Dois
pares de sapato, uma coxa saltitante. Esta é a imagem que aparece nas imagens
em que se destaca a voz do ex-ministro Antônio Palocci, na edição desta
segunda-feira, 10 de setembro, do Jornal Nacional.
A
imagem é tão grotesca quanto as acusações que Palocci faz, e a Globo divulga,
sem nenhuma comprovação do que é dito por ele.
William
Bonner chama a reportagem:
“O
ex-ministro de governos petistas Antônio Palocci, delator da Lava Jato, prestou
um novo depoimento ao Ministério Público e disse que o ex-presidente Lula, em
alguns casos, cuidou diretamente do pedido de propina”.
A
reportagem, segundo Bonner, é de três repórteres, Vladimir Netto, Camila Bonfim
e Cláudia Bomtempo, dura quase quatro minutos e, quando termina, deixa a
sensação no leitor mais crítico de que a matéria não vale o sapato mal
engraxado de um dos procuradores.
Um
deles gagueja quando Palocci, usando uma frase de efeito, diz que a descoberta
do pré-sal se tornou o motivo de um “delírio político no âmbito governamental”.
“O
presidente Lula começa então a se descuidar da parte legal de sua atuação como
presidente e passa a atuar diretamente no pedido de propina”, afirmou.
Se
fosse uma empresa de jornalismo, só esta frase já seria o suficiente para jogar
o VT no lixo ou fazer algum tipo de apuração que comprovasse a fala de Palocci,
de extrema gravidade.
Gaguejando,
o procurador faz uma colocação:
“A
partir do pré-sal é que ele tem uma, uma…atu… mas ele é…”
Palocci
socorre o interrogador:
“Ele
sempre soube que tinha ilícito, sempre apoiou as iniciativas de financiamento
ilícito de campanha, mas no caso do pré-sal ele passa a ter uma atuação
pessoal”.
Em
jornalismo, as perguntas básicas são “o que, quando, onde, por que e como”.
Palocci
não dá nenhuma resposta concreta, e uma das três autoras da reportagem segue na
narração:
“Palocci
disse que Lula também atuou na negociação de compra de caças para as forças
armadas.”
E,
com foco numa perna, ouve-se o ex-ministro dizer:
“O
presidente chegou a assinar o protocolo, um contrato com o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, uma iniciativa completamente inadequada, porque isso estava
sendo conduzido tecnicamente pela área de defesa, que se viu atropelada por
ambos o presidentes, da França e do Brasil, e isso gerou todo tipo de propina”.
Na
sequência, a própria repórter dá uma informação que desmente Palocci:
“O
governo brasileiro acabou fechando negócio dos caças com a Suécia”.
Ora,
pela narrativa de Palocci, Lula recebeu propina da França, mas comprou caças da
Suécia.
Não
faz sentido.
Na
sequência, o ex-ministro joga lama no ex-presidente com a acusação de que Lula
pediu propina na construção da usina de
Belo Monte.
Provas?
Nenhuma.
Chama
atenção ainda que o depoimento foi prestado no dia 26 de junho, por
investidores da operação Greenfield, que apura irregularidades em fundos de
pensão.
Mas
só agora, no meio da campanha eleitoral, é divulgada. E pior: sem uma prova que
corrobore o depoimento.
Em
dois meses e meio, os procuradores não podiam encontrar uma mísera prova que
fosse? Ou um fiapo de prova?
É
o tipo de vazamento que exala o mau cheiro de tentativa de manipulação
eleitoral. Fraude.
Os
procuradores conversam com Palocci há bastante tempo e, se quisessem ouvir dele
denúncias mais facilmente comprováveis, teriam prato cheio.
Mas
aí não conseguiriam espaço na Globo.
É
que, alguns meses depois de ser preso, ele começou a manifestar interesse de
fazer a delação e sair da cadeia.
Numa
das primeiras conversas com os procuradores, ele citou algumas empresas que
poderiam ser implicadas com sua colaboração.
Quando
citou a Globo, a reunião acabou.
É
que Palocci teria dito que conduziu uma operação de conversão de uma dívida da
Globo em dólar que significou uma economia bilionária para a empresa.
Palocci
voltou a insistir neste tema num depoimento a Sergio Moro, conforme gravação
que se tornou pública.
“Empresas
de comunicação tiveram problemas sérios neste período, inclusive algumas
empresas declarando default nos seus compromissos”, disse.
Moro
mudou de assunto, conforme se pode ver no vídeo abaixo.
Mais
tarde, o ex-ministro voltou a prestar depoimento e já não citou as empresas de
comunicação. Foi um escandaloso recuo de Palocci.
Em
vez da Globo e de outras grandes empresas, ele soltou uma frase de efeito, para
tentar manchar Lula, aquela segundo a qual o ex-presidente e Emílio Odebrecht
teriam feito um “pacto de sangue”.
Provas?
Nenhuma.
Mas
quem precisa de provas diante de investigadores e juízes que têm alvos
definidos?
É
só entregar o que pedem e esperar pela recompensa.
Palocci,
por exemplo, negociou com a Polícia Federal, em outra delação, ficar com 30
milhões de reais dos 60 que foram bloqueados.
Além
disso, claro, espera ir para casa, onde usará tornozeleira por algum tempo.
Não
muito.
Afinal,
Palocci tem um ativo que se acredita ter valor em tempo de eleição: uma língua
a serviço de quem quer transformar processo judicial em discurso de campanha.
Os
procuradores dão a senha, Palocci fala, a Globo propaga. Tudo com aparência de
que o Brasil está sendo passado a limpo, refundado.
Nada
mais falso.
Nestas
delações, sobram adjetivos, faltam substantivos.
Uma
vergonha.
Mas,
para muitos, de que vale a vergonha num tempo de caça.
Não
tem dado certo, mas eles insistem.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/palocci-e-o-depoimento-que-nao-vale-o-sapato-mal-engraxado-do-procurador-por-joaquim-de-carvalho/
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