“Sabem do que
são feitos os direitos, meus jovens?
Sentem o seu
cheiro?
Os direitos
são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de
batalha, queimada em fogueiras!
Quando abro a
Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em
linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!
Vejo cabeças
rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das
fogueiras!
Ouço o grito
enlouquecido dos empalados.
Deparo-me com
crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das
fábricas com os estômagos vazios!
Sufoco-me nas
chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas!
Vejo
africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros.
Ouço o gemido
das mulheres indígenas violentadas.
Os direitos
são feitos de fluido vital!
Pra se fazer
o direito mais elementar, a liberdade,
gastou-se
séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas na máquina de se fazer
direitos, a revolução!
Tu achavas
que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e
tribunais?
Engana-te! O
direito é feito com a carne do povo!
Quando se
revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas …
Os
governantes que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais
de todos aqueles que morreram para se converterem em direitos!
Quando se
concretiza um direito, meus jovens, eterniza-se essas milhares vidas!
Quando
concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria
existência!
O direito e a
arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum
significado!”
https://www.geledes.org.br/texto-exemplar-da-juiza-federal-raquel-domingues-do-amaral/
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