No
momento que o mundo assiste ao final do processo eleitoral nos EUA e as pessoas
manifestam sua preocupação com a vitória de Donald Trump, que pautou sua
campanha na difusão do preconceito, da xenofobia, da misoginia, do ódio, da
mentira, nos perguntamos o que isso tem de semelhante com o cenário político no
Brasil? E a resposta é: tudo! O resultado do plebiscito no Reino Unido e a
vitória de Brexit, a rejeição ao acordo de Paz no plebiscito colombiano, o
golpe jurídico parlamentar no Brasil, o crescimento dos partidos de extrema
direita na Europa são resultado de um mesmo processo.
A
resposta fascista é estratégica para conter as conquistas democráticas, dando
melhor resposta ao sistema neoliberal cuja hegemonia do capital financeiro
implica na abertura total às multinacionais e na redução do Estado na esfera
social. Esse processo de rearticulação do capitalismo mundial, que se define
com um sistema a favor das elites, impõe medidas de arrocho econômico à
população em sintonia com o desmantelamento o Estado democrático de direito.
A
crise internacional, que persiste há quase uma década, desde 2008, inicialmente
nos EUA, depois na Europa e mais recentemente nos Brics e países emergentes,
fabrica justificativas para a tomada de medidas extremas antidemocráticas e não
humanistas, favorecendo, assim, o discurso triunfante a favor de um mundo
individualista e excludente, do "nós contra eles", que descarta seus
excedentes humanos, atua para desconstituir os sujeitos de direito de sua
condição de cidadania e marginalizá-los, cumprindo o ritual de combate aos
imigrantes, às mulheres, à população LGBT, aos negros (as), aos povos
indígenas, aos jovens que protestam.
Nesse
mundo vigora a mentalidade da meritocracia fraudulenta que remete o sucesso ou
fracasso ao resultado do esforço exclusivamente individual, e apela para o lema
de ordem o progresso. Entendendo a dinâmica da exclusão, não podemos relegar a
disputa de valores em torno de uma moral conservadora que serve como capital
político para ascensão dos defensores de um regime político opressor que faz o
giro do abandono das políticas sociais.
Ao
cooptar setores da sociedade para uma visão conservadora e reacionária que,
inferioriza as mulheres, despreza as pessoas em situação de pobreza,
criminaliza os movimentos sociais e condena as diferenças, aplica-se o
receituário de redução de direitos que caracteriza o atual contexto.
As
táticas de manipulação e cinismo forjadas por mecanismos que disseminam a
mentiras tomadas como verdades e instalam o medo por meio de medidas de
repressão também se apoiam nos discursos de ódio que se fundam no não
reconhecimento da dignidade humana para estimular o enfrentamento entre os
indivíduos e a indiferença, suplantando a ideia de bem-estar social. Dentro
dessa lógica agressiva, a mídia alinhada à política de Estado entreguista e
subordinada constrói a figura do "outro" como a representação do mal,
do problema social, do desvio moral que, portanto, deve ser eliminado. O
confronto aos direitos humanos, aos ideais de justiça social, solidariedade e
inclusão serve para justificar o Estado de exceção.
Vivemos
uma ruptura com o projeto de fazer do Brasil um país de todos (as) que afasta o
país das concepções de direito à igualdade, valorização das diferenças e
inclusão e resulta em um retorno aos patamares estrondosos de exclusão e
enfraquecimento da democracia em todas as suas dimensões.
Os
resultados eleitorais de 2016, seja nos municípios brasileiros ou nos EUA,
mostram uma configuração nada estranha em tempos de desprezo à democracia e
supremacia das políticas neoliberais.
No
Rio de Janeiro, Marcelo Crivella se elege prometendo ser implacável com a
suposta "ideologia de gênero"; em Curitiba, Rafael Greca extravasa a
estupidez do sistema para poucos e revela sentir ânsia de vômito com o cheiro
de pobres; em Porto Alegre, o cinismo eleitoral do momento apresenta como
expressão do "novo" a candidatura de Nelson Marchezan Jr., cuja
origem política remete aos partidos que sustentaram ditadura militar no país e;
em São Paulo, João Dória vence representando um artifício manipulador que volta
a favorecer a superioridade eleitoral dos mais ricos e a despolitização de
eleitores. O ano de 2016, embora não seja exceção dentro do sistema, evidencia
com mais propriedade a resposta fascista aos avanços democráticos.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/paulopimenta/264748/A-elei%C3%A7%C3%A3o-nos-EUA-a-resposta-fascista-aos-avan%C3%A7os-democr%C3%A1ticos.htm
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