Não
nos iludamos, as coisas vão piorar. Maio
trouxe um recrudescimento da ofensiva comandada pela coligação entre a Lava Jato,
a grande mídia e forças aliadas conservadoras.
Este regime sem nome, que não governa mas comanda, tem no governo Temer,
originário do golpe de 2016, apenas um subproduto de seu projeto mais
ambicioso: arrasar com as forças populares, excluir o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva da sucessão de 2018. Através de sua condenação, e criminalizar
outros expoentes da esquerda, como a presidente deposta Dilma Rousseff,
pavimentando o caminho para uma nova e talvez duradoura hegemonia
conservadora. Não nos iludamos, as
coisas devem piorar, com o Estado de Exceção se instalando com mais
desenvoltura no país.
São
claros os sinais de que as forças coligadas à Lava Jato – que ultrapassa a vara federal curitibana,
englobando também o comando da PGR e setores do Supremo - estão pisando no acelerador, buscando o ponto
crítico da crise para alcançar os objetivos que realmente sempre
importaram. Um destes sinais é o aumento
da violência midiática, que se manifestou na cobertura e repercussão do
depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro, e a seguir, na difusão
caudalosa dos vídeos e do conteúdo da delação dos marqueteiros João Santana e
Monica Moura. Se restava algum prurido, foi posto de lado, numa atuação
homogênea e afinada, com profissionais perdendo qualquer pudor de se exibirem
como coadjuvantes de uma empreitada política. A capa de Veja com Marisa Letícia
foi uma síntese desta escalada, mas foi um ponto bem dentro da curva. Os
jornais também haviam se empenhado em dizer que Lula tentou culpar Marisa pelo
caso do tríplex do Guarujá, embora ele tenha dito a Moro o que já dissera
quando ela era viva, e Marisa tenha sido mesmo parte do processo. Foi ela a
compradora de uma cota da Bancoop. Tanto
é que, com sua morte, a ação contra ela foi extinta. De tudo isso esqueceu-se a mídia. E vai
piorar.
Outro
sinal de que a ofensiva entra em uma fase mais pesada vem do alinhamento
vertical, no Poder Judiciário, com a PGR e a vara de Curitiba. Na véspera do
depoimento de Lula, o juiz Ricardo Leite, da 10ª. Vara Federal de Brasília
determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula.
Era
o Judiciário jogando unido, criando o clima contra Lula no depoimento. A defesa de Lula deixou para enfrentar esta
bomba depois, mantendo o foco na agenda do dia seguinte. Mas também no dia 9, o
TRF-4 negou o pedido de autorização para
gravar o depoimento e o de adiamento da inquirição, em função do aporte de mais
de mil páginas de documentos ao
processo. Manteve, pois, as decisões anteriores de Moro. A defesa de Lula correu para o STJ, mas ali
também o ministro relator, Felix Fischer, negou os dois pedidos, bem como o
recurso para que Lula seja julgado por outro juiz, em face da
indiscutível perda da imparcialidade por Moro. O depoimento viria desnudar o
antagonismo político de Moro com Lula, expondo sua parcialidade, sua convicção
prévia de culpa, que conflita com o direito ao juiz natural e imparcial. Mas
ele ganhou no TRF-4 e no STJ.
Eis
que, na quinta-feira, 11, dia seguinte ao depoimento, o relator da Lava Jato no
STF, Edson Fachin, levantou o sigilo das delações de Santana e sua mulher, que
mantivera trancadas por semanas, apesar dos pedidos da defesa de Dilma. Por que exatamente um dia depois? Para
neutralizar os ganhos que Lula teve com o depoimento, se não jurídicos pelo
menos políticos? Mesmo em alguns nichos da mídia houve o reconhecimento de que
Lula conseguiu arrastar Moro para a arena política, onde arengou como não se
espera de um juiz, afora o apoio da multidão que se deslocou para Curitiba.
