O
fato de que, em pleno século XXI, em um país como o Brasil, a maioria do povo
possa ter votado em um projeto de governo representado por Jair Bolsonaro,
merece estudos e reflexões que não se esgotarão em poucos dias, ou em algumas
páginas de artigos. Sem dúvida, se o discurso de ódio e intolerância de um
homem como o vencedor dessas eleições foi capaz de germinar e frutificar em uma
população tão diversificada é porque o vírus já estava incubado no coração das
pessoas e dos grupos sociais. Ele só aproveitou a ocasião propícia para fazer
aflorar a revolta sem rumo das massas e conciliá-la com os interesses da elite
escravagista.
Aparentemente,
na luta da civilização contra a barbárie, a maioria do povo brasileiro optou
pela barbárie. O povo pobre votou contra si mesmo e o engodo no qual caiu não
será descoberto como equívoco a não ser pouco a pouco e de forma parcial. Para
quem segue um caminho espiritual, seja cristão, seja de outra tradição
religiosa, o resultado dessas eleições mostra o descrédito total da fé, travestido
em uma religião, morta e empalhada, usada como bandeira para as piores causas,
antissociais e desumanas. Grande parte dos religiosos não só se somou ao
projeto do ódio e da intolerância, como contribuiu para a vitória do mal.
Em
1964, padres e fieis foram às ruas para festejar o golpe militar. Em várias
capitais, em nome de Deus, encabeçaram a Marcha por Deus, pela pátria e pela
família. O resultado disso, todos nós conhecemos. Na Alemanha do Nazismo, em
1933, a maioria dos bispos, padres e pastores manifestaram apoio a Hitler, ao
Nazismo e à esperança de uma Alemanha centrada na pureza da raça teutônica. Um
pequeno grupo de pastores e fieis, coordenados pelo teólogo e mártir Dietrich
Bonhoeffer começou o que se chamou Igreja da Resistência.
No
Brasil atual, teremos de retomar o espírito da resistência e formar células,
núcleos que reúnam as comunidades indígenas e afrodescendentes e todas as
pessoas que amam a justiça e a paz. Será preciso reorganizar a esperança e
reanimar a militância que trabalhou tão bem nessa campanha. Agora precisa
refazer no povo a luta do mundo novo de uma mística laical (não religiosa).
Será uma espiritualidade política libertadora que possa com a força do amor
vencer a barbárie.
https://www.brasildefato.com.br/2018/11/08/chamado-para-a-resistencia/
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