“Estão
valendo 129 contos”, dizia a manchete do jornal “A Batalha”, do Rio de Janeiro,
em 10 de novembro de 1933, referindo-se à recompensa (atualizada, na época)
pelas “cabeças” de trinta e sete cangaceiros. Segundo o jornal, “o capitão João
Facó, chefe de Polícia, aprovou a tabela de preços organizada pelo tenente
Manoel Campos de Menezes, e já posta em vigor para quem trouxer as cabeças dos
bandoleiros”.
Em
1789, o Império pagou ao traidor Joaquim Silvério dos Reis pela cabeça de
Tiradentes “uma certa quantidade de ouro, o perdão das dívidas fiscais, a
nomeação para o cargo de Tesoureiro das províncias de Minas Gerais, Goiás e Rio
de Janeiro, uma mansão para moradia, pensão vitalícia, título de Fidalgo da
Casa Real, fardão e hábito da Ordem de Cristo e, ainda, um encontro em Lisboa
com o Príncipe Regente Dom João”.
Antes
ainda, em 1632, outro traidor, Domingos Fernandes Calabar, por ocasião da
invasão holandesa, cruzou o alambrado para o lado dos inimigos “por ambição,
desejo de alguma recompensa ou maior reconhecimento entre os invasores,
convicção de que estes seriam vitoriosos ao final, ou mesmo por supor que
aqueles colonizadores trariam maiores progressos à terra que os portugueses”,
segundo a enciclopédia Wikipedia.
Em
março de 2019, a decisão da juíza Gabriela Hardt valida o acordo entre a
“República de Curitiba”, liderada pela força-tarefa da Lava Jato, e os Estados
Unidos – sem respaldo em nenhuma lei brasileira – para receber R$ 2,5 bilhões
da Petrobras, valor apresentado como prêmio para promover o “combate à
corrupção” em território nacional.
Diz
ainda o despacho da juíza Hardt, autorizando a transferência dos recursos para
uma “fundação”, que “caberá ao MPF adotar as providências necessárias à
formação do Comitê, apenas informando o Juízo quem são as pessoas que o
integrarão e quais foram os critérios de seleção”. E diz mais, que “depois de
constituída, a composição e gestão da fundação não se sujeitarão à prévia
franquia jurisdicional”.
Em
27 de novembro de 2016, escrevemos em Senhor X que vivíamos uma tentativa de
implantação de um enclave externo em território nacional, que os próprios
procuradores batizaram de “República de Curitiba”, com base na operação Lava
Jato – disparada a partir das espionagens da NSA, segundo os vazamentos do
Wikileaks.
Na
época, chamamos a atenção para a decisão do Tribunal Federal da 4ª Região que
passou a considerar que a Operação Lava Jato não precisaria seguir as regras
processuais comuns, por enfrentar fatos novos ao Direito, o que parece ter a
sua consequência maior neste momento em que agem – agora financeiramente – ao
arrepio das leis nacionais.
O
comportamento de “enclave” também se verificou quando, desrespeitando acordo
internacional entre o Brasil e os Estados Unidos, os procuradores da Lava Jato
terceirizaram as delações obtidas na operação para instituições
norte-americanas, o que certamente contribuiu para chegar ao “acordo”
financeiro atual.
Em
outro artigo de Senhor X, “A ousadia dos canalhas“, lembramos do que disse o
ex-Procurador-Geral da República, ministro e presidente do Supremo Tribunal
Federal, José Paulo Sepúlveda Pertence, ao presidente José Sarney, quando se
despediu do cargo: “Eu não sou o Golbery, mas também criei um monstro”,
referindo-se ao Ministério Público Federal.
Superada
a ilusão republicana de setores que defendiam, ou relativizam seus efeitos, a
Operação Lava Jato não deixa mais nenhuma dúvida que cumpriu o papel de
destruir a economia nacional, atacando seus setores de ponta e seus players
internacionais, desde a energia nuclear, pelo petróleo, passando pela indústria
de infraestrutura, até o agronegócio, o que resulta no desastre que se verifica
atualmente.
Mas,
o prêmio, o troféu maior, como nos exemplos anteriores, tem nome, papel na
história e desafia o trem pagador de recompensas: se chama Luiz Inácio Lula da
Silva, LULA, a única instituição nacional que, apesar da intensa e criminosa
perseguição, sobrevive ao processo de destruição do Brasil a mando do Império
decadente.
PS
do Viomundo: Em 1964, na incerteza de que os militares brasileiros conseguiriam
derrubar o governo João Goulart, mesmo com uma frota naval preparada para
intervir, os Estados Unidos estabeleceram como plano B instalar um governo
provisório em Belo Horizonte, sob comando de Magalhães Pinto. Agora trabalham
com outros métodos, mas os objetivos são os mesmos: presidente autoproclamado,
financiamento para destruição do sistema partidário e da economia do país-alvo
e assim por diante.
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