O
fascismo recebe a perigosa complacência nacional. Emudecidos personagens
públicos não se dignam a erguer a voz diante da violência contra a caravana de
Lula, mas onda intolerante pode engolir a todos.
O
mais grave de tudo isto é que estes grupos fascistas, violentos e terroristas
contam com a complacência da grande imprensa, de partidos ditos de centro como
o PSDB, da OAB, do governo Temer, das presidências da Câmara e do Senado, da
presidência do STF e de alguns candidatos à presidência da República. Afinal de
contas, não se ouviu nenhuma dessas vozes condenar a violência contra a
caravana.
Cabe
perguntar: onde estão os editoriais dos grandes jornais contra a violência que
atingiu a caravana de Lula? Jornais que sempre foram ávidos a cobrar posições
das esquerdas contra atos esporádicos de violência de militantes… Será mero
acaso que os grandes jornais deram generosos espaços, no fim de semana, a
generais golpistas, a exemplo do general Antônio Hamilton Martins Mourão?
Por
que a OAB, a presidência da República, a presidência do STF, as presidências
das Casas Legislativas, o Ministério da Justiça, o Ministério da Segurança
Pública e o Ministério Público Federal não se pronunciaram até agora? Por que o
“democrata” Fernando Henrique Cardoso silencia ante esses ataques fascistas?
Por que os pré-candidatos Alckmin e Rodrigo Maia não emitem nenhuma palavra
sobre essa violência política? Onde estão todos? Estão com medo? São
coniventes? Ou são cúmplices? É preciso advertir esses emudecidas personagens
acerca de que esse silêncio conivente de hoje poderá proporcionar que amanhã
também se tornem vítimas dessa violência fascista.
O
PT e os democratas precisam pressionar essas autoridades e esses representantes
políticos para que se pronunciem sobre esta violência fascista. Ou eles se
manifestam e adotam atitudes ou a história os cobrará amanhã acerca do seu
covarde silêncio. Esses grupos e dirigentes políticos, na verdade, abrigaram o
fascismo nascente no processo do golpe que derrubou a presidente Dilma.
Desmoralizados,
porque muitos deles se revelaram moralistas sem moral, envolvidos em graves
casos de corrupção, se acovardaram e, agora, por falta de coragem, por covardia
ou por cumplicidade se calam ante a escalada de violência fascista que poderá
mergulhar o Brasil numa guerra civil.
Guerra
civil sim, porque esses grupos fascistas e terroristas estão caminhando
rapidamente para o paramilitarismo. Os defensores da democracia não podem
assistir passivamente a escalada de violência desses grupos. Antes de tudo, precisam
organizar a sua autodefesa porque, como foi visto em São Miguel do Oeste (SC),
as polícias tendem a ser coniventes com esses grupos terroristas.
Em
segundo lugar, é preciso cobrar do governador de Santa Catarina um
esclarecimento acerca da passividade da polícia em face da violência desses
grupos. Em terceiro lugar, é preciso levar a senadora Ana Amélia Lemos à
Comissão de Ética do Senado por apoiar e estimular a violência política. Em
quarto lugar, é preciso promover uma ampla campanha de esclarecimento da
opinião pública acerca desses grupos violentos e criminosos. Em quinto lugar,
como já sinalizou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é necessário fazer uma
ampla denúncia internacional acerca da existência desses grupos fascistas e
acerca da conivência das autoridades para com os mesmos.
Por
outro lado, já passou da hora de Lula, Ciro Gomes, Guilherme Boulos e Manuela
D’Ávila se reunirem para divulgar um manifesto conjunto em defesa da
democracia, da liberdade e da justiça e de condenação da violência política e
social que graça pelo país. Se não é possível construir uma candidatura de
unidade do campo progressista, os candidatos precisam mostrar uma unidade de
propósito neste momento grave do país: a luta para defender a democracia que
não temos.
Ação fascista:
mentiras, violência e covardia
Esses
grupos fascistas brasileiros, que proliferaram nos últimos anos, não fogem à
tipologia clássica de ação dos movimentos totalitários já mapeada e descrita
por vários estudiosos, notadamente por Hannah Arendt. Grupos e movimentos
totalitários, quando ainda não estão no poder, se ocupam, fundamentalmente, da
propaganda dirigida a pessoas externas aos mesmos visando convencê-las. A
característica principal dessa propaganda é a mentira. O contemporâneo fake news
foi largamente utilizado pelos nazistas e, em escala menor, pelos fascistas de
Mussolini. Não há nenhuma novidade nisto. As mentiras monstruosas que esses
movimentos propagam visam entreter o público para convencê-lo e para aliviar as
pressões críticas sobre si mesmos.
Aqui
no Brasil, recentemente, viu-se como o MBL e outros grupos agiam no processo do
golpe. Mentiam sobre a corrupção do governo Dilma enquanto se aliavam e
apareciam em público com os maiores corruptos do país: Eduardo Cunha, Aécio
Neves e outros. Aliás, Aécio e o PSDB patrocinaram esses grupos. Eles mesmos
são integrados por corruptos e, geralmente, por indivíduos enredados em teias
criminosas. E mentem de forma impiedosa e criminosa sobre Marielle quando esta
não pode mais defender-se.
Se,
externamente, esses grupos se dedicam a propaganda, internamente seu objeto é a
doutrinação. Notem o que diz Arendt: “Se a propaganda é integrante da ‘guerra
psicológica’, o terror é-lhes ainda mais inerente“. Foi usado em larga escala
pelos nazistas, que definiam o terror como “propaganda de força“. Arendt
adverte que ele aumentou progressivamente antes da tomada do poder por Hitler
“porque nem a polícia e nem os tribunais processavam seriamente os criminosos
da chamada Direita“. Qualquer semelhança com o que temos hoje no Brasil não é
mera coincidência.
Crimes
contra indivíduos, ameaças e ações violentas contra adversários caracterizam a
propaganda e o terror desses grupos. Tem-se aí o assassinato de Marielle e de
outros líderes sociais e comunitários e a violência contra a caravana de Lula.
Temos a violência verbal nas redes sociais que também é uma forma de
propaganda. Não é possível subestimar esses atos, pois englobam elevado perigo
num mundo anômico e num país com as instituições destruídas. Todos esses atos,
essa violência, esse terrorismo, têm o mesmo pano de fundo: o crescimento do
fascismo no Brasil.
Se
a primeira característica desses grupos é a mentira, se a segunda é a
violência, a terceira é a covardia. Geralmente praticam a violência contra
vítimas indefesas. Veja-se a suprema covardia no assassinato da Marielle. A
covardia da tocaia na execução de líderes sem-terra, líderes indígenas e
militantes ambientalistas. Os agroboys covardes que atacaram a caravana de Lula
agrediram mulheres, inclusive uma mulher que está em tratamento de câncer e que
estava com seu filho de dez anos. São esses covardes que a igualmente covarde
senadora Ana Amélia Lemos exalta. É preciso detê-los. Detê-los com a militância
nas ruas, a exemplo dos atos de protesto contra a execução de Marielle, a
exemplo dos professores paulistanos e exemplo de tantos enfrentamentos pelo
Brasil. Detê-los com as candidaturas de Ciro, de Boulos e de Manuela. E é
preciso detê-los com a candidatura de Lula até o fim.
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