“Lula
deve Morrer”. Este foi o título do artigo de um articulista da IstoÉ. Chocou a
muitos.
De
fato, o artigo, um somatório mal-ajambrado de clichês antipetistas, choca pela
estupidez manifesta e pelo ódio desavergonhado. Mas não surpreende. O golpe
abriu a porteira para uma direita tão obtusa quanto violenta. Há muito que o
Brasil foi tomado por uma horda de insanos protofascistas.
Liderados
por cérebros iluministas como Bolsonaro, Alexandre Frota, Marcos Feliciano,
representantes do MBL etc., essa horda se dedica não apenas a destilar seu ódio
contra Lula e o PT, mas também a censurar exposições artísticas, agredir
palestrantes, impedir professores de darem aula, pedir a volta ditadura, exigir
a execução de “bandidos”, manifestar desprezo pelos direitos humanos e se
insurgir contra tudo que cheire a “esquerdismo”, “ideologia de gênero”, combate
ao racismo e à homofobia e afirmação dos direitos das populações excluídas ou
de alguma forma oprimidas. Enfim, tudo que cheire a civilização.
O
artigo do bocó da revista sustentada por generosas verbas governamentais é
apenas mais uma da série infindável de violentas manifestações
antidemocráticas. Assim, não se trata de ponto fora da curva. O que esta
definitivamente “fora da curva” em uma sociedade democrática é o espaço e o
poder que se dá a essas figuras intelectualmente nulas e moralmente abjetas.
O
que é anormal numa sociedade democrática é essa intolerância com relação à
diferença e o ódio contra o adversário político. Porque esse ódio não é algo
natural. Ele não surge por geração espontânea. Como diria Nelson Mandela, o
ódio é algo que se ensina. Ninguém nasce odiando. O ódio se aprende. E,
normalmente, se aprende com desinformação, com distorção e com mentiras. É
necessário demonizar o alvo do ódio para que o ódio seja considerado algo
normal e desejável.
Foi
necessário se repetir à exaustão, como ensinava Goebbels, que os problemas da
Alemanha tinham sua origem nos “ratos judeus” para que o Holocausto se tornasse
palatável. Foi necessário se afirmar repetidamente que os tutsis eram
"baratas" para que 800 mil deles fossem abatidos a golpes de facão em
Ruanda.
Aqui
no Brasil, a estratégia foi repetir, de forma sistemática, mentirosa e
distorcida, que os governos do PT eram os mais corruptos da história do Brasil
e que haviam submergido o país na sua pior crise.
Criou-se,
assim, uma escalada extremamente perigosa de ódio político. No Brasil, o mal se
banalizou, diria Hannah Arendt. Gente normal, comum, passou a considerar
aceitável e desejável a violência contra petistas, marxistas, esquerdistas,
bolivarianos, feministas, gays, defensores dos direitos humanos e que tais.
Partidos em tese democráticos passaram a dividir as ruas com gente que pedia a
volta da ditadura, condenava as políticas sociais e o combate ao racismo,
defendia a homofobia e a tortura. Abriu-se a caixa de Pandora de um protofascismo
assustador. Chocou-se, despudoradamente, “o ovo da serpente”.
“Petista
bom é petista morto”.
Era
o que diziam os panfletos que foram jogados no local onde estava sendo velado o
corpo ex-senador José Eduardo Dutra. Dessa maneira, o ódio político tornou-se
tão agudo, tão insano, que chegou ao ponto extremo da profanação dos mortos.
Penetrou em hospitais e escolas. Desprezou o sofrimento dos enfermos. Virou uma
enfermidade social e política.
Trata-se
de um ódio extremado que desumaniza. Desumaniza o alvo do ódio e desumaniza
aquele que odeia. Desumaniza até mesmo os mortos. É ódio que exige cadáveres
insepultos. É o mesmo ódio que fez Creonte, na tragédia de Sófocles, negar os
ritos sagrados a Polinice, provocando a insubordinação de sua irmã, Antígona, condenada
à morte por defender o direito natural e sagrado ao enterro, ritual de passagem
entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
Pois
bem, essa cultura metodicamente construída de ódio político e de intolerância
social gerou um “vale-tudo” que ameaça transformar a nossa democracia num
“vale-nada”.
Tal
ódio, combinado com um moralismo neoudenista seletivo, cínico e grotescamente
hipócrita, não se importou em destruir a democracia brasileira, desde que se
atropelasse o governo do PT e seu projeto popular. Também não se importou em
destruir o sistema de representação política, desde que o PT e aliados fossem
afastados do poder. E não se importa em acabar com o país, desde que possa se
apossar de suas ruínas.
No
desespero para impedir a volta de Lula, o “mercado”, na ausência de candidatos
competitivos, face à débâcle do PSDB, já flerta abertamente com a candidatura
Bolsonaro. Afinal, para quem apoiou o golpe, apoiar um candidato caricato,
fascitoide e despreparado é “café pequeno”.
De
fato, nessas circunstâncias, Bolsonaro e aventureiros assemelhados têm tudo
para crescer ainda mais. Com esse clima de ódio e intolerância, a nossa direita
tradicional talvez não tenha forças para se contrapor ao fascismo ascendente. O
(des) governo Temer é a nossa República de Weimar. Provavelmente, a direita que
apoiou o golpe será engolida pelo monstro que cultivou. Se Lula for impedido de
se candidatar, teremos, talvez, um Trump bem piorado. Isso se houver eleições.
O que já está muito ruim sempre pode piorar ainda mais.
O
custo democrático, político, social e econômico desse ódio turbinado pelo
golpismo e por uma Lava Jato partidarizada é incomensurável. Não compromete
apenas os avanços que foram feitos em período recente. Compromete nosso futuro.
A
única esperança da democracia brasileira é justamente Lula. Lula e uma união
das forças progressistas e democráticas do país. O Brasil popular, mesmo com
toda a companhia midiática e o absurdo lawfare dirigido seletivamente contra a
maior liderança popular de sua história, não apenas sente muita saudade de
Lula. Sente que ele é o único candidato que projeta esperança. Não ódio. Que
projeto um futuro melhor para todos. Não a volta ao passado de pobreza e
desigualdade.
Se
a democracia e o país quiserem sobreviver, não é Lula que deve morrer. Os que
devem morrer são o ódio e a intolerância.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2017/11/o-odio-deve-morrer.html
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