Quem
acompanha os debates da reforma trabalhista no Senado pode até achar que ela
não vai passar, afinal só a oposição aparece discursando contra o texto
defendido pelo governo Temer. Uma busca nas notas taquigráficas da página do
Senado também leva a crer isso. Quase ninguém para fazer uma defesa veemente do
texto, considerado cruel por muitos. Também pudera: uma consulta pública feita
no site do Legislativo mostra que 91% são contra a revogação de direitos dos
trabalhadores. E uma pesquisa do Datafolha apontou que 64% dos brasileiros
acham que a reforma beneficia os patrões.
De
olho nas eleições de 2018, parte da base aliada evita defender o tema em
público. José Serra (PSDB-SP) e Jader Barbalho (PMDB-PA), por exemplo, se
limitaram a votar a favor da reforma trabalhista em uma das comissões sem
sequer participar do debate que durou quase 14 horas naquele dia. Uma imagem
que chamou a atenção no dia da votação na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) foi o fato de os governistas não aplaudirem a vitória. “Os governistas
nem comemoram, de vergonha! É bom comemorarem, porque o povo vai ver a
comemoração”, provocou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). “O constrangimento é
grande! Os governistas todos estão morrendo de vergonha”, emendou a senadora
Fátima Bezerra (PT-RN). Quem conhece o dia a dia no Senado, sabe que a teoria
praticada pelo líder Romero Jucá (PMDB-RR) é que o governo não tem que debater,
tem votar.
Os
poucos governistas que participaram dos debates da no plenário –em dois dias,
apenas seis contra 19 da oposição- apresentaram justificativas fajutas e até
absurdas. Um dos argumentos mais utilizados é que é preciso atualizar a
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e que, diante da globalização, a
legislação brasileira precisa mudar. Sim, mas de que forma e a que custo? Um
senador tucano chegou a comparar a reforma, que atinge milhões de
trabalhadores, com a atualização de um aplicativo de celular… Outro ainda
atestou que foi a terceirização que permitiu ao brasileiro ter um smartphone.
Mal sabe ele que o poder de compra do trabalhador caiu 9% nos últimos dois
anos.
Com
14 milhões de desempregados, dizer que a reforma vai gerar empregos pode soar
como música nos ouvidos do trabalhador. Sorrateiramente, os senadores preferem
fingir que não escutaram o diretor da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), Peter Poschen, dizer no Senado que a experiência internacional mostra
que nem sempre a mudança na legislação consegue gerar empregos e o ciclo
econômico costuma ser mais importante na criação de postos de trabalho. Há
também os senadores empresários, que não ficam com vergonha na cara de legislar
em causa própria. Segurança jurídica é mais um chavão para ganhar passe para
contratar por hora, sem dia fixo, sem pagar férias, 13o, FGTS, que o autônomo
não tem direito. Fica oficializada a precarização do trabalho. Fora um senador
que reclamou do baixo lucro dos empresários. E como o mico não podia ser pior,
um dos argumentos em defesa da reforma foi dizer que Michel Temer tem
credibilidade e corrigirá os abusos no texto em uma medida provisória.
Confira
as piores defesas dos senadores governistas à reforma trabalhista:
Garibaldi Alves
(PMDB–RN), o que acredita na palavra de Temer
“O
presidente da República, em compromisso firmado e lido para conhecimento dos
senadores e da sociedade, se comprometeu a vetar dispositivos. Sou um homem de
boa-fé e a oposição parece representada por pessoas que não têm boa-fé, que não
têm tolerância, que deveriam dar atenção a um compromisso assinado pelo
presidente da República. Queiram ou não, o presidente Michel Temer está à
frente do Governo e um compromisso que ele assume tem toda legitimidade, tem
toda credibilidade”.
Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB), o que comparou a reforma a um aplicativo
“Da
mesma forma que nós atualizamos um aplicativo de um celular, é natural que uma
legislação que remonta a 1943 precisa ser atualizada.”
José Agripino (DEM-RN),
para quem a terceirização é sinônimo de smartphones para todos
“Por
que o meu funcionário, o meu jardineiro, tem condições de comprar um telefone,
e o rico tem também, claro, condições de comprar? Por conta de uma coisa
chamada terceirização. O telefone, seja LG, seja Samsung, seja Motorola, seja
Apple, seja qual for, nenhum deles o fabricante fabrica da bateria ao
microfone. Distribui a produção como no automóvel, distribui a produção dos
componentes por terceirizados para quê? Para fazer a peça competitiva. A
terceirização é sinônimo de competitividade e de modernidade. A terceirização é
um instrumento que está possibilitando a socialização da propriedade de bens
que todo mundo hoje usa, do pobre ao rico, e é instrumento de comunicação, de
informação, de entretenimento, de tudo. Produto de quê? Da terceirização. O
telefone hoje, o celular, você compra barato, porque, como muitos fabricam os
componentes, termina havendo competição de empresa com empresa. E o telefone
celular, o mais caro, é accessível ao rico e, o mais barato, é accessível ao
mais pobre, mas todos usam as informações que o smartphone possibilita.”
