Uma
inquietação tomou conta de mim nos últimos dias. Parei de escrever, e dediquei
meu tempo à leitura dos comentários publicados no Brasil 247 e em outras redes
sociais, vindos daqueles que, jocosamente, são apelidados de coxinhas. Quem são
esses caras raivosos, truculentos, donos da verdade, filhotes de Donald Trump
na versão tupiniquim? No início pensei que fossem representantes da burguesia,
inconformados com a distribuição de direitos que antes eram apenas privilégios
de suas castas. Algo mais ou menos como o cara que estudou a vida inteira nas
mais caras escolas particulares, contando com sua vaga garantida numa
universidade pública, onde cabe ao pobre tão somente financiar seu glorioso
ciclo educacional. Depois me lembrei da vida glamourosa do High Society, onde
dondocas e engravatados ofereciam boca livre para colunistas sociais em troca
de uma notinha de jornal. Indo um pouco mais além, encontrei outro foco
importante de parasitas sociais, com destaque para empresários gananciosos,
avessos a qualquer direito trabalhista que reduza sua margem de lucro. E
concluí, ainda mais intrigado, que não são eles os que mais entopem as redes
sociais com comentários levianos e boçais.
As
elites conspiram. Não perdem tempo retrucando nas redes sociais. A retórica da
luta contra o comunismo, o ódio insano contra partidos políticos progressistas,
o moralismo hipócrita que enaltece a corrupção de um lado, ao mesmo tempo em
que a tolera acintosamente do outro, são sintomas claros da "síndrome do
burro sem rabo". Para quem não sabe, burro sem rabo era o apelido dado aos
carroceiros na primeira metade do século XX, sem o uso de tração animal.
Passavam o dia inteiro circulando com suas pranchas assentadas em pesadas rodas
de ferro, transportando mercadorias de um canto para o outro.
Assim
são os coxinhas. Passam o dia inteiro carregando preconceito, ódio,
intolerância e deturpação da realidade. Ao contrário dos carroceiros de
antigamente, que pelo menos ganhavam algumas moedas por tanto esforço, os burros
sem rabo do século 21 transportam a mentira das elites de graça, depositando
esse lixo ideológico na timeline de qualquer um que ainda não tenha se tornado
zumbi da direita. Falam sobre comunismo sem saberem a diferença entre um saco
de batatas e outro de chuchu. O Brasil nunca foi tão capitalista quanto no
período governado pelo PT. Banqueiros nadaram em dinheiro, a produção
industrial não foi suficiente para atender a demanda, a classe média foi ao
paraíso. Os burros sem rabo sabem que isso é verdade, mas, por serem facilmente
manipulados, se tornaram prisioneiros de suas fraquezas intelectuais.
Entre
os "clientes" dos burros sem rabo estão Jair Bolsonaro, Silas
Malafaia, Janaína Paschoal, a turma do MBL, Alexandre Frota, entre outros. Tudo
o que eles postam são compartilhados por milhares desses puxadores de carroça.
Desde que Michel Temer tomou para si o poder, nenhum trabalhador desempregado
saiu dessa situação. Pelo contrário, o desemprego só aumenta. Agora, o governo
está a um passo de mergulhar a saúde e a educação num abismo profundo, com a
aprovação dessa malfadada PEC 241. Aposentadoria só na hora da morte, direitos
trabalhistas extintos, entrega do patrimônio nacional ao setor privado, o circo
pegando fogo e o Zé Mané perdendo tempo com um "comunismo" que nunca
existiu no Brasil.
É
muito triste ver pessoas em idade avançada, profissionais liberais, chefes de
família, donas de casa, perfilarem ao fascismo. Um bando de sádicos conseguiu
convencer o povo alemão a entrar numa guerra, que resultou em milhões de
mortos. A estratégia de Hitler foi convencer a maioria do povo sobre a
existência de um inimigo a ser destruído: os judeus. As atrocidades cometidas
por civis foram tão ou mais cruel do que as praticadas nos campos de
concentração. A semeadura do ódio nas redes sociais, contra os setores de
esquerda no Brasil, é um passo perigoso na direção da intolerância. Já vi
comentários absurdos, vindos desses burros sem rabo, a respeito das ocupações
das escolas por jovens que estão lutando por seus direitos. Não vou
reproduzi-lo aqui, para não sujar minhas mãos nem violentar minha consciência.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/celsoraeder/263308/Os-burros-sem-rabo.htm
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