“Rainhas
do lar” e “incapazes”, brasileiras foram à luta por seus direitos políticos. Até
1827, as mulheres não podiam sequer se matricular em instituições de ensino.
Tiveram de esperar mais meio século para ter acesso à faculdade. Historiador
reconta a trajetória das protagonistas da luta pelo reconhecimento do voto
feminino no país
história
das mulheres brasileiras luta por seus direitos voto feminino no país.
Augusto
C. Buonicore*, Congresso em Foco
Em
2017, quando comemoramos os 85 anos da conquista do voto feminino, é preciso
relembrar as situações degradantes que viveram as mulheres durante séculos e a
luta persistente que travaram para, finalmente, se firmarem como cidadãs. É
claro que muito ainda falta a ser conquistado, mas olhando para trás vemos o
quanto já se caminhou.
No
Brasil, por exemplo, as mulheres só puderam se matricular em estabelecimentos
de ensino em 1827. O direito a cursar uma faculdade foi adquirido somente cerca
de 50 anos depois. Apenas em 1887 o país formaria sua primeira médica. As
primeiras mulheres que ousaram dar esse passo rumo à sua autonomia e profissionalização
foram socialmente segregadas.
O
primeiro Código Civil brasileiro, aprovado em 1916, reafirmou muitas das
discriminações contra a mulher. Escreveu a professora Maria Lygia Quartim de
Moraes: “Com o casamento, a mulher perdia sua capacidade civil plena. Cabia ao
marido a autorização para que ela pudesse trabalhar, realizar transações
financeiras e fixar residência. Além disso, o Código Civil punia severamente a
mulher vista como ‘desonesta’, considerava a não virgindade da mulher como
motivo de anulação do casamento (…) e permitia que a filha suspeita de
‘desonestidade’, isto é, manter relações sexuais fora do casamento, fosse
deserdada”. As mulheres casadas – ou sob o pátrio poder – eram consideradas
incapazes juridicamente, como as crianças, os portadores de deficiência mental,
os mendigos e os índios.
Desde
a formação da sociedade brasileira, as mulheres foram excluídas de todo e
qualquer direito político. Por exemplo, a Carta Outorgada do Império (1824) e a
primeira Constituição da República (1891) não lhes concederam o direito de
votar e nem de serem votadas. Uma situação que persistiria até as primeiras
décadas do século XX. Eram, portanto, consideradas cidadãs de segunda
categoria. Verdade seja dita: este não era apenas um problema do Brasil, pois,
naquela época, as mulheres estavam excluídas dos seus direitos políticos na
quase totalidade dos países do mundo.
Nesse
período sombrio elas não se calaram. No entanto, só muito recentemente a
história da resistência feminina começou a ser desvendada pela historiografia.
As mulheres lutaram pelo acesso à Educação e pelos seus direitos civis e
políticos. Também se envolveram nos grandes movimentos que ajudaram a construir
a nação, como as lutas pela independência, a campanha abolicionista, a
proclamação da República etc.
A
primeira feminista brasileira de que se tem notícia foi a potiguar Nísia
Floresta (1809-1885). Ela se destacou como educadora, criando e dirigindo
diversas escolas femininas no país. Considerava a educação o primeiro passo
para a emancipação da mulher. Traduziu e publicou no país o manifesto feminista
de Mary Wollstonecraft – Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens. Após
ter permanecido 28 anos na Europa, ao voltar para o Brasil, apoiou o movimento
abolicionista e republicano. Nísia foi uma pessoa muito à frente de seu tempo.
A
imprensa alternativa feminina, surgida em meados do século XIX, foi, no
entanto, uma espécie de embrião do movimento de mulheres. Em 1852 a jornalista
Juana Noronha fundou e dirigiu o primeiro jornal produzido por mulheres – o
Jornal das Senhoras. No ano de 1873 a professora Francisca Motta Diniz fundou o
jornal O sexo feminino. Em um de seus editoriais afirmava: “Não sabemos em que
grande república ou republiqueta a mulher deixe de ser escrava e goze de direitos
políticos, como o de votar e ser votada. O que é inegável é que em todo o
mundo, bárbaro e civilizado, a mulher é escrava”. O jornal se envolveria na
grande campanha pela abolição da escravatura.
