A
atual conjuntura nacional e internacional é caracterizada por políticas que
atacam os interesses da classe trabalhadora.
Ainda
assim, tanto na Europa como na América Latina, observa-se um apoio eleitoral
significativo a candidatos da direita que defendem abertamente políticas
contrárias aos interesses dos mais pobres. Constata-se assim, a proliferação
cada vez maior de um fenômeno social: o "Pobre de Direita".
Para
analisarmos com maior precisão esse personagem, é importante definirmos o que é
"ser pobre" na sociedade capitalista contemporânea. Vejamos.
A
pobreza é sempre um conceito relativo e que deve ponderar dois aspectos
centrais: primeiro, a posição social do indivíduo no mundo do trabalho e, em
segundo lugar, as possibilidades históricas de acesso à riqueza material que
uma determinada época oferece.
Na
sociedade capitalista contemporânea existem milhares de posições de trabalho
que equivalem, de maneira aproximada, à divisão de sua extensa (e caótica)
cadeia produtiva. Ainda assim, nessa aparente diversidade de funções, conceitos
elementares se encontram preservados.
Há
aqueles que são os detentores dos meios de produção - grandes empresários e
banqueiros (0,1% da população mundial que detém a mesma riqueza que os
restantes 99,9%) - e há também uma massa gigantesca que vende sua força de
trabalho em troca de dinheiro e que, caso não arrume trabalho, não consegue
reproduzir sua existência.
Em
suma, na sociedade capitalista há uma pequena minoria rica e uma esmagadora
maioria pobre.
Há
aqueles que questionam a terminologia "pobre" tentando reservar esse
termo para a população que vive na miséria, nas ruas, passando pelas
necessidades mais básicas. Porém, temos que ser criteriosos nesse momento, para
não cairmos nas falácias do sistema capitalista.
É
pobre todo aquele que vive através da venda de sua força de trabalho, isto é,
se comporta como uma "mercadoria humana" que se vende no mercado de
trabalho. Caso essa "mercadoria humana" resolva parar de trabalhar,
morrerá de fome em um prazo não inferior a 10% de sua vida biológica (de 7 a 8
anos).
É
rico todo aquele que vive do trabalho alheio, isto é, pode viver sem trabalhar.
Para além disso, esse indivíduo deve possuir uma renda acumulada que lhe
garanta a reprodução de seu padrão de vida médio por toda a sua existência
biológica (em média 80 anos). Notem que, a rigor, também não são ricos os
pequenos e médios empresários e muito menos os profissionais liberais.
Com
essas definições chegamos a algumas conclusões básicas: não existe sociedade
capitalista sem pobres. Uma nova sociedade, superior à capitalista, conseguiria
eliminar a pobreza estabelecendo que absolutamente todos os seus indivíduos
possuíssem o direito - inalienável - aos aspectos básicos de sua reprodução
como ser-humano: saúde, educação, alimentos, moradia, acesso à cultura,
vestimentas e lazer.
Outra
conclusão: a assim chamada Classe Média, muito embora possa ter acesso a esses
aspectos anteriormente descritos (saúde, educação, alimentos, etc.) é em sua
totalidade formada por pobres.
A
Classe Média apenas possui esse acesso de forma provisória, isto é, ela
"aluga" uma condição de vida e paga geralmente bem caro por isso. Não
se trata de um direito conquistado, mas de um "bem alienável" e que
poderá ser perdido dependendo das idas e vindas do mercado de trabalho,
problemas pessoais, doenças incapacitantes, acidentes, etc.
Assim,
a Classe Média "aluga" um status de vida que pode ser retirado dela
tão logo sua renda caia. Parte da Classe Média, em determinados momentos, chega
até a "alugar" uma vida parecida com a dos ricos. Mas uma crise
econômica de médio porte já é suficiente para devolvê-la à pobreza (sendo que
aqueles que "alugam" essa vida de rico, em regra, são arrastados de
volta para a pobreza de forma sempre muito mais violenta e rápida do que
aqueles que se abstiveram desse "aluguel"...)
