“Apatifar”,
nos diz o Aurélio, significa tornar desprezível, aviltar, envilecer. Pessoas se
apatifam, nações inteiras podem se apatifar, ou serem apatifadas. O mundo hoje
vive uma assustadora onda de contágio viral que, espera-se, acabará controlada
ou, eventualmente, desaparecerá. Já patifaria não mata, mas também contagia,
com a diferença de que não tem nem perspectiva de cura.
É
impossível observar o Brasil de hoje sem a sensação de estar assistindo a uma
pantomima tragicômica, à decomposição de um Estado que, dissessem o que
dissessem de governos anteriores – inclusive os lamentáveis -, mantinha, pelo
menos, a linha, o que é mais do que se pode dizer da atuação de Bolsonaro &
Filhos no palco do poder.
Agora
se entende por que Bolsonaro insistia em dizer que não houve um golpe em 64 nem
uma ditadura militar nos 20 anos seguintes: ele queria montar o seu próprio
regime militar, enchendo o Planalto de generais de fatiota que deixam seus
tanques no estacionamento e entram pela rampa principal, rindo da gente.
Implícita nessa original tomada do poder está a ideia imorredoura de que só uma
casta iluminada, os militares, sabe governar um país.
O
apatifamento de uma nação começa pela degradação do discurso público e pela
baixaria como linguagem corriqueira, adotadas nos mais altos níveis de uma
sociedade embrutecida. Apatifam-nos pelo exemplo. Milícias armadas impõem sua
lei do mais forte e mais assassinos com licença tácita para matar. Há uma
guerra aberta com a área de cultura e a ameaça de um retrocesso obscurantista
nas prioridades de um governo que ainda não aceitou Copérnico, o que dirá
Darwin. Aumentam os cortes de gastos sociais, além de cortes em direitos
históricos dos trabalhadores. Aumenta a defloração da Amazônia. Aumentam as
ameaças à imprensa.
E
aumenta a suspeita de que, na Universidade de Chicago, o Paulo Guedes só
assistiu às aulas de bobagens para dizer, caso a economia não deslanche.
*Luis
Fernando Veríssimo/Estadão
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