Em
um tempo de festas pelas ruas, guiados por insanos e devassas musas nuas,
bêbados e cegos pisam flores. Um tempo de enjoo, um tempo de azia. Em um tempo
de ressacadas, choramos pelas flores esmagadas. Nossos sonhos e nossas dores –
nossos amores.
E
há essa urgência em recolhê-las pisadas pelas calçadas e replantá-las em
jardins e praças públicas. Mas os jardins, agora, estão fechados, noite e dia,
a cadeado e há vigias e portões em suas cercanias e fronteiras.
Os
jardins não abrem mais aos domingos. Todos os dias transformaram-se em
segundas-feiras, com seus patrões, suas moendas e britadeiras. Todos os dias
são agora dias santos com seus cânticos, sacerdotes e penitências. Todos os
dias, feriados nacionais, com generais e gestos de continência.
Os
jardins e as praças são agora campos de mineração.
E
um tempo de razia, deixaram-nos vazias as vidas e as mãos. Perdi meu tempo e a
razão. Neste tempo em que é necessário novamente dar-se as mãos – como meio de
proteção - enterrei vários amigos. Um tempo de perdição.
Impedida
a passagem, meus companheiros de viagem sentaram-se à beira do mundo. O
mundo-meio-fio e a sua sarjeta. Em um tempo de vendeta que se avizinha, maus
pressentimentos correm como dedos frios cada nó da espinha.
Estão
exaustos. Gastamos as palavras e as solas dos sapatos. Em vão. Trazemos as
roupas sujas. Mas as mãos estão limpas. E os sentimentos estão sãos.
Mudos,
contemplam o horizonte perdido em um grafite colorido no muro da prisão. Um
conselho de finados ou algo assim: quando os soldados, por fim, apagarem a luz
e ficarmos na escuridão, procura por mim e não solta da minha mão.
PS:
quando a razão se torna irracional, meu coração se refugia na Oficina de
Concertos Gerais e Poesia.
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