John
Reed nasceu numa influente família de políticos e magistrados do Oregon.
Inteligente e astuto, amante de livros, muito prometia desde a infância e por
isso foi enviado a Harvard aos vinte anos de idade, a Universidade da mais fina
elite, destinado a ser um prestigiado advogado, quiçá um Congressista.
Estávamos em 1910.
É
claro, que jamais seus parentes imaginariam que o jovem Jack Reed um dia seria
escritor, socialista e o primeiro e grande repórter do século XX!
Quando
jovem apreciava conviver com os homens, amava as mulheres, assim como comer,
escrever, beber, nadar, jogar futebol americano e poetar. E gostava de gente do
povo, mesmo que isso o distanciasse de seus colegas de “família”. A seguir
descobriu-se curtindo encontrar-se com vagabundos, trabalhadores, sonhadores,
gente distanciada da roda da fortuna.
E
Jack adulto foi mudando… Após concluir seus estudos universitários, optou pelo
jornalismo, começando por uma revista política, a “Masses”, e pelo jornal
“Metropolitan Magazine”.
Em
Massachusetts, mais de vinte e cinco mil
operários estavam em greve, exigindo jornada de oito horas de trabalho! A
repressão policial não economizava cacetadas e espadadas. Reed, repórter,
juntou-se aos manifestantes. Preso com os operários, permaneceu detido durante
o mesmo período que eles, não permitindo ao diretor do Jornal o pagamento de
fiança.
Aprendeu
muito com os grevistas e foi um dos organizadores do desfile de mais de uma
centena de milhar de manifestantes no Madison Square Garden, em defesa do
direito de greve. Jack Reed buscava a “vida, liberdade e a busca da
felicidade”, inscritas na declaração de Independência Americana.
E,
a partir desta, por que não uma nova revolução? Foi enviado ao México para
cobrir a Revolução Mexicana de Pancho Villa. Em pouco tempo, tornou-se próximo
do líder revolucionário. Os relatos apaixonados de Reed ajudaram a espalhar a
notícia da revolta. Em contrapartida, foram os cactos, as montanhas rochosas,
as morenas risonhas, a maldita poeira, a horrível cadência dos tiroteios na
noite, os peões morenos de voz delicada morrendo e matando, que ensinaram Jack
Reed a descrever as sublevações!
Assim
que Reed regressou aos Estados Unidos, no Colorado ocorreu um massacre, o de
Ludlow. Mineiros em greve foram abatidos
pela Guarda Nacional a mando da família Rockefeller. E lá estava Reed e os
acontecimentos, uma verdadeira guerra de classes, foram para sempre registrados
no livro “A Guerra do Colorado”. Foi num
comício de denúncia dos crimes praticados que Jack conheceu Emma Goldman, e ela
seria sua fonte permanente de inspiração feminista e anarquismo. Reed tornou-se
membro do Partido Socialdemocrata.
A
Primeira Guerra Mundial encontrou Reed na Europa. Escreveu: “Aqui estão nações
que se lançam aos pescoços umas das outras como cães… e a arte, a indústria, o
comércio, a liberdade individual, a própria vida são taxadas para sustentar
monstruosas máquinas de morte!” “A guerra é feita pelo lucro, não por ideais.”
John
Reed foi, sem a menor sombra de dúvidas, o melhor escritor- jornalista de seu
tempo. Se alguém quisesse saber como era a guerra bastava ler seus artigos
presenciais acerca da frente alemã, da retirada da Sérvia, de Salonic, por trás
das linhas do abalado Império Czarista. E seu trabalho era requisitado pelos
mais importantes veículos de divulgação do mundo ocidental.
Acontece
que Reed não tinha um lado! Seu lado era o dos alemães, franceses, russos,
búlgaros, de todos aqueles que tinham seus corpos estraçalhados… Por que
afinal, que importava para que lado armas destruidoras de vidas apontassem? Os
“donos da guerra” só queriam poder e dinheiro!
Em
1916, de volta aos EUA, escutou os incessantes discursos sobre os preparativos
militares contra “o inimigo,” e escreveu para o “The Masses” que o verdadeiro
inimigo para o trabalhador estadunidense eram os 2% da população que recebiam
60% da riqueza nacional. “Nós defendemos que o trabalhador prepare-se para se
defender do inimigo. O inimigo está aqui, em Norte-América. Esse deve ser nosso preparativo.”
Foi
naquele ano que John Reed conheceu Louise Bryant, escritora e, também,
libertária; eles se apaixonaram imediatamente. Louise separou-se do marido e
foi morar com Reed em Nova Iorque.
Quando
em abril de 1917, o Presidente Wilson pediu que o Congresso declarasse guerra à
Alemanha, John Reed escreveu: “A guerra significa histeria coletiva,
crucificando os defensores da verdade, sufocando os artistas… Esta não é nossa
guerra.”
Ao
mesmo tempo, chegavam da Rússia notícias de que o Czar fora deposto. Uma
revolução estava em marcha! “Finalmente, toda uma população se negou a
continuar a carnificina e se revoltou contra a classe governante” escreveu
Reed. Com Louise Bryant partiu para a Finlândia onde foi preso e todos os seus
papéis roubados. Somente por interferência dos socialistas russos, conseguiu
novo visto e seguiu viagem a São Petersburgo.
