DUZENTOS
ANOS APÓS O NASCIMENTO DE KARL MARX, DIGO EU:
O
QUE É SER SOCIALISTA?
AINDA
FAZ SENTIDO SER DE “ESQUERDA” ?
1
– POUCO ADIANTA, MAS NÃO DESISTIREMOS
Na
verdade, o mundo sempre esteve dividido entre pessoas que só pensam em si e
pessoas que se preocupam com a desgraça dos outros. A falta de informação ou
informação deturpada impedem a divulgação dos melhores valores, fundantes de
uma sociedade mais justa. A questão é ideológica.
Embora
tenha nascido em um lar privilegiado, sempre pugnei por justiça social.
Agradeço ao meu falecido pai por ter despertado em mim essa consciência
crítica. Embora corra o risco de cair num reprovável maniqueísmo, digo que se
trata de uma luta da solidariedade contra o egoísmo.
Pode
ser até utopia ou romantismo juvenil, mas é a utopia que nos faz caminhar, como
dizia Eduardo Galeano.
O
mundo já foi muito pior (mataram quase todos os índios e escravizaram os negros
e o racismo e a cobiça dizimaram civilizações). Graça à luta contra os
egoístas, o mundo melhorou e, algum dia, a solidariedade, e não a competição,
fará surgir um novo ser humano. Como disse Leon Gieco, em uma das suas belas
músicas, “há de vir uma nova cultura”.
A
nossa esperança é que, ao menos, todos tenham as mesmas oportunidades. Que os
filhos da minha empregada doméstica tenham as mesmas oportunidades sociais que
meus filhos, vale dizer, que o filho do empregado não nasça empregado e que o
filho do patrão não nasça patrão.
Enfim,
desejo que consigamos vencer este trágico determinismo de uma sociedade
profundamente injusta e indiferente à dor dos outros. Que jamais uma criança
morra nos braços de sua mãe em razão de falta de recursos para o seu tratamento
médico, enquanto outros jogam “dinheiro pelo ralo”.
2
– PORQUE SOU DE ESQUERDA
O
pensamento de esquerda prioriza a justiça social, sustentando que o Estado
Popular deve assegurar, no mínimo, as mesmas oportunidades para todos.
Para
isso, os chamados “bens de produção” devem ser gerenciados pelos trabalhadores,
que são aqueles que realmente produzem a riqueza. As riquezas produzidas pela
mão dos trabalhadores e trabalhadoras devem ser distribuídas e não concentradas
nas mãos de uns poucos. Ninguém pode explorar o trabalho alheio.
Os
valores da esquerda são a solidariedade e igualdade. Busca-se uma sociedade
justa, sem explorados e exploradores.
Já
a chamada “direita” privilegia a competição e a concorrência na sociedade. É
individualista. A direita acredita que a livre iniciativa na economia vai fazer
a sociedade se desenvolver. Aposta no lucro, na cobiça, embora acredite que os
empresários são “bondosos”, pois criam empregos. Querem liberdade na economia,
mas são “castradores” no que diz respeito à evolução dos costumes na sociedade.
Neste particular, quase sempre a direita é conservadora ou mesmo reacionária.
A
direita fala em total liberdade. Entretanto, tal liberdade é meramente abstrata
pois, no mais das vezes, não é o Estado que a subtrai. No dia a dia das
pessoas, a liberdade é suprimida pela relação privada de emprego.
Através
do contrato de trabalho, mormente em uma sociedade onde não há pleno emprego,
tenho que obedecer ao meu patrão, tenho que a ele ser submisso.
Muitas
vezes, se o empregado não for um “bajulador” do seu patrão, pode ser colocado
no “mar da amargura”. As pessoas saem de casa com o risco de voltarem
desempregadas.
Isto
não ocorre com os funcionários concursados, que têm estabilidade no serviço
público e suas atribuições são previstas em lei ou em uma sociedade
coletivizada, onde o patrão seja uma cooperativa de trabalhadores.
Minha
empregada doméstica tem liberdade para viajar para Paris ou Londres.
Entretanto, ela pode efetivamente exercer esta liberdade?
Posso
dizer o que desejo aqui, atingindo centenas de pessoas. Entretanto, de noite, a
TV Globo destrói tudo, atingindo mais de 20 milhões de pessoas …
Dizem
que antes de distribuir, é preciso fazer “crescer o bolo”. Sucede que raramente
o “bolo cresce” e, quando cresce, eles não querem distribuir…
A
esquerda pode ser um pouco utópica, mas a “poesia” está com ela. A direita
aposta no egoísmo do ser humano, cria uma sociedade individualista e
indiferente à dor alheia. Um verdadeiro “darwinismo” social. Que vençam os mais
astutos, os mais aptos ou os mais “fortes”!
Esta,
evidentemente, é a minha avaliação. Avaliação de alguém que sempre se negou a
aceitar uma sociedade onde crianças peguem comida no lixo e mães assistem a
seus filhos morrerem por falta de dinheiro para tratá-los das suas doenças
graves.
Não
me conformo com esta miséria, embora este “sistema econômico” sempre me tenha
sido favorável. Por isso, julgo ter legitimidade para criticá-lo: não falo em
causa própria (ao contrário).
Enfim,
por tudo isso, me insiro no pensamento de esquerda. O grande problema é
conseguir uma sociedade justa sem sacrificar a liberdade individual, efetiva e
concreta, pois ninguém abre mão de seus privilégios senão pela coerção.
A
utopia é como o horizonte; está sempre distante. Entretanto, ela é que nos faz
caminhar, (conforme texto citado pelo saudoso pensador Eduardo Galeano).
Caminhemos sempre …
Afranio Silva
Jardim, professor associado de Direito Processual Penal da Uerj. Mestre e Livre
–Docente em Direito Processual (Uerj)
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/duzentos-anos-depois-do-nascimento-de-marx-ainda-faz-sentido-ser-de-esquerda-por-afranio-silva-jardim/
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