Nos
murais, nas estampas de camisetas, nos quadros de paredes, nos debates das
praças públicas, nas rodas de cerveja… Lá está Hugo Chávez. Presente na vida
dos venezuelanos e venezuelanas. Neste 5 de março de 2018, completam-se cinco
anos da morte do ex-presidente da Venezuela. O Brasil de Fato conversou com
integrantes de movimentos da base da Revolução Bolivariana e cidadãos para
saber qual o legado do líder venezuelano para a população.
As
políticas sociais de Chávez mudaram a vida de gente simples, como dona Eddy
Asuaje, moradora do bairro de Antímono, na zona oeste de Caracas, região
popular da capital. “Ele se foi fisicamente, mas ainda o temos nos nossos
corações. Chávez, em cada passo que damos, aqui está nosso presidente nos
apoiando”, diz a dona de casa.
Enquanto
mostra sua casa, construída pelo programa social de casas populares criado por
Chávez, Misión Vivienda, dona Eddy conta que sua condição financeira jamais
permitiria a compra de um imóvel como esse. São três quartos, dois banheiros, uma
sala grande e uma cozinha estilo americana. “Nós somos a prova de que é
possível ter uma casa própria. Às vezes, estou aqui na minha casa e penso: não
acredito que estou aqui.” Ela faz parte das 2 milhões de famílias beneficiadas
com o programa de casa própria do governo venezuelano, entre 1999 e 2018.
No
setor rural, a distribuição de terras também gerou impactos positivos, segundo
a camponesa Mareli Ramírez. Ela conta que, no campo, o legado do ex-presidente
foi destinar terras para a reforma agrária. “Chávez declarou guerra ao
latifúndio. No campo, existiam grande extensões de terra produtivas, mas que os
grandes latifundiários as mantinham improdutivas. E nesses setores haviam
camponeses que queriam trabalhar, mas não tinham acesso à terra. Isso mudou
quando o presidente Chávez implementou a Lei de Terra”, destacou Mareli.
O
comunicador popular, Pablo Kunich, um dos coordenadores do canal comunitário
Alba TV, dá um panorama dos principais legados dos 13 anos do governo Chávez.
“Se pensamos no legado do presidente e comandante Hugo Chávez, podemos destacar
algumas políticas importantes. Uma delas foi a democratização da comunicação,
que garantiu às comunidades o acesso a meios de comunicação comunitários e
alternativos”, afirma. Ele também destaca a importância das políticas
educativas e de saúde. “Na educação, o plano de alfabetização eliminou o
analfabetismo na Venezuela. Em matéria de saúde, se criou uma rede nacional de
atenção primária em todo o país”, destacou.
PROCESSO HISTÓRICO
Para
Aquiles Navarro, porta-voz da Esquina Caliente, ponto de encontro de
trabalhadores na Praça Bolívar, centro de Caracas, o ingresso de Hugo Chávez na
política é fruto de um processo histórico que tem em sua origem os protestos
populares conhecidos como “Caracazzo”, de 1989. Frente às medidas neoliberais
do governo de Carlos Andrés Pérez, como corte de gastos, retiradas de direitos
dos trabalhadores e aumento dos custos de vida, a população da capital
venezuelana saem às ruas em uma jornada de protesto. As manifestações foram
duramente reprimidas pelas forças de segurança do Estado. O resultado foram 276
mortos e milhares de feridos, segundo dados oficiais.
Indignado
com o massacre da população, o então tenente-coronel do Exército, Hugo Chávez,
começou a organizar um grupos de militares ligados a setores progressistas e
nacionalistas para derrubar o presidente e tomar o poder.
O
movimento fracassa, mas lança ao cenário da política nacional o nome de Chávez.
Depois dessa tentativa de tomar o poder, ele fica dois anos preso e sai em
1994, fundando o Movimento Quinta República. Viaja pelo país defendendo a
necessidade de “reformar a Constituição e refundar a República”.
20
anos após o ex-presidente vencer as primeiras eleições, em 1998, a Venezuela
passa por novos desafios. Segundo Aquiles Navarro, “são muitíssimos os
desafios, porque estamos a caminho do socialismo, em um processo de transição
ao socialismo. Queremos uma Venezuela pós-petroleira, que seja produtora da
maioria dos produtos que consumimos no país”.
O
ex-presidente Chávez deu início a uma série de reformas do Estado, mas também
inaugurou um novo modelo político que, em seu conjunto, foi chamado de
Revolução Bolivariana. Um dos maiores desafios da Venezuela, que sofre hoje com
um bloqueio internacional e o isolamento político promovido pelos Estados
Unidos, é a superação da dependência do petróleo, construída historicamente
desde os anos 1920.
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