Os
brasileiros tiveram uma lição de luta de grande importância nesta quarta-feira
(26) quando, com tranquilidade e veemência, a estudante secundarista Ana Julia
Ribeiro, de apenas 16 anos de idade, defendeu perante a Assembleia Legislativa
do Paraná a luta dos jovens e as ocupações de escolas que se espalham pelo
Brasil. Maior clareza seria impossível. Sabemos porque lutamos: contra o
desmonte da educação e pelo Brasil, enfatizou. E o que aprendemos são lições
que ficarão conosco pelo resto da vida, assegurou.
Neste
momento em que a crise política, institucional, econômica e social cresce, as
palavras firmes de Ana Júlia reforçam a crença na disposição de luta dos
brasileiros.
O
governo golpista de Michel Temer ascendeu ilegitimamente ao lugar que era da
presidenta eleita Dilma Rousseff com a promessa de tirar o país da grave crise
que cresceu desde a eleição de 2014. A promessa, vã, era de sanear as contas
públicas e reencontrar o caminho do crescimento e da estabilidade.
Não
foi o que aconteceu entretanto, e desde a consumação do golpe, em 31 de agosto,
as dificuldades aumentam em todas as áreas – social, institucional, econômica e
política. O Brasil afunda em uma crise sem precedentes, e sem lideranças com
legitimidade para reconduzi-lo à rota da normalidade.
O
retrato mais dramático da crise é o desemprego crescente que atinge 12 milhões
de brasileiros; isto é, 11,8% dos trabalhadores. Este fantasma volta a
assombrar depois de uma década em que, sob Lula e Dilma, ele parecia eliminado.
Lutar
pelo Brasil, como disse a estudante paranaense, é lutar pela educação e também
pela valorização do trabalho e da renda, prioridades abandonadas depois do
golpe de 31 de agosto, trocadas por uma austeridade fiscal ruinosa e enganadora
que elimina direitos sociais e joga o custo da crise sobre o povo e os
trabalhadores.
E
significa mais corretamente a tomada de assalto, pelos ricaços e sua
representação política de direita, do poder de Estado e dos gigantescos
recursos públicos outra vez postos à disposição apenas da especulação
financeira, para o pagamento de juros exigidos pela ganância rentista.
A
hipocrisia midiática conservadora tenta dar curso à narrativa de que o golpe
parlamentar-judicial (que chama de impeachment) ocorreu devido a desmandos
cometidos pela presidenta Dilma Rousseff. Mas mal disfarça que o motivo real de
seu afastamento foi o esforço para derrotar o projeto desenvolvimentista e
nacionalista que estava no governo, e substituí-lo pelo desmonte da
Constituição e do projeto de desenvolvimento favorável ao bem-estar dos
brasileiros, da economia nacional e da soberania do país.
A
crise brasileira reflete o desmonte pelo governo golpista daquele projeto e o
retorno do favorecimento apenas da especulação financeira e dos muito ricos, do
Brasil e do exterior.
Os
objetivos do golpe ficam mais claros quando o direito de greve dos funcionários
públicos (assegurado pela Constituição) é restringido a pretexto de impedir
manifestações contra o governo golpista de Michel Temer. Ficam visíveis na
projetada reforma trabalhista que elimina direitos conquistados com muita luta.
Na reforma previdenciária que praticamente elimina o direito dos trabalhadores
à aposentadoria e corta outros direitos. Na entrega da Petrobras e do pré-sal a
empresas estrangeiras, principalmente norte-americanas.
À
medida em que os verdadeiros objetivos regressistas do golpe ficam claros, a
reação popular cresce. O exemplo mais visível, hoje, da intensa reação popular
são as ocupações de escolas em protesto às investidas conservadoras contra a
educação e o ensino. Outra grande expressão da luta popular é a resistência
contra a PEC 241 (que congela por 20 anos os gastos do governo, mas não mexe no
pagamento de juros à especulação financeira).
Os
estudantes que ocupam escolas pelo Brasil afora formam o batalhão de frente de
uma luta que promete crescer. E que tem marcado, para o próximo dia 11 de
novembro, um dia nacional de luta convocado pelo conjunto das centrais
sindicais (CTB, CUT, Força Sindical, NCST, UGT, CGTB, Intersindical e
CSP-Conlutas) e por organizações do movimento social, como a Frente Brasil
Popular e a Frente Povo Sem Medo.
A
luta crescerá e suas lições, de resistência democrática e nacional, podem
fortalecer a consciência popular no rumo de novos e mais efetivos avanços.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/11/ana-julia-e-as-licoes-das-escolas.html
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