domingo, 25 de junho de 2017

ORGANIZAR A RESISTÊNCIA PARA CONTER O AVANÇO DO FASCISMO. Por Paulo Pimenta

Vivemos uma realidade violenta, de regressão e declínio do Estado Democrático de Direito, um contexto que oprime, mas que ensina e exige reflexão. A ruína de uma democracia é também a decadência de uma sociedade que desmorona e, cada dia mais, nos deparamos com episódios de brutalidade contra as manifestações de trabalhadores (as), com ofensivas para impedir a organização social contra o golpismo no Brasil e perdemos espaço de diálogo pressionados por um autoritarismo da direita que ascende.

A dissimulação é a forma encontrada para criminalizar quem denuncia o golpe. Quando a democracia é desrespeitada, os partidos e os indivíduos de esquerda são transformados em bandidos e o poder obscuro tem como aliado a imprensa mentirosa, a reação à calúnia e a desobediência em face do cerceamento às liberdades são sinais de vida e combatividade, são exemplos de resistência à servidão ao fascismo e à renúncia da história.

A história é cheia de exemplos de como o poder é usurpado, apropriado, desvirtuado para atender interesses ilegítimos alavancados por discursos e práticas de tiranos. Quando a democracia se enfraquece, o fascismo confisca a ética de muitos cidadãos que aderem à vontade de repressão por conformismo ou como forma de pertencer ao grupo que se alça a fazer a expropriação do bem público em nome da promessa de uma limpeza moral.

Os grupos de caráter fascista que se armaram para atacar as manifestações do Ocupa Brasília, o policial que levou preso um líder sindical porque usava o microfone para debater a reforma trabalhista, os agentes do MBL que agrediram servidores (as) municipais em Porto Alegre, a impunidade do Estado em relação às chacinas de camponeses e indígenas, a ação higienista do prefeito Doria contra pessoas em situação de vulnerabilidade, são algumas expressões reveladoras de que uma parcela da sociedade que está integrada a um projeto de poder autoritário.

A escalada fascista conta com a adesão espontânea de setores da sociedade que temem perder privilégios, de partidários da direita que enveredam à extrema direita ao ver suas lideranças abatidas em grandes esquemas de corrupção e de indivíduos que se oferecem para trilhar esse caminho, empurrados pela lógica neoliberal que atiça a destruição do “outro” na guerra da sobrevivência. Todos esses setores têm como horizonte comum a expectativa de que a ajuda à conquista do poder será recompensada, para isso têm que disseminar o ódio à esquerda, desprezar as populações em situação de pobreza e vulnerabilidade, destruir a potência da resistência e propagar a discriminação étnico-racial, de gênero, orientação sexual, entre outras formas de oprimir e descaracterizar a quem se pretende aniquilar.

Existem, ainda, àqueles que se tornam submissos porque não fazem uma reflexão ética e se calam ou até admitem a prisão arbitrária do filho do vizinho, a extinção do emprego de quem não está próximo, a falta de ética do médico que não atende a criança filha de petista, o abuso do juiz contra o líder político que é um desafeto, o cinismo da imprensa que até acham graça, o promotor que acusa sem provas, a restrição da aposentadoria de quem não é da família. Essas pessoas que viram coniventes frente ao extermínio da juventude negra, à exploração do trabalho infantil, à tortura, à escravidão, ao genocídio, ao estupro e aos linchamentos podem se tornar marionetes que ajudam a maltratar, a excluir, a destruir, a explorar e a espoliar.

Em uma atmosfera que empurra para a aderência ao fascismo, indivíduos e instituições estão expostos e não podemos presumir que a susceptibilidade desses setores às ideias e métodos antidemocráticos irá desaparecer sem a desconstrução dessas concepções e práticas. Portanto, mais do que nunca, é necessário um trabalho vigoroso de combate e de denúncia das formas de opressão, discriminação e autoritarismo que cada vez mais estão presente e se disseminam entre diversos grupos sociais.

O combate ao fascismo passa pela organização da resistência e implica uma ampla campanha de discussão, informação e denúncia, que possibilite a reflexão sobre as experiências históricas que conduziram às ditaduras, como o que aconteceu no Brasil em 1964. As mídias sociais, os artigos políticos, a produção acadêmica, a produção cultural, a ação combativa no parlamento, as reuniões políticas, os atos de rua, são contrapontos que precisam ser fortalecidos, pois têm um papel preponderante para estabelecer essas conexões entre o presente histórico e as formas de poder e tirania como o nazismo, o fascismo, que não estão distantes de nós. Essa capacidade crítica de leitura da realidade é um imperativo necessário para organizar a resistência como uma atividade cotidiana, intensa e imprescindível.

*Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal PT/RS

http://www.revistaforum.com.br/2017/06/25/organizar-resistencia-para-conter-o-avanco-fascismo/


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