Vivemos
uma realidade violenta, de regressão e declínio do Estado Democrático de
Direito, um contexto que oprime, mas que ensina e exige reflexão. A ruína de
uma democracia é também a decadência de uma sociedade que desmorona e, cada dia
mais, nos deparamos com episódios de brutalidade contra as manifestações de
trabalhadores (as), com ofensivas para impedir a organização social contra o
golpismo no Brasil e perdemos espaço de diálogo pressionados por um
autoritarismo da direita que ascende.
A
dissimulação é a forma encontrada para criminalizar quem denuncia o golpe.
Quando a democracia é desrespeitada, os partidos e os indivíduos de esquerda
são transformados em bandidos e o poder obscuro tem como aliado a imprensa
mentirosa, a reação à calúnia e a desobediência em face do cerceamento às
liberdades são sinais de vida e combatividade, são exemplos de resistência à
servidão ao fascismo e à renúncia da história.
A
história é cheia de exemplos de como o poder é usurpado, apropriado, desvirtuado
para atender interesses ilegítimos alavancados por discursos e práticas de
tiranos. Quando a democracia se enfraquece, o fascismo confisca a ética de
muitos cidadãos que aderem à vontade de repressão por conformismo ou como forma
de pertencer ao grupo que se alça a fazer a expropriação do bem público em nome
da promessa de uma limpeza moral.
Os
grupos de caráter fascista que se armaram para atacar as manifestações do Ocupa
Brasília, o policial que levou preso um líder sindical porque usava o microfone
para debater a reforma trabalhista, os agentes do MBL que agrediram servidores
(as) municipais em Porto Alegre, a impunidade do Estado em relação às chacinas
de camponeses e indígenas, a ação higienista do prefeito Doria contra pessoas
em situação de vulnerabilidade, são algumas expressões reveladoras de que uma
parcela da sociedade que está integrada a um projeto de poder autoritário.
A
escalada fascista conta com a adesão espontânea de setores da sociedade que
temem perder privilégios, de partidários da direita que enveredam à extrema
direita ao ver suas lideranças abatidas em grandes esquemas de corrupção e de
indivíduos que se oferecem para trilhar esse caminho, empurrados pela lógica
neoliberal que atiça a destruição do “outro” na guerra da sobrevivência. Todos
esses setores têm como horizonte comum a expectativa de que a ajuda à conquista
do poder será recompensada, para isso têm que disseminar o ódio à esquerda,
desprezar as populações em situação de pobreza e vulnerabilidade, destruir a
potência da resistência e propagar a discriminação étnico-racial, de gênero,
orientação sexual, entre outras formas de oprimir e descaracterizar a quem se
pretende aniquilar.
Existem,
ainda, àqueles que se tornam submissos porque não fazem uma reflexão ética e se
calam ou até admitem a prisão arbitrária do filho do vizinho, a extinção do
emprego de quem não está próximo, a falta de ética do médico que não atende a
criança filha de petista, o abuso do juiz contra o líder político que é um
desafeto, o cinismo da imprensa que até acham graça, o promotor que acusa sem
provas, a restrição da aposentadoria de quem não é da família. Essas pessoas
que viram coniventes frente ao extermínio da juventude negra, à exploração do
trabalho infantil, à tortura, à escravidão, ao genocídio, ao estupro e aos
linchamentos podem se tornar marionetes que ajudam a maltratar, a excluir, a
destruir, a explorar e a espoliar.
Em
uma atmosfera que empurra para a aderência ao fascismo, indivíduos e
instituições estão expostos e não podemos presumir que a susceptibilidade
desses setores às ideias e métodos antidemocráticos irá desaparecer sem a
desconstrução dessas concepções e práticas. Portanto, mais do que nunca, é
necessário um trabalho vigoroso de combate e de denúncia das formas de
opressão, discriminação e autoritarismo que cada vez mais estão presente e se
disseminam entre diversos grupos sociais.
O
combate ao fascismo passa pela organização da resistência e implica uma ampla
campanha de discussão, informação e denúncia, que possibilite a reflexão sobre
as experiências históricas que conduziram às ditaduras, como o que aconteceu no
Brasil em 1964. As mídias sociais, os artigos políticos, a produção acadêmica,
a produção cultural, a ação combativa no parlamento, as reuniões políticas, os
atos de rua, são contrapontos que precisam ser fortalecidos, pois têm um papel
preponderante para estabelecer essas conexões entre o presente histórico e as
formas de poder e tirania como o nazismo, o fascismo, que não estão distantes
de nós. Essa capacidade crítica de leitura da realidade é um imperativo
necessário para organizar a resistência como uma atividade cotidiana, intensa e
imprescindível.
*Paulo Pimenta
é jornalista e deputado federal PT/RS
http://www.revistaforum.com.br/2017/06/25/organizar-resistencia-para-conter-o-avanco-fascismo/
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