A
teoria de que os Estados Unidos da América atuaram ativamente na implantação e
sustentação das ditaduras que assombraram a América Latina no século XX deixou
de ser uma teoria faz muito tempo, dadas as evidências disponíveis sobre o
assunto.
Leia,
a título de exemplo, esta matéria de 2007 – da insuspeita IstoÉ – sobre a
participação dos EUA no golpe de 64. Os detalhes da participação do Tio Sam na
organização das Marchas da Família com Deus Pela Liberdade – as micaretas
coxinhas de antigamente – foram fornecidos pelo próprio governo americano, por
meio de documentos secretos desclassificados.
O
tempo passou e o custo político de bancar golpes militares – e seus costumeiros
tanques nas ruas, perseguições, torturas e mortes de opositores – foi ficando
cada vez maior. Isso se deve à globalização, à instantaneidade das comunicações
proporcionada pela internet e à evolução de consciência da humanidade,
traumatizada com as guerras e ditaduras sangrentas tão tristemente corriqueiras
na história da nossa espécie.
Os
EUA passaram, então, a adotar outro tipo de tática – mais limpinha, digamos
assim – para interferir em governos ao redor do planeta, sempre visando manter
a sua hegemonia política, econômica e ideológica. Trata-se da guerra híbrida.
O
golpe de 2016 no Brasil é um belo exemplo deste novo tipo de guerra,
caracterizado por métodos não convencionais de interferência política. A
manipulação da opinião pública, expediente largamente utilizado em 64,
sofisticou-se, apesar de manter o foco no mesmo anticomunismo tosco – e agora
absolutamente anacrônico – do século passado. Já os militares foram
substituídos pelo Judiciário, poder historicamente antidemocrático, conservador
e subserviente ao capital, para que haja um certo verniz de legalidade sobre as
ações autoritárias. A Justiça, sob a proteção dos oligopólios de mídia, tem
carta branca para perseguir os líderes políticos que desagradam o império,
distorcendo à vontade a Constituição e as leis do país.
A
perseguição judicial a três ex-presidentes latino-americanos do campo da
esquerda insere-se neste contexto de sofisticação das estratégias imperialistas
dos EUA.
Lula
está preso sem provas para que não possa participar da próxima eleição
presidencial brasileira.
Cristina
Kirchner e agora também Rafael Correa, que também pretendem candidatar-se
novamente para a presidência, tiveram ordens de prisão expedidas contra si
pelos sistemas de justiça da Argentina e do Equador, respectivamente.
Diante
dos fatos históricos e da simples lógica – é evidente que não cessaria, de uma
hora para a outra, a fome de poder dos EUA, o império dos nossos tempos -, fica
claro que a perseguição a Lula, Correa e Kirchner é parte da nova ofensiva do
imperialismo sobre a América do Sul.
Você
pode, entretanto, acreditar que tudo não passa de uma grande coincidência, que
são apenas políticos corruptos – todos de esquerda e não alinhados aos EUA,
coincidentemente – sendo enquadrados pelo imaculado Judiciário de seus países.
A cegueira ideológica e a desonestidade intelectual não são, felizmente,
consideradas crimes.
Em
tempo: a sofisticação dos métodos imperialistas às vezes não é suficiente para
arrefecer o gostinho por dinheiro, poder e sangue do império do norte, como
demonstram, por exemplo, a guerra do Iraque, empreendida contra toda a opinião
pública mundial e sob uma desculpa que provou-se ser, de fato, apenas uma
desculpa, e a recentíssima notícia de que Trump sugeriu diversas vezes – uma
delas em púbico – que os EUA invadissem militarmente a Venezuela.
A
Venezuela, aliás, é outro país rico em petróleo, assim como o Iraque, a Líbia e
o Brasil. Se você quiser acreditar que é apenas mais uma coincidência, fique à
vontade.
Do Blog
Cafezinho
https://www.ocafezinho.com/2018/07/05/coincidencias/
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