Inúmeros
outros jornais femininos surgiriam. A maior parte deles teve vida curta, e
mesmo não sendo revolucionários ou mesmo feministas, ajudaram a conscientizar
as mulheres sobre o papel subalterno que lhes era destinado pela sociedade
patriarcal. Este breve artigo se concentrará na luta das mulheres pelos
direitos políticos, especialmente o direito de votar e serem votadas.
A
República Velha e os direitos das mulheres
Desde
meados do século XIX, as mulheres buscaram romper o cerco que as envolvia e
conquistar seus direitos civis e políticos. O voto feminino foi um dos temas
tratados pelos deputados que elaboraram a primeira Constituição Republicana
(1891). Contudo, o texto final acabou não deixando clara a situação política da
mulher. Ele não proibia explicitamente o voto feminino, mas também não o
garantia de maneira clara. A proposital ambiguidade de sua redação possibilitou
que a grande maioria dos legisladores e o próprio poder judiciário
interpretassem ao seu bel prazer o que pretendiam os constituintes. Isso
excluiu as mulheres do processo político-eleitoral por várias décadas.
As
argumentações dos antifeministas eram as mais execráveis. O deputado Tito Lívio
afirmou que as mulheres tinham “cérebros infantis” e seriam portadoras de
“inferioridade mental” e “retardo evolutivo” em relação aos homens. Lacerda
Coutinho, por sua vez, disse que “as mulheres tinham funções (biológicas) que
os homens não tinham e essas funções eram tão delicadas (…) que bastava a menor
perturbação nervosa, um susto, um momento de excitação, para que elas se
pervertessem”.
Contudo,
a maioria dos opositores ao voto feminino argumentava de maneira diferente.
Sustentava a superioridade moral da mulher e, justamente por isso, ela seria
incompatível com a política. A mulher deveria ser protegida pela sociedade
deste mal. Deus e/ou a natureza havia reservado a ela outro papel, mais nobre,
o de “rainha do lar”. Essa, por exemplo, era a visão dos positivistas.
Já
as mulheres engajadas leram o texto constitucional de outra forma. Se ele
explicitava os que estavam excluídos (mendigos, analfabetos, índios, praças de
pré e religiosos de ordens monásticas sujeitos a voto de obediência) e entre
eles não se encontrava nenhuma referência às mulheres, isso era uma comprovação
cabal de que os constituintes não pretendiam proibir o voto feminino. Uma
argumentação irretorquível.
Usando
essa argumentação, ao longo dos anos, várias mulheres, em diversas regiões, tentaram
se alistar como eleitoras. Em 1910, diante das constantes recusas, algumas
delas vanguarda fundaram o Partido Republicano Feminino. Ainda que pequeno, ele
mostrava o grau de consciência e organização atingido pelas brasileiras no
início do século XX.
Entre
suas fundadoras estavam a professora Leolinda Daltro e a escritora Gilka
Machado. Esse aguerrido partido chegou a promover em novembro de 1917 uma
passeata com quase 100 mulheres no centro do Rio de Janeiro. Não deixava de ser
uma pequena revolução. No mesmo ano, o deputado socialista Maurício de Lacerda
apresentou um projeto estabelecendo o voto feminino, que não chegou a ser
apreciado pela Câmara Federal.
Naquela
mesma época, outra personagem entrou em cena: Bertha Lutz. Filha de um dos mais
renomados cientistas brasileiros, Adolfo Lutz, estudou na Sorbonne e formou-se
em Biologia. Na França entrou em contato com as ideias feministas que
fervilhavam em solo europeu.
De
volta ao Brasil, em 1918, imediatamente envolveu-se na luta pelo voto feminino.
Na influente Revista da Semana afirmou: “As mulheres russas, finlandesas,
dinamarquesas e inglesas (…) já partilham ou brevemente partilharão do governo,
não só contribuindo com o voto como podendo ser elas próprias eleitas para o
exercício do Poder Legislativo (…). Só as mulheres morenas continuam, não direi
cativas, mas subalternas (…). Todos os dias se leem nos jornais e nas revistas
do Rio apreciações deprimentes sobre a mulher. Não há, talvez, cidade no mundo
onde menos se respeite a mulher”.