Ivo Cassol (PP-RO), o
empresário coitadinho contra o trabalhador mentiroso
“Uma
mentira de um servidor mal intencionado vale por cem palavras de um empresário
sério. E não é por causa das empresas que eu tenho, não. Não estou aqui
legislando em causa própria. Hoje, as empresas pequenas já começam quebradas.
Eu não estou aqui para defender patrão vagabundo e sem-vergonha, que contrata a
pessoa e não paga. Agora, quanto à questão de as empresas diminuírem o salário
que pagam hoje, isso temos que garantir, temos que dar segurança. É muito fácil
pegar todo mundo, botar em uma vala, botar dentro de um tacho, botar soda
dentro e derreter. Pelo menos, vamos ver se sai uma forminha boa embaixo. Não
podemos é generalizar. Em todos os setores da sociedade, na classe política e
em todos os setores, há gente boa, mas também há porcaria, também há carne de
pescoço, também há nós cegos, também há pilantras.”
Wilder Morais (PP-GO) e
a miragem da economia retomada por Temer
“O
Brasil passa por grandes transformações. As reformas estão sendo aprovadas.
Isso vai destravar o Brasil, incentivar o empreendedor nacional, dar garantia
aos investidores externos, acabar com a insegurança jurídica, favorecer o
ambiente de negócios. Essa mudança está em andamento. As taxas de juros se
aproximam de um dígito, o PIB deixa de ser negativo, a inflação permanece sob
controle. Com tudo isso, aos poucos se combate o desemprego não com as mágicas,
com a demagogia, nem com a bolha do populismo nem com planos mirabolantes.
Bastou uma boa gestão da equipe econômica, que é elogiada pelo mercado e merece
cada adjetivo.”
Cidinho Santos (PR-MT),
a “pessoa do bem” que quer substituir operários por máquinas
“As
pessoas falam: ‘Vocês estão oprimindo o operário e o trabalhador’. Não. Dessa
forma, os empregos estão diminuindo porque, em vez de a pessoa gerar emprego,
troca por máquinas. Se tenho, na minha empresa, uma máquina que substituo por
dez pessoas, compro a máquina e tiro as dez pessoas. E sou uma pessoa do bem.
Antes, eu queria fazer o contrário: eu tinha vontade de ter dez, vinte empregos
e não ter uma máquina. Mas, da forma como vai hoje, há uma desilusão tão grande
por essa picaretagem que existe entre sindicatos e alguns advogados trabalhistas,
que desanima aquele que quer ser empreendedor no Brasil.”
Cristovam Buarque
(PPS-DF), o “progressista” que defende 12 horas de trabalho
Poesia contra a reforma
Do
lado dos opositores da reforma, pelo contrário, sobram argumentos sólidos e até
poesia. No último dia de debate antes da votação que vai acontecer na próxima
terça-feira (12), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) avisou aos colegas
governistas que o povo brasileiro está de olho e quem apoiar o que o governo
Temer defende pode se dar mal, já que o presidente tem 7% tem aprovação. “Tenho
certeza de que nós seremos julgados pelos nossos atos aqui”, afirmou. “A
pergunta a ser feita é: em nome de quê nós aprovaremos essa reforma? A pergunta
a ser feita é: em nome de quê as biografias das senhoras e dos senhores estarão
comprometidas? Não vale a pena, em nome deste governo e da pressa deste governo
em se sustentar em nome de qualquer coisa, não vale a pena V. Exªs mancharem
vossas biografias”, disparou.
Randolfe
citou dois estudos da OIT, feitos em mais de 100 países ,sobre a relação entre
as normas de proteção ao trabalhador e o nível de emprego e concluiu que não há
relação significante entre a rigidez da relação da legislação trabalhista e o
nível de emprego. Ao contrário, países onde houve maior desregulamentação
tiveram aumento nas taxas de desemprego. “Então, é balela a argumentação de que
vai gerar mais empregos. Ao contrário, isso vai criar desemprego e aumentar o
contingente, que é, durante o governo Temer, de 15 milhões de brasileiros”,
atestou. Famoso por sua atuação apaixonada, Harry Potter, como Randolfe é
chamado nos corredores da Casa, por fim, recorreu à poesia Pão Nosso, de Ivo
Barroso, para mostrar que a reforma trabalhista é medieval e impõe ao
trabalhador a condição análoga à de escravo.
http://www.socialistamorena.com.br/os-argumentos-mais-estapafurdios-dos-governistas/
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