Agora
era coisa séria! A revolução avançava à sua volta com operários tomando o poder
nas fábricas, soldados recusando-se a combater, manifestando-se contra a guerra
e organizando seus próprios sindicatos. O Soviete de São Petersburgo elegeu uma
maioria bolchevique. E afinal, entre seis e sete de novembro, ocorreu a tomada das estações ferroviárias, telégrafo,
telefone e correios, e a concentração de trabalhadores e soldados junto ao
Palácio de Inverno. Era nem mais nem menos, a Revolução Socialista!
“As
janelas do Smolny ( onde se instalara o Soviete), refulgem, ao rubro branco,
como a bocarra de um forno, pois não se dorme em Smolny. Smolny, o laminador gigante funcionando vinte
e quatro horas, laminando homens, nações, esperanças milenárias, impulsos,
temores”.
Jack
tornara-se próximo dos dois maiores líderes soviéticos: Lênin e Trotski. E
correndo de cena em cena, Reed tomou notas com uma velocidade incrível, reuniu
cada folheto, cartaz e proclamação e, então, no início de 1918, voltou aos EUA
disposto a escrever sua maior história.
Ao
chegar, entretanto, suas anotações foram confiscadas. Quando liberadas, com o prefácio de Lênin, o livro “Os dez dias
que abalaram o mundo” ganhou uma primeira edição americana. O livro não era
apenas um testemunho vivo, narrado no calor dos acontecimentos da Revolução
Russa de 1917, mas igualmente a obra que inaugura a grande reportagem no
jornalismo moderno, eleito pela Universidade de Nova York como um dos maiores
livros do século XX.
Um
ano após, surgiria a edição soviética, prefaciada também por Lênin e Krupskaia.
Reed
percorreu, então, os Estados Unidos de ponta a ponta palestrando tanto sobre a
Guerra quanto sobre a Revolução Russa, ambas por ele vivenciadas. Em setembro
de 1919, depois de falar a uma plateia de quatro mil pessoas, Reed foi preso
por desencorajar o recrutamento obrigatório nas Forças Armadas.
Jack
Reed, quando parcela de membros do Partido Socialdemocrata Americano rompeu com
o mesmo, tornou-se elemento ativo na
formação do Partido Comunista dos Trabalhadores e foi à URSS como um de seus delegados a encontro importante: a III Internacional.
Em
Moscou, Reed encontrou sua grande amiga e companheira política Emma Goldman e
escutou seu desabafo em relação a certos rumos que a revolução tomava. Logo,
ele se incorporou àqueles que se preocupavam com determinados rumos do governo
bolchevique, com a necessidade de eleição de novos sovietes, com a inclusão de
partidos socialistas e grupos anarquistas nos novos sovietes, com a necessidade
de maior liberdade econômica para camponeses e operários, assim como com a
restauração de direitos civis para os trabalhadores.
A
Reed repugnava que a ditadura exercida em nome do proletariado russo
persistisse uma vez vencida a terrível guerra civil. De certa forma ele
pressentia no ar a possibilidade de uma revolta como a de Kronstadt, a
insurreição dos marinheiros soviéticos , que aconteceria em menos de dois anos
e seria reprimida a ferro e fogo. Reconhecia, entretanto, que de todos os modos
a primeira república dos trabalhadores estava e permanecia em pé! Vencia uma
pugna de morte contra quase todas as potências mundiais! E isto era o mais
importante!
John
Reed correu de reunião a reunião, de uma conferência em Moscou a uma reunião no
Mar Negro. Foi em sua passagem por São Petersburgo que contraiu o impaludismo.
Ficou doente, febril e delirante.
Em
outubro de 1920, aos trinta e três anos, morreu em um hospital de Moscou.
O
corpo de John Reed foi sepultado ao lado do Kremlin na Praça Vermelha, com
honras de herói, ao único norte-americano a quem tal honra foi um dia
concedida!
Após
a morte de Lênin, entretanto, o livro “Os dez dias que abalaram o mundo” foi
condenado ao ostracismo por muitos anos, graças à sua não ortodoxia política,
assim como à imagem importante que Trótski nele ocupa. Permaneceria,
entretanto, como um dos ícones da literatura da esquerda mundial.
Nos
anos de 1960, o livro ganhou um enredo teatral e foi encenado pelo grupo
Taganká, em Moscou, sob a direção de I. Liubimov. O sucesso obtido foi tão
grande que o tempo mínimo para se conseguir um ingresso chegou a ser de três
meses, e isto por mais de dois anos.
Calcula-se que meio milhão de espectadores assistiu ao espetáculo teatral.
“Reds”,
um drama produzido por Warren Beatty, foi uma das maiores bilheterias dos anos
1980, quando trouxe às telas a vida e a carreira do escritor-jornalista e
revolucionário John Reed. Beatty, que personifica Reed, contracena com Diane
Keaton e Jack Nicholson, um verdadeiro épico cinematográfico.
http://proust.net.br/blog/?p=1303T
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