Pertencente
à elite econômica, política e intelectual brasileira, Bertha Lutz teve algumas
condições para a sua atuação que outras não tiveram. No ano seguinte (1919),
foi indicada pelo governo brasileiro para participar da reunião do Conselho
Feminino da Organização Internacional do Trabalho. Ali foi aprovado o princípio
de salário igual para trabalho igual, sem distinção de sexo. Ela também
representou o país na I Conferência Pan-Americana da Mulher, realizada em abril
de 1922.
Nos
Estados Unidos, onde se realizou esse encontro, conheceu Carrie Chapman Catt.
Esta representava uma corrente menos radical do movimento feminista
internacional e condenava os métodos radicais das sufragistas europeias,
especialmente britânicas. Bertha Lutz, numa entrevista, afirmou que a
orientação da senhora Carrie era “muito salutar, pois o movimento nos Estados
Unidos tem sido muito digno e completamente alheio aos métodos violentos
empregados por alguns países europeus”. Esses métodos pacíficos se adequavam
melhor à condição social das feministas brasileiras daquele tempo, em geral
pertencentes às elites.
Ainda
em 1922, Bertha organizou o 1º Congresso Feminista e fundou a Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). Esta foi a primeira entidade
feminista brasileira com certa expressão nacional e internacional. Entre os
seus objetivos estavam: “assegurar à mulher os direitos políticos que a nossa
constituição lhe confere” e “estreitar os laços de amizade com os demais países
americanos a fim de garantir a manutenção perpétua da paz e da justiça no
Hemisfério Ocidental”. A referência ao “hemisfério ocidental” não era casual e
refletia a ideologia predominante no movimento.
Um
congresso jurídico realizado no Rio de Janeiro aprovou por 28 votos contra
apenas 4 resoluções que diziam: “1º) A mulher não é, moral nem
intelectualmente, inapta para o exercício dos direitos políticos; 2º) Em face
da Constituição Federal, não é proibido às mulheres o exercício dos direitos
políticos”. Rui Barbosa também passou a defender a tese da constitucionalidade
do voto feminino.
Uma
garota do barulho
Entre
os nomes femininos que cabe ainda destacar neste conturbado ano de 1922 está o
da combativa estudante Diva Nolf Nazário. Na Faculdade de Direito do Largo de
São Francisco, onde estudava, defendeu, contra a maioria de seus pares, o
simples direito de votar na eleição do diretório acadêmico XI de Agosto.
Consciente da situação inferior que se encontravam as mulheres, participou
ativamente da fundação da Aliança Paulista pelo Sufrágio Universal, tendo sido
sua secretária-geral.
Convencida
da constitucionalidade do voto feminino, ela tentou se registrar como eleitora.
Para isso, fez uma verdadeira peregrinação por vários órgãos públicos. Chegou
mesmo, depois de muita insistência, a conseguir um registro eleitoral
provisório. Contudo, o parecer do juiz eleitoral foi-lhe desfavorável. Escreveu
o magistrado: “Entendem, por certo, a maioria dos nossos representantes que (…)
não era ainda o momento de romper com as tradições do nosso direito, segundo as
quais as palavras ‘cidadãos brasileiros’, empregadas nas leis eleitorais,
designam sempre cidadãos do sexo masculino”. Para ele, as atribuições plenas da
cidadania se vinculavam às “energias e veemências próprias da organização
viril”. A mulher seria uma criatura “destinada a dividir harmonicamente com o
homem a responsabilidade da vida em comum, ela, na tranquilidade do lar,
cuidando da ordem doméstica, ele, no trabalho cotidiano, auferindo meios de
prover a subsistência da família”. Diva recorreu da decisão e seu pedido foi
indeferido. O caso repercutiu nacionalmente e ganhou as páginas dos principais
jornais.
No
ano seguinte, 1923, ela publicou Voto Feminino e Feminismo, no qual apresentou
sua luta e as diversas posições existentes em relação ao sufrágio feminino,
através de artigos publicados na imprensa daquela época. O livro, cuja edição
fac-similar foi publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo em 2009,
é uma referência obrigatória para aqueles que desejam pesquisar o movimento
feminista no início do século XX.
