Peça 1 – Bebianno e os
militares
Desde
os primeiros movimentos do governo de transição, um dos grupos que se
posicionou foi dos financiadores de campanha, Gustavo Bebianno, Paulo Marinho e
Luciano Bivar. Tentaram emplacar nomes em áreas de grandes contratos, como o
Ministério de Minas e Energia, da Infraestrutura. Foram impedidos pelo grupo
militar.
Esta
é a razão para não ter havido esforço para segurar a sua demissão, apesar dos
métodos atabalhoados de Jair Bolsonaro e filhos.
O
episódio, no entanto, revelou outra fragilidade imensa do governo: o próprio
Bolsonaro e família. Tratam as ações de governo com a mesma truculência de
disputas de bar, de grupos de rua. Some-se as revelações que estão a caminho,
sobre o relacionamento com milicianos, e se terá exposta a chaga maior do
governo.
O
que fazer?
Peça 2 – Sérgio Moro e a
Lava Jato
Hoje
em dia, o Ministro Sérgio Moro é uma figura politicamente exposta. A frente
antiLula conferiu-lhe uma procuração para um trabalho específico: liquidar com
Lula e o PT. Ao aderir ao governo Bolsonaro, Moro extrapolou, tornou-se
vulnerável, especialmente porque sua fama de durão está exposta ao desafio
diário de servir a um grupo suspeito de ligações com milícias.
Por
outro lado, a fase anti-Lula conferiu-lhe – e ao seu grupo – um poder absoluto,
na qual todas as suspeitas foram minimizadas e todos os pecados foram
absolvidos. E Moro tem, no seu entorno, uma esposa ambiciosa e um primeiro
amigo, Carlos Zucolotto Júnior, para lá de suspeito, e o mercado milionário das
delações premiadas. Caindo a blindagem, a pescaria da mídia encontrará um
cardume de operações no mínimo suspeitas.
O
que fazer?
Peça 3 – o reinado do
terror
A
única saída para ambos – Bolsonaro e Moro – seria ampliar o estado de terror do
país. E não bastarão ações espetaculosas contra PCCs e outros grupos rivais das
milícias. A pressão maior virá da economia formal, do status quo, da economia,
ansiosa por uma trégua política que permita a retomada dos negócios. E o
destino de Moro – e do próprio Bolsonaro – é incompatível com a normalidade
política. Ambos não se sustentam fora da guerra primária, da construção de
inimigos imaginários.
É
nessa estratégia que se encaixa a tal Lava Jato da Educação. Permitirá
enfrentar simultaneamente o tal “marxismo cultural”, seja lá o que isso
signifique, sacrificar grandes grupos educacionais, atendendo à sede de sangue
das bestas das ruas, tudo em nome da bandeira sagrada do antipetismo e da
promessa de eliminação do sucessor de Lula, Fernando Haddad.
Terão
fôlego para mais uma Noite de São Bartolomeu sem fim? Esta é a dúvida.
Peça 4 – Lei da
Transparência e Comando Sul
Como
lembra um leitor, enquanto esteve na interinidade, o general Hamilton Mourão
assinou o decreto que suspende a lei da transparência e confere a determinados
funcionários públicos o poder de declarar sigilo sobre documentos e informações
governamentais. Alguns dias depois um
almirante estadunidense, chefe do Comando Sul das forças armadas dos EUA, que
engloba toda a América Latina, revela que o seu vice comandante é um general
brasileiro.
Para
completar o ciclo, os serviços de inteligência de Cuba descobrem que os Estados
Unidos estão concentrando forças especiais, especializadas em operações de
desestabilização, treinamento, apoio e comando de tropas mercenárias. É um
pequeno exército de cinco mil soldados profissionais, altamente treinados para
atuações pontuais, altamente destrutivas e furtivas, em guerras assimétricas.
Peça 5 – o incêndio do
Reichstag
Parte
significativa do país está cansada de guerra. O próprio Hamilton Mourão, já
captou a estratégia correta, de conversar com vários setores. A esta altura não
deve haver mais dúvidas sobre o estamento militar dos riscos de um alucinado na
presidência. As dúvidas são em relação à
própria estratégia dos militares.
Nas
últimas décadas, apesar das declarações desinformadas de falsos intérpretes do
Brasil – como o inacreditável Ministro Luis Roberto Barroso -, houve uma
deterioração do sistema partidário, sim, mas o país avançou politicamente.
Organizações sociais como o MTS (Movimento dos Trabalhadores Sem erra), MTST
(Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), quilombolas, organizações sociais
populares ou ligadas a grupos econômicos, conseguiram canalizar as demandas
sociais para os caminhos institucionais. Todo seu trabalho visa preparar trabalhadores
para o mercado de trabalho, suprindo a falta de Estado para as populações
pobres. E sua manifestação política mais radical são passeatas, apenas isso.
Haverá
isenção no estamento militar para entender esse quadro, buscar a pacificação
nacional, ou também apelará para a figura do inimigo interno como forma de
perpetuação? Haverá a pacificação ou, além de Moro e Bolsonaro, se está
preparando um incêndio do Reichstag à brasileira? Não há sinais de que a
economia, por si, poderá legitimar o atual governo.
Em
todo caso, tenho uma breve esperança de que a guerra permanente começa a
cansar.
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