O
período político iniciado em 2003 com a primeira eleição do Lula e terminado em
2016 com o golpe contra a Dilma, representou um período excepcional da história
brasileira. Em dois sentidos: no primeiro, porque, diminuiu extraordinariamente
a desigualdade no Brasil. No segundo, porque fez o país caminhar na direção
oposta que os outros governos tinham feito.
Para
isso, o governo fez do Executivo o eixo dinâmico que impulsionou o Estado a
atuar em favor da grande maioria da população e não apenas da minoria, como
sempre tinha acontecido. Embora amplamente minoritário no Congresso, mediante
alianças políticas, o governo logrou colocar em prática os temas fundamentais
da sua plataforma eleitoral, antes de tudo a prioridade das políticas sociais.
A
direita se sentiu muito contrariada, tentou derrubar o Lula, pela campanha que
denominou de “mensalão”, primeiro através de um impeachment, depois na campanha
eleitoral de 2006. Não conseguiu, mas seguiu assentando suas baterias contra o
governo, mesmo terminando por reconhecer que as políticas sociais do governo é
que tinham permitido a reeleição do Lula e sua imensa popularidade.
Mesmo
contando com o monopólio dos meios de comunicação e desenvolvendo campanhas
sistemáticas contra o governo, a direita não conseguiu voltar a controlar o
governo. Perdeu quatro eleições presidenciais consecutivamente. Mas manteve,
como seu objetivo central, tirar o PT do governo. Se deu conta que essa
situação permitia ao governo desenvolver políticas sociais que mantinham o
apoio popular, como ficou patente também no resultado eleitoral de 2014.
Foi
preciso um golpe para que a direita expulsasse o PT do governo e se
reapropriasse inteiramente do Estado. Se valeu da maioria parlamentar
conseguida em 2014, mas também da anuência do STF, com o silêncio cúmplice, que
permitiu o golpe.
A
partir dessa virada, o que vemos hoje é um Estado plenamente alinhado com a
direita e seu projeto de restauração conservadora. O governo é o agente direto
dessas iniciativas, apoiado por uma ampla maioria no Congresso, pelo silêncio
do STF, pela ação da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, de
promotores e pela sempre sistemática ação de propaganda direta da parte dos
meios de comunicação.
O
Estado revela assim, de forma explícita, seu caráter de classe, revertendo os
espaços que tinham permitido que as classes populares tivessem podido afirmar
seus direitos, valendo-se de uma liderança popular que as levou a vitórias e a
melhorias substancias nas suas condições de vida. O golpe instalou no governo
uma agenda sistemática de vingança contra aqueles avanços, de reversão das
correlações de forca entre as classes, valendo-se do Estado em todas as suas
instâncias.
O
Estado atua de forma uníssona contra o PT, o Lula, tanto que a república
praticamente desapareceu. O Legislativo agiu fora de suas atribuições,
valendo-se de uma maioria parlamentar para depor uma presidenta sem crime de
responsabilidade, agindo como se estivéssemos num parlamentarismo. O Executivo
viu uma presidenta reeleita pelo voto popular ser deposta. E o Judiciário
assiste a todas as arbitrariedades calado. Dessa forma não existe mais
república no Brasil.
Mais
do que nunca se coloca para a esquerda e para a democracia brasileira a
necessidade de lutar por uma Assembleia Constituinte que permita, mediante uma
ampla representação popular, refundar o Estado brasileiro, para garantir a
democracia no pais.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/10/direita-se-apropria-totalmente-do-estado.html
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