A
crise do Estado Oligárquico e o avanço feminista
No
Congresso Nacional também crescia o número de parlamentares favoráveis ao voto
feminino. Alguns projetos chegaram mesmo a ser aprovados nas comissões e em
primeira votação nas duas casas legislativas. Nas eleições presidenciais de
1922, a vitória eleitoral de Arthur Bernardes – um opositor do voto feminino –
representou um duro golpe para os objetivos da FBPF. Seu governo foi marcado
pelas rebeliões tenentistas, o permanente estado de sítio e perseguições
políticas aos seus opositores.
Washington
Luís, eleito presidente em 1926, incluiu em sua plataforma eleitoral o voto
feminino. Sua vitória animou as militantes feministas. A luta foi retomada
dentro e fora do parlamento. O estopim foi a proposta de realização de uma
reforma eleitoral. Novamente foram apresentados projetos que garantiam o voto
às mulheres e as Comissões de Justiça deram pareceres favoráveis a eles.
As
entidades femininas fizeram um abaixo-assinado com mais de duas mil
assinaturas, em geral de mulheres de projeção social. Uma comissão passou a
acompanhar de perto o trabalho parlamentar. Tudo indicava que, desta vez, a
situação seria resolvida favoravelmente às mulheres.
Contudo,
o projeto que instituía o voto feminino acabou não sendo votado, pois dois
senadores apresentaram emendas desfigurando-o. Uma das emendas elevava a idade
mínima para votar e ser eleita de 21 para 35 anos, com o objetivo de evitar que
“meninas de pouca idade” fossem eleitas para o Congresso. A outra emenda também
estabelecia o voto diferenciado para mulheres, em que se afirmava: “Podem votar
e ser votadas (…) as mulheres diplomadas com títulos científicos e de
professora, que não estiverem sob poder marital nem paterno”. A matéria voltou
para a Comissão de Justiça que rejeitou as emendas. O projeto entrou na lista
de espera para nova votação, que nunca ocorreria.
O
dique, no entanto, começara a ser rompido. Juvenal Lamartine havia sido um dos
senadores que mais defenderam a proposta do direito de voto para as mulheres e,
por isso mesmo, foi apoiado por elas na sua campanha ao governo do Rio Grande do
Norte. Antes mesmo de tomar posse, solicitou que seus correligionários na
Assembleia Legislativa aprovassem o projeto que estabelecia o voto feminino.
Assim, as mulheres potiguares foram as primeiras a usufruir desse direito, bem
como foram as primeiras mulheres a assumirem cargos no legislativo e executivo
no país. A primeira eleitora foi Celina Guimarães. Em 1928 Júlia Alves Barbosa
foi eleita intendente (vereadora) em Natal e Luisa Alzira Teixeira Soriano
eleita prefeita em Lajes. Alzira Soriano era fazendeira e obteve 60% dos votos,
sendo a primeira mulher a assumir uma prefeitura na América Latina.
Em
1927, os votos femininos contabilizados na eleição para o Senado foram cassados
pela Comissão de Poderes do Congresso Nacional. Segundo essa Comissão, as
mulheres poderiam votar apenas nas eleições para as Câmaras Municipais e
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, mas não nas eleições federais. A
FBPF, em protesto, lançou um duro Manifesto à Nação. Ficava cada vez mais claro
para muitas mulheres que não seria aquele sistema decadente que garantiria o
seu direito ao voto.
A
direção da FBPF procurava tomar distância da política partidária – embora
tivesse ligação com setores das oligarquias presentes no poder. Quando
Nathércia Silveira, dirigente nacional, se envolveu abertamente na campanha de
Getúlio Vargas, teve que se afastar da entidade. Logo após a vitória da
Revolução de 1930, ela fundou a Aliança Nacional de Mulheres (ANM) que
congregou mais de 3 mil filiadas e procurou dar sustentação política e social
ao novo regime.
As
operárias, embora tivessem grande atuação nas greves por melhores salários e
condições de trabalho, tiveram pequena atuação na luta pelos direitos civis e
políticos. Isso refletia vicissitudes do movimento operário brasileiro daquela
época. Os anarquistas, força hegemônica até meados dos anos 1920, repudiavam a
atuação política institucional e eram radicalmente contra a participação
eleitoral. Por isso não se incorporaram na luta pelo sufrágio universal e
feminino, que consideravam improcedente. O próprio Partido Comunista, criado em
1922, embora defendesse o voto feminino, ainda padecia de certo obreirismo e
pouquíssima inserção junto às mulheres, mesmo as trabalhadoras. Situação que só
começaria mudar no final daquela década.
