.
Outras
reportagens já mostraram que Deltan queria abrir empresa de palestras para
lucrar com fama da "lava jato". Poucos meses antes de ir à Febraban,
em maio, ele havia negociado uma palestra para CEOs e tesoureiros de bancos,
organizada pela XP Investimentos, que teria entre os convidados, representantes
do Itaú, Bradesco e Santander.
Revista Consultor
Jurídico
https://www.conjur.com.br/2019-ago-22/risco-sistemico-lava-jato-poupou-bancos-investigacoes
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