Conhecidos
os vídeos da delação dos marqueteiros, vê-se que a decisão de Fachin mirou
além. Apesar de todos os tiques de uma “delação combinada”, as declarações do
casal são devastadoras para a presidente deposta e para Lula, novamente
apontado como “chefe”. Dilma é acusada
de ter-lhes repassado informações sobre o curso da Lava Jato e de ter
sugerido “embaraços à Justiça”, com a transferência dos recursos depositados na
Suíça para um país mais seguro. Fachin,
a pedido do procurador-geral Rodrigo Janot, enviou o conteúdo das delações dos
marqueteiros para Moro. E com isso, Dilma passa a correr um risco efetivo de
ter a prisão preventiva decretada, sob a alegação de obstrução á Justiça. Tal prisão careceria de fundamento, pois
ainda que ela tivesse tentado ajudar o casal a driblar a Lava Jato, hoje não
estaria em “continuidade delitiva”, como dizem eles, por não dispor mais de
qualquer poder. Mas com a Lava Jato, este seria apenas um detalhe, e o STF não
perderia o sono com mais um arranhão no devido processo legal e nas garantias
individuais. Quando a democracia começa
a ser relativizada, tudo pode acontecer.
Hoje, com os implicados na Lava Jato. Amanhã, com você, comigo, com qualquer
um.
Então,
entre os que contam no reino da Lava Jato, há um completo alinhamento vertical,
enquanto a mídia faz jorrar a torrente de informações temporalmente organizadas
para criar o clima necessário. Em
palestra na véspera do depoimento de Lula, Moro destacou os guardiões com que a
Lava Jato conta em cada instância superior.
Sim,
o tempo, tudo vem sendo temporalmente administrado. Antes do depoimento de
Lula, vieram as confissões de Leo Pinheiro e Renato Duque, nefastos para o
ex-presidente, embora eles não tenham apresentada qualquer prova do que
disseram. Agora, imediatamente depois,
as delações dos marqueteiros. E vem aí a delação do ex-ministro Pallocci. Depois de ter sido apontado por João Santana
e Monica como o homem que lhes garantia os pagamentos por caixa 2, eventualmente consultado o “chefe”, ele perdeu a esperança no pedido de Habeas
Corpus que tem no STF e, como disse seu advogado anterior, José Roberto Batochio, “rendeu-se à Guantánamo meridional”.
Enquanto
isso, o governo Temer vai cumprindo seu papel nesta marcha orquestrada, que é o
golpe maior, o que vai alcançar 2018 e o futuro. Apesar dos tantos ministros e
congressistas delatados, nada avançou em relação a seus processos, nem na PGR
nem no STF. Nenhum delator de outra empreiteira foi ouvido para complementar as
delações da Odebrecht em relação ao financiamento de outros partidos e
políticos, através do caixa dois e em
conexão com obras federais ou estaduais.
Enquanto
isso, Temer celebra seu primeiro ano no governo, apesar dos retrocessos e da
impopularidade superior a 90%. As
reformas regressivas avançam no Congresso, apesar da greve geral do dia 28 de
abril e da rejeição oceânica da sociedade. Temer sabe que seu equilíbrio no
cargo é precário. Lá estará enquanto
estiver entregando o serviço prometido – as reformas neoliberais, o desmonte de
politicas públicas progressistas, a entrega de ativos nacionais ao capital
estrangeiro, o ajuste fiscal que interessa ao mercado e daí para a frente. Caso
se torne inútil, sabe que poderá ser
facilmente descartado através da ação no TSE. O poderoso regime sem nome,
entretanto, prefere que o país vá capengando com Temer, enquanto eles preparam
o grande expurgo. O expurgo de Lula da disputa sucessória, pela dupla
condenação antes de junho do ano que vem, e a liquidação moral do PT e de todas
as forças que possam recordar a experiência do governo popular em que os pobres
foram incluídos no Orçamento da República, embora Lula não tenha tirado um
centavo das elites.
Não
nos iludamos, as coisas vão piorar. A Resistência conseguiu avanços, a exemplo
da greve geral e da manifestação pró-Lula em Curitiba, mas a situação vai exigir muito mais, em
organização da luta democrática e em novas formas de resistência.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/295421/O-jogo-endurece.htm
Um comentário:
A cúpula da nossa justiça se acovarda quando deveria zelar pelo cumprimento das leis.
E não é de hoje. Se acovardaram em diversos momentos da história, quando a constituição foi violada, inclusive na ditadura militar, quando ficaram em silêncio diante de todos os crimes cometidos pelo regime!
Entretanto, a questão que se coloca é entender se é covardia ou pior- conivência!!!!
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