Assim,
a luta pelo sufrágio feminino foi travada fundamentalmente pelos setores de
vanguarda da burguesia e da pequena burguesia urbana. Isso teve consequências
na ideologia e nas formas de organização e de luta do movimento feminista
brasileiro do início do século XX. Sem bases sociais populares, não se produziu
uma forte corrente de esquerda como aconteceu em alguns países europeus.
A
Revolução de 1930 e a conquista do voto feminino
A
primeira proposta de código eleitoral feita pelo governo provisório de Vargas
ainda limitava o voto feminino, determinando que só poderiam votar as mulheres
solteiras e viúvas acima de 21 anos e, as casadas, apenas com autorização dos
maridos. Houve uma grande campanha unificada entre a ANM e a FBPF para derrubar
tais restrições. As líderes feministas se encontraram pessoalmente com Vargas e
tiveram então suas reivindicações atendidas.
O
novo Código Eleitoral, promulgado em 1932, garantiu-lhes o direito de votar e
serem votadas. Vargas ainda indicou Bertha e Nathércia, como representantes das
mulheres brasileiras, para a comissão especial encarregada de elaborar a
proposta de Constituição Federal que seria apreciada pelo Congresso – um fato
inédito na história política brasileira. A Constituição de 1934 iria estabelecer
claramente, sem ambiguidade, o direito de voto para as mulheres. Assim, o
Brasil se tornou o quarto país das Américas a estabelecer o voto feminino.
Antes dele, haviam-no concedido o Canadá, Estados Unidos e Equador.
A
paulista Carlota Pereira de Queiróz foi a primeira mulher eleita para a Câmara
dos Deputados. Formada em Medicina, era também uma representante destacada da
elite paulista. Berta Lutz, apesar de seu esforço, não conseguiu se eleger pelo
Rio de Janeiro. Ela ficaria na primeira suplência. Alagoas, Bahia, Sergipe, São
Paulo e Amazonas elegeram deputadas estaduais. O Sul teria de esperar um pouco
mais. Bertha, finalmente, assumiria a sua vaga na Câmara dos Deputados, em
1936.
Naquela
conjuntura de crise havia crescido a influência da esquerda entre as mulheres.
Como resultado, em 1934, foi fundada a União Feminina. Ela se integraria à
Aliança Nacional Libertadora (ANL), que tinha participação de socialistas,
comunistas e anti-imperialistas. Após a cassação desta entidade e do
esmagamento do levante ocorrido em novembro de 1935, as principais dirigentes
da União Feminina foram presas. Em seguida, a FBPF e demais entidades femininas
sofreriam um duro golpe com a decretação do Estado Novo em novembro de 1937.
Sem democracia o movimento feminino refluiria.
Apesar
dos limites apontados acima, podemos afirmar que sem a ação decidida de
mulheres como Berta Lutz e Diva Nolf, não seria possível falar em democracia e
cidadania no Brasil. Por isso, seus nomes deveriam constar num lugar de honra
dos nossos livros de história, rompendo assim com a situação de invisibilidade
que o mundo burguês masculino procurou condená-las.
*Augusto
César Buonicore é historiador, presidente do Conselho Curador da Fundação
Maurício Grabois. E autor dos livros Marxismo, história e a revolução
brasileira: encontros e desencontros, Meu Verbo é Lutar: a vida e o pensamento
de João Amazonas e Linhas Vermelhas: marxismo e os dilemas da revolução. Todos
publicados pela Editora Anita Garibaldi.
**
Texto adaptado da apresentação ao livro Voto feminino & feminismo de Diva
Nolf Nazario (1923), edição em fac-símile produzida pela Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo em 2009. Publicado originalmente no site
http://www.grabois.org.br/
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SP, 1981
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Keila – Código Civil e Cidadania, Jorge Zahar Editor, RJ, 2001
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June E. A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas: 1850-1937, Ed.
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Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil, Ed. Fundação Perseu
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Maria Lígia Quartim – “Cidadania no feminino”: In Pinsky, J. e Pinsk, C B,
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Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, Ed. Expressão
Popular, S.P, 2013
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/03/historia-mulheres-brasileiras-luta-direitos.html?utm_source=push&utm_medium=social&utm_campaign=artigos
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