Exposição
a medicamentos sem eficácia comprovada, risco de submissão a tratamentos
inadequados, suscetibilidade a efeitos colaterais e ao agravamento de quadros
clínicos são possibilidades criadas pela preponderância do viés publicitário e
mercadológico no cuidado com a saúde. Conforme aponta o médico e pesquisador da
Ensp/Fiocruz, Jorge Bermudez, trata-se de um mercado em ascensão. “No contexto
das restrições econômicas que grassam não apenas no Brasil, mas em âmbito
mundial, o faturamento do mercado varejista continua crescendo, mostrando ser
uma das indústrias mais poderosas do mundo, impondo seus interesses e seus
produtos. Entretanto, precisa lançar mão de estratégias nada ortodoxas para
assegurar a fidelidade a suas marcas e assim aumentar o faturamento e o domínio
de fatias de mercado”, afirma Bermudez, no artigo Indústria farmacêutica:
marketing desenfreado e mercado em ascensão, produzido para o blog do CEE-Fiocruz.
No
artigo, Bermudez apresenta dados do IMS Health que mostram que de décimo maior
mercado, em 2010, o Brasil passou a sétimo, em 2015, com expectativa de ser o
quinto maior mercado farmacêutico em 2020. Isso representa, hoje, um
faturamento anual em torno de R$ 87 bilhões. Os medicamentos genéricos, que vêm
aumentando seus aportes, representam cerca de 22% do mercado no país. “São 65
mil farmácias, 50% delas agrupadas em grandes redes de varejo, que transformam
o mercado farmacêutico varejista num grande campo de batalha de interesses e
disputas”, observa Bermudez.
Segundo
o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, entre os
impactos da propaganda de medicamentos na saúde pública, estão a indução ao
gasto das famílias com medicamentos sem eficácia comprovada, a exposição a
efeitos adversos potencialmente graves e a construção de uma consciência em
saúde “negativa e alienada na essência”. “Trata-se de um componente, que se
soma às demais estratégias de ampliação do consumo, como a propaganda ética
(dirigida diretamente aos médicos) e outras, de um processo de medicalização
que se afasta da dimensão ética, política e sanitária que deve reger a política
nacional de assistência farmacêutica”, afirma Temporão.
De
acordo com o jornalista e ex-editor do programa Radis/Ensp/Fiocruz, Álvaro
Nascimento, autor do livro Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser
consultado: isto é regulação?, a produção farmacêutica passou a ocupar o lugar
de apenas um produto de consumo entre outros, e tornou-se objeto de monopólios
mundiais e de concentração de renda. ”Isso ocorre via mecanismos inaceitáveis
como, por exemplo, as famigeradas patentes farmacêuticas, que merecem um debate
específico de viés civilizatório”, observa Álvaro no artigo Propaganda de
medicamentos faz mal à saúde, também produzido para o blog do CEE-Fiocruz, que
caracteriza a propaganda de medicamentos para grande público no Brasil como
“abusiva e repleta de irregularidades”. A produção de medicamentos, aponta,
sofre o impacto e mexe com poderosos interesses de pelo menos três grandes
setores com enorme poder econômico e político em nosso país: “a indústria
farmacêutica, as poucas empresas monopolistas da área de comunicação e o
comércio varejista”.
http://cee.fiocruz.br/?q=node/638
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