Se
William Shakespeare fosse brasileiro provavelmente a Dinamarca seria poupada do
escracho de estar para sempre vinculada à podridão moral, econômica e social.
Ao
invés de ter vaticinado que "tem algo de podre no reino da Dinamarca"
o bardo inglês teria escrito com antecipação visionária de alguns séculos, algo
bem próprio dos gênios, que sim, "tem algo de podre na Suprema Corte do
Brasil".
Indícios
de fedentina são muitos e surgem aos montes, tipo lenços puxados de uma caixa
de Kleenex. Puxa um, vem junto um monte.
Gilmar
Mendes, sempre ele, nem se dá mais ao gozo discreto de suas amizades.
Aparece
em áudio gravado com ordem judicial auxiliando Aécio Neves a votar assim e
assado em projeto discutido no plenário do Senado.
Surge
em reunião com Michel Temer a qualquer momento que lhe dê na telha, e quase
sempre o presidente investigado por corrupção do Brasil tem a tiracolo outros
mais enrascados como os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
Mendes
não dá o braço a torcer. "Somos amigos há mais de trinta anos, oras!"
É
tão extensa e nauseante a lista de falta de decoro do "ministro
supremo" que, apenas para elencar o mais recente, um dia antes da escolha
da sucessora de Rodrigo Janot, na PGR, Temer se encontra à noite em jantar na
casa... de Gilmar Mendes.
Detalhe
que salta aos olhos: ele será n'algum momento chamado a julgar Temer, Aécio,
Moreira, Padilha, Geddel, Loures, Cunha, Henrique. Isto da turma dos amigos.
Mas
também julgará seus inimigos e os inimigos de seus amigos.
Alguém
confia que Sua Excelência alegará autosuspeição? "Ah, vão catar
coquinhos!" Bem poderia responder.
Nem
se passaram duas semanas e Gilmar Mendes, sempre ele pela enésima vez, deu o
voto decisivo para o mais completo descrédito do Tribunal Superior Eleitoral,
por ele presidido. Voto que anularia toda malfeitoria e crime cometidos pela
chapa Dilma/Temer em 2014 e que consagrava que "ao rei tudo, absolutamente
tudo", e mesmo a intangível honra do próprio tribunal está dentro desse
"tudo".
Triste
país este nosso, ou melhor, como cheira bem, bem até demais, a Dinamarca!
Edson
Fachin que por vezes concede alento de esperança no sentimento em que a Nação
tenta se agarrar desesperadamente: o de que o Supremo Tribunal Federal julga
com imparcialidade, não escolhe pena de acordo com a cor partidária do réu, tem
atuação serena, equilibrada e... justa.
Mas
nao é isso o que temos visto. Temos uma Corte partidarizada em ao menos 70% de
seus membros. Basta que se cotejem os ritos processuais, as sentenças, a
administração do habeas corpus nos últimos três a quatro anos.
Existem
sim os seus bandidos de estimação. E como existem!
Fachin
debulha rosário de razões, sempre com vernáculo afetado, para manter preso em
presídio Rodrigo Rocha Loures e ter afastado do mandato parlamentar Aécio
Neves.
Em
um par de dias o que parecia gesto de isenção se transmuta em seu imediato
oposto: seu colega Marco Aurélio devolve a Aécio Neves o mandato na undécima
hora antes de a Corte entrar em recesso, livra-o de todas as imputações
aprovadas em sentença de Fachin e, pasmem, o próprio Edson Fachin afrouxa a
vida de Rocha Loures logo quando este ameaçava delatar o chefe imediato, Michel
Temer.
Tudo
isso em meio ao floreio jurídico oco e com ar de pernosticidade com que Sua
Excelência costuma escandir seus votos.
No
meio dessa salada de frutas - ou seria salada de interesses pouco confessáveis?
- surge Carmem Lúcia, com seu visual de madre superiora de colégio católico
interno dos anos 1950, a dizer com solenidade platitudes do tipo "nao
faltaremos ao nosso dever para com o Brasil", "não seremos surdos ao
clamor de justiça que vem da sociedade".
Não
entendemos como clamor do povo brasileiro elogiar a conduta de Aécio Neves,
devolver-lhe a vida de antes de serem provados à exaustão a gama de atos
delitivos que sobre ele recai.
Entender
que é um dever do Brasil libertar das agruras prisionais aquele então deputado
correndo com mala contendo R$ 500.000,00 pelas ruas de São Paulo e mesmo
sabendo-se de antemão quem é o real dono da mala, eis aí algo muitíssimo
difícil de entender.
É
como se Alice, a célebre personagem de Lewis Carrol, e não Carmem Lúcia,
houvesse sido nomeada para compor o STF do Brasil: quanto non sense, quanta
falta do senso de ridículo, quanta fantasia envolvida, quanta hipocrisia em
apenas 24 ou 48 horas! E isto partindo de alguém que simplesmente preside nossa
Suprema Corte de Justiça!
O
sentimento de barafunda jurídica, o mal odor de maracutaias graúdas, qual ovo
de serpente, sendo gestado no belo edifício da justiça projetado por Oscar
Niemeyer para o Brasil, parece apenas aumentar em intensidade, e a cada hora
que passa, vemos a desesperança se consolidar no seio mesmo do sentimento
maior, o de que pertencemos ao Brasil.
No
fundo algo sobressai: o STF é a verdadeira caixa preta do Brasil.
E
quem saberá as reais motivações de seus doutos ministros para mudar de voto com
a facilidade com que tomam uma xícara de café ou colocam um par de sapatos?
Quais
os interesses envolvidos?
Serão
promessas de nomeações em vistosos cargos públicos federais para seus parentes
e diletos amigos?
Será
algo em troca de absoluto segredo de seus próprios 'podres' descobertos ao
longo dis últimos meses pela ABIN?
No
meio do túnel em que nos achamos só uma coisa é certa: ainda tardará muito a se
discernir a tal luz no fim do túnel.
Por
que até lá já não existirá país algum.
O
partidarismo político, como a peste negra séculos atrás, corroi muito
rapidamente o corpo do nosso Supremo Tribunal e, trágico por demais, é saber
que 220 milhões de brasileiros não têm mais a quem recorrer em sua busca
incessante por alguns poucos nacos de Justiça.
O
Brasil não merece o Supremo que tem.
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/danielquoist/304266/O-Brasil-n%C3%A3o-merece-o-Supremo-que-tem.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário