Lula
deu entrevista a Leonardo Attuch e Paulo Moreira Leite, da TV 247, e alguns
pontos merecem ser destacados:
1
– Lula está mesmo disposto a se candidatar a presidente;
2
– Ele estuda uma forma de fortalecer um projeto popular com a eleição de
parlamentares identificados com as bandeiras progressistas;
3
– Se eleito, pretende apresentar um projeto para regulação da mídia, não nos
moldes de Cuba ou China, mas dos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha;
4
– Lula tem planos para estabelecer acordo comercial estratégico com China e
Rússia e, se os Estados Unidos quiserem, também com eles.
Nesta
entrevista, Lula defendeu ainda que, caso seja eleito, proporá um referendo
revogatório ou a convocação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte.
O
referendo revogatório é para desfazer as medidas que recolocaram o Brasil nos
primeiros anos do século passado.
“A
Constituição Cidadã de 2008 não existe mais”, afirmou Lula.
“Ela
já foi rasgada em verso e em prosa, foi mudada. E eu acho que é preciso a gente
fazer uma Constituinte e redefinir o papel dos poderes neste País. Fortalecer
as instituições, para que elas sejam cada vez mais fortes, mas para que elas
sejam cada vez mais democráticas”, afirmou.
Lula
defendeu que os eleitores valorizem também a eleição de parlamentares.
“Não
adianta você votar num presidente progressista e num Congresso conservador (…)
Eu fui eleito em 2002 e, dos 513 deputados, eu tinha 91. Hoje o PT tem 58”,
disse.
O
Congresso ficou mais conservador (talvez a palavra adequada seja fisiológico)
e, neste quadro, aumentou o risco de instabilidade para o governante
progressista, alvo da pressão dos partidos.
“Não
é do PMDB, como se diz, não. É de dezenas de pequenos partidos de 20 deputados,
de 15 deputados, porque agora virou uma coisa de louco com o fundo partidário.
Virou uma pequena empresa um partido político. Todo mundo quer criar um partido
político. Todo mundo quer ter um dinheirinho do fundo partidário”, afirmou.
A
nova lei do fundo partidário tende a agravar esse quadro, pois reserva 70% dos
recursos a partidos que não têm candidato a presidente ou governador.
“Eles
não querem ser majoritários, para eleger deputados”, disse.
E
qual é o resultado disso, na prática?
Lula
responde:
“Cada
vez mais o Congresso vai ficar refém de partidos que dificultam a construção de
uma coalizão”, afirmou.
Lula
defendeu, em seguida, uma proposta que Fernando Haddad havia anunciado, em
primeira mão, para o DCM, na entrevista que concedeu semana passada.
“O
Haddad me deu uma ideia esses dias que eu achei interessante. Ele acha que a
gente deveria abrir um debate no Brasil para que, a partir de 2018, o povo
votasse primeiro para presidente, no primeiro turno, e somente no segundo turno
essa pessoa votaria para deputado e senador”, disse.
Este
é um modelo francês, e permite ao presidente ter influência na indicação e
possibilidade maior de construir maioria e garantir a governabilidade.
Esta
também é uma forma de enfrentar o problema da péssima qualidade da
representação parlamentar, como ficou demonstrado com a votação do impeachment
de Dilma, quando a população teve a oportunidade de ver deputados como
Cristiane Brasil, de camisa da Seleção Brasileira, falando em honestidade, ou
de deputados que invocavam o nome de bairros, da família e de Deus para votar.
Ou ainda de uma deputada que, aos pulos, gritou contra a corrupção sim, sim,
sim, e no dia seguinte abriu a porta da Polícia Federal prender seu marido por
desvio de dinheiro público.
Os
exemplos são fartos, fruto de uma eleição com regras que permitem ao poder
econômico demonstrar sua força, com a compra de lideranças para ajudar na
conquista de mandato de candidatos sem nenhum compromisso com projeto político
ou ideológico.
São
deputados que vão para Brasília fazer negócio, gente que Michel Temer sabe que
pode comprar, pois estão ali sempre à venda.
O
jornalista Paulo Moreira Leite sugeriu a Lula que tenha uma lista com
candidatos a deputado, para indicar ao eleitor em quem votar.
Lula
manifestou interesse na proposta, embora saiba que é de difícil execução, já
que, se for suprapartidária, vai gerar problema no PT e, se não for, não faz
muito sentido, já que o partido tem uma lista, a dos seus próprios candidatos.
Basta
dizer: vote nos candidatos da legenda.
A
lista dos sonhos cidadãos seria aquela dos força eleitoral, ou seja, os nomes
seriam eleitos de acordo com sua posição nela, e na proporção de votos
recebidos pela legenda.
Com
isso, o eleitor votaria em partido partido político ou num projeto político.
Sem
ser incorporado à legislação, o que resta aos partidos com um mínimo de
seriedade é reforçar na campanha a importância do mandato parlamentar.
Nesse
sentido, Lula, que é sempre ouvido, tem também um papel fundamental.
.x.x.x.
PS:
Chamou a atenção na entrevista a tranquilidade de Lula. Rosto sereno,
bem-humorado. Ele não parece preocupado com a possibilidade de ser preso.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/lula-coloca-o-dedo-na-ferida-da-democracia-o-congresso-precisa-de-faxina-por-joaquim-de-carvalho/
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