“As
notícias sobre minha morte têm sido extremamente exageradas”, observou Mark
Twain certa vez.
O
depoimento de Antonio Palocci a Sergio Moro foi recebido com imensurável
alegria pelos suspeitos de sempre.
Ricardo
Noblat, amigo de Temer, autor da fabulosa pergunta sobre como Michel conheceu
Marcela num Roda Viva, decretou em sua coluna no Globo: “game over”.
“Palocci
finalmente cedeu às pressões dos seus advogados e contou o que sabe em
depoimento a Moro”, diz Noblat.
Eliane
Cantanhêde se referiu a Palocci como “a bala de prata contra Lula”. Segundo
ela, o ex-ministro “começa a falar verdades”.
Para
Merval Pereira, “acabou a brincadeira para Lula”. Ricardo Kotscho, por sua vez,
pergunta: “Fim de linha para Lula e o PT? Palocci entrega tudo”.
Quem
precisa de Deus com jornalistas premiados com o dom da onisciência? Eles não
apenas têm certeza de que Palocci não mente, mas de que Lula é um cadáver.
Faltam
as provas, para começar. Palocci mesmo admite que está abrindo o que nunca
havia aberto porque quer os benefícios da colaboração premiada, ou seja, sair
da prisão. Foi condenado a 12 anos.
Paulo
Francis um dia escreveu que o sujeito torturado entrega a mãe. Ninguém suporta.
Palocci não precisou ir para o pau de arara.
Pode
estar, sim, dizendo verdades. Mas vai ter que caprichar mais do que relatar
“pactos de sangue” que não presenciou, como o de Lula com Emílio Odebrecht em
torno de uma bolada de 300 milhões de reais.
O
que chama mais atenção em sua conversa amigável com Moro, no entanto, é a
postura subserviente, submissa, subjugada, humilhante, como a de um vira lata
faminto tentando agradar a velha gorda que não gosta dele e que tem a ração.
“Me
desculpe falar assim, Sua Excelência”;“o senhor quer que eu continue?”; “estou
aqui para ajudar o senhor”. Permaneceu o tempo todo com os olhos fixos em seu
proprietário, inclusive quando interpelado pelo advogado de Lula, Cristiano
Zanin Martins.
É
um tribunal de exceção, uma aula do que não deve ser ou parecer a Justiça. Fica
explícito que o acordo de Palocci só andou porque resolveu entregar Lula e
“desmascarar” Dilma. “É assim que o senhor quer que que fique, chefe?”, era o
subtexto da coisa.
Nada
sobre bancos, empresas de mídia, outras empreiteiras, outros políticos. Não vem
ao caso.
Quem
morreu ali não foi o ex-presidente, mas o próprio Palocci e a noção de decoro
do Judiciário. Um espetáculo imoral horrendo, o oposto do suicídio ritual do
haraquiri, fundado na honra. O sujeito se deixou empalar.
Quanto
às notícias sobre a morte de Lula, tantas vezes decretada, continuam
exageradas. Provavelmente ele será condenado na segunda instância - mas quando?
Como ter tanta convicção de que o roteiro desenhado vai se cumprir?
Quem
poderia esperar o sucesso da caravana no Nordeste? É absurdo achar que mais
pessoas não percebem o que está sendo feito. No momento de maior fragilidade da
Lava Jato, autodesmoralizada por seus agentes, é preciso trazer Lula, Dilma e o
PT para os holofotes novamente.
Se
esses lacaios fizessem jornalismo e não militância vagabunda, esperariam uma
próxima pesquisa presidencial. Aposto 20 centavos como terão uma surpresa
desagradável com o resultado.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-depoimento-de-palocci-e-as-noticias-extremamente-exageradas-da-morte-de-lula-por-kiko-nogueira/
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