Enfim,
ser da classe média é ser pobre. O fato de um indivíduo andar de avião não lhe
faz ser dono do avião... Acaba a viagem esse indivíduo tem que sair para dar
lugar a outros passageiros... Da mesma forma, viver uma vida de rico, não é ser
rico. Como já foi salientado, ser rico é poder viver do trabalho alheio,
mantendo seu padrão de vida por toda uma geração.
Com
esses conceitos postos à luz do dia chegamos também a outra conclusão lógica:
não apenas é impossível existir capitalismo sem pobres, como é matematicamente
impossível um pobre se tornar rico na sociedade capitalista.
A
existência de loterias e as histórias de "conto de fadas" de pobres
que se tornaram ricos, são apenas meios para iludir a maioria da população
dessa dura realidade: você é pobre e não há nada que você possa fazer para
mudar isso - enquanto você viver sob as leis do capitalismo.
Vejamos
que, nos nossos dias, encontramos a esmagadora maioria da população, que é
pobre, sonhando justamente o impossível: ser um dia rico. E manter esse sonho é
o principal ofício dos políticos da direita. Esses estão incumbidos de manter
os pobres na ilusão de que é possível a existência de uma sociedade onde
qualquer um possa ser rico, dependendo do seu mérito e da sua ação como
cidadão.
Não
por acaso, muitos desses políticos da direita são religiosos pois, a ideia de
uma sociedade onde todos sejam ricos só pode ser comparável com a fé da
existência de um paraíso após a morte...
Esses
políticos acabam se valendo da mesma lógica cristã: nem todos serão salvos e
viverão a eternidade no paraíso, apenas aqueles que tiverem fé em Deus e
fizerem por merecer; da mesma forma, serão ricos apenas aqueles que tiverem fé
no sistema capitalista e fizerem por merecer (meritocracia)...
O
correto seria todos os pobres lutarem por uma sociedade que elimine a pobreza,
o que significa - como já foi dito - superar as limitadas possibilidades do
sistema capitalista e implementar um outro sistema que garanta a todos o
direito de sua reprodução como ser-humano.
Aqui
o pobre não se tornaria rico (pois não existe rico sem pobre), mas se tornaria,
simplesmente, livre. Livre pelo seu trabalho e pelo trabalho de todos os
demais. Pois nessa outra sociedade o trabalho serviria para garantir a
liberdade de todos e não a riqueza de alguns e a pobreza de todos os demais.
Enfim,
enquanto não houver a plena consciência dos indivíduos sobre esses conceitos
aqui trabalhados, sempre haverá os "Pobres de Direita" - que são
simplesmente pobres iludidos pelo sistema capitalista, que lhe vende a ideia de
que eles não seriam, na verdade, pobres... mas sim parte da "classe
média" ou "classe C ou B".
E...
quando chega uma crise econômica capitalista, de forma manipuladora e ardilosa,
a direita acaba dirigindo o ódio desses "Pobres de Direita" contra
seus inimigos de classe (a esquerda) e outros demais fantasmas de ocasião
(imigrantes, líderes da oposição, a imoralidade dos indivíduos, a falta de fé,
etc).
Ainda
que seja um absurdo a existência de pobres que defendem um sistema que reproduz
a sua própria pobreza, é necessário admitir que muitos desses estão tão
iludidos e tão dependentes desse sistema que lutarão em sua defesa até o último
minuto de suas vidas.
Alguns
desses pobres chegam a vestir uniformes, jogar bombas e dar cacetadas naqueles
que protestam contra um sistema que lhes fazem ser pobres; outros pobres fazem
campanha e se matam para eleger os candidatos da direita, que admitem ter nojo
de pobres.
Esses
pobres são quase incorrigíveis ou já são absolutamente incorrigíveis. A essa
população, restará apenas o desprezo das futuras gerações que certamente
conseguirão criar uma nova sociedade de homens e mulheres verdadeiramente
livres.
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=794680137361589&id=787755558054047
Nenhum comentário:
Postar um comentário