Desde
que uma quadrilha assaltou o governo há pouco mais de um ano, a rapinagem das
riquezas nacionais, a roubalheira mais escrachada, a destruição de direitos
históricos do povo, o fim dos programas sociais, a volta da fome e dos sinais
mais aviltantes da miséria, além da humilhação internacional do país, têm sido
a tônica do nosso pesaroso dia a dia.
Motivos
existem de sobra para que uma população revoltada ocupe permanentemente as
ruas, elevando gradativamente os níveis de radicalização dos protestos até que
seja posto abaixo o governo ilegítimo e usurpador. Mas, por que será que isso
não acontece entre nós, se até a Organização das Nações Unidas reconhece o
direito à rebelião popular diante de governos opressores?
Antes
de entrar no exame propriamente dito dessa pasmaceira coletiva, é importante
assinalar que tem havido resistência. Desde que o golpe se tornou uma ameaça
concreta até hoje, centenas de milhares de pessoas atenderam aos chamados das
centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda e compareceram a
manifestações marcantes em todos os estados do país.
Não
custa lembrar que em 28 de abril passado registrou-se a maior greve da história
e que, mesmo com o boicote e a sabotagem da mídia velhaca, multidões se moveram
contra as contrarreformas do governo golpista, pelo Fora Temer e por Diretas
Já. Contudo, o nó da questão é a presença insuficiente nos protestos de
contingentes maiores da classe operária e de moradores de favelas e bairros
periféricos. Em síntese, tem faltado povão.
Múltiplos
fatores combinados vêm sendo levantados pelos que buscam entender a inação
justamente dos mais atingidos pelas medidas antipovo do governo golpista, tais
como: ceticismo com a política e os políticos; desânimo e fadiga em relação à
eficácia dos protestos, já que o governo e o Congresso teimam em seguir na
direção oposta; forte campanha do monopólio midiático em defesa das reformas,
confundindo as pessoas; déficit de consciência política e cidadã do povo
brasileiro; desgaste de entidades e partidos do campo progressista.
Na
minha visão, em maior ou menor grau, esse elenco de causas joga luz na difícil
missão de clarear esse intrincado fenômeno político e sociológico. No entanto,
como não sou e jamais serei candidato a nada, acrescentaria outros. Começa pela
constatação de que o mito do brasileiro cordial do gigante Sérgio Buarque de
Holanda há muito fez água por todos os poros.
Hoje,
expressiva parcela das classes média e alta cultiva valores racistas,
homofóbicos, sexistas e xenófobos. Em geral iletrados e ignorantes até a
medula, em que pese o acesso à educação formal, esses bem-nascidos detestam os
pobres. Daí o ódio que sentem pelos que fazem da política uma trincheira de
lutas para reduzir a nossa vergonhosa desigualdade social.
O
problema é que o mau-caratismo dos privilegiados contaminou parte considerável
da base da pirâmide social. Li em algum lugar, e lamento não lembrar o autor
para citá-lo, uma frase genial segundo a qual a obra mais acabada do
capitalismo é o pobre de direita. E, a julgar pelo que ouvimos nas ruas,
botecos e transportes públicos, ele existe em profusão e não para de se
multiplicar entre nós. Tristeza!
http://blogdobepe.com.br/index.php/politica/item/1593-pode-um-povo-ir-para-o-cadafalso-sem-lutar
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