Moro
já é um fósforo riscado para a plutocracia? Já fez, como Eduardo Cunha e
Joaquim Barbosa, o serviço que se esperava dele e está prestes a ser
descartado?
São
provavelmente as perguntas mais fascinantes do mundo político brasileiro nestes
dias.
Que
a unanimidade se esborrachou é fato. Quando a mídia mainstream começa a
contestá-lo, ela que sempre o adulou incondicionalmente, é porque tudo mudou.
As
críticas não apenas surgiram — como trouxeram um tom surpreendentemente pesado.
Quando,
até pouco tempo atrás, você poderia esperar de um colunista da Folha — o
cientista Rogério Cézar de Cerqueira Leite — escrevesse a seguinte frase, no
curso de uma troca de artigos duros com Temer? “O juiz ainda se esquiva de
responder à principal acusação que lhe fiz, a de que é absolutamente parcial e
está a serviço das classes dominantes.”
É,
sem dúvida, a colocação mais contundente que já foi feita a Moro na grande
imprensa.
Considere.
Cerqueira não diz apenas que Moro é parcial. Acrescenta o advérbio
“absolutamente”.
Quem,
também, poderia imaginar que um colunista do porte de Elio Gaspari, insuspeito
de qualquer simpatia pelo PT como se vê em seus artigos na Folha e no Globo,
saísse em defesa de Cerqueira e desse uma sarrafada em Moro?
Cerqueira
comparou Moro a Savanarola, um fanático religioso que tentou transformar
Florença num estado cristão no século 15 e terminou numa fogueira.
Gaspari,
para imensa surpresa de seu público conservador, disse que a resposta de Moro a
Cerqueira mostrava, de fato, um traço de Savanarola nele e na sua Lava Jato.
Num
plano um pouco mais ameno, mas não menos incômodo, soube-se que o ator Wagner
Moura recusou trabalhar com o diretor José Padilha numa série sobre a Lava
Jato.
Por
trás de tudo está a postura de Moro. O fato é que ele num certo momento pareceu
ter desistido sequer de parecer um juiz imparcial. Isso quer dizer: ele abusou,
provavelmente embriagado pelos afagos da mídia.
Achou
que podia tudo. Deixou-se fotografar ao lado dos barões da mídia e de cardeais
políticos do golpe, promoveu vazamentos escandalosamente selecionados e passou
a perseguir Lula de uma forma indecente.
Tudo
isso corroeu seu cacife inicial de uma maneira aparentemente irreversível.
Moro
teve que fazer muito, mas muito mesmo, para ouvir de um colunista
respeitadíssimo — e sóbrio — da Folha um questionamento devastador como aquele
no qual é acusado de ser “absolutamente parcial e estar a serviço das classes
dominantes”.
Vamos
ver se Moro atende o pedido de Cerqueira e responde a esta acusação,
compartilhada por milhões de brasileiros. Até aqui, o que temos é o silêncio.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-pergunta-do-colunista-da-folha-que-moro-nao-respondeu-por-paulo-nogueira/
Nenhum comentário:
